Segurança e democracia são excludentes?

A desocupação da Reitoria da USP, levada a cabo na madrugada de terça-feira, 8/11, por enorme aparato da Polícia Militar, verdadeira “operação de guerra”, reitera e explicita o autoritarismo da gestão Rodas.

Pode-se não concordar com a ocupação da Reitoria por estudantes. Mas não se pode aceitar que os conflitos, dentro de uma universidade que deveria dar exemplo de democracia, sejam resolvidos sempre pela mão pesada da tropa de choque, quando não pela via opressiva dos processos criminais e das sindicâncias utilizadas para perseguir e sufocar as vozes dissonantes.

A Reitoria, o governo estadual e parte da mídia buscaram enquadrar os estudantes, em estereótipos: “delinquentes”, “vagabundos”, “filhinhos de papai”, “maconheiros”.

Daniel Garcia
Protesto dos estudantes após a desocupação da Reitoria, em 8/11

Reflexão

Desde 27 de outubro de 2011 muito se tem falado sobre a presença da Polícia Militar no campus do Butantã; pouco sobre segurança. Muito se tem falado sobre as ocupações do prédio da Administração da FFLCH e da Reitoria; pouco sobre as diferenças entre as duas ações.

A questão da segurança no campus não pode, simplesmente, ser reduzida a um plebiscito: sim ou não à presença da Polícia Militar. Ela merece uma reflexão mais profunda. Segurança e democracia são necessariamente excludentes? A Adusp acredita que não.

Diante da comoção causada pelo assassinato de um estudante no campus Butantã, em maio último, seria de se esperar que todos desejássemos medidas imediatas, capazes de impedir que novas tragédias viessem a ocorrer. A resposta dada pela Reitoria, de firmar o convênio que trouxe a PM cotidianamente para o campus, não é, a nosso ver, nem a melhor nem a única resposta às nossas necessidades de maior segurança.

Enquanto instituição de caráter educacional, a USP tem o dever de ser exemplar no que se refere à questão da segurança, entre outras tantas. A Guarda Universitária, assim como outros setores essenciais à Universidade, não deveria delegar parte de suas funções a funcionários terceirizados, como ocorre atualmente. Deveria, isto sim, ser ampliada, sempre por funcionários concursados, com forte vínculo com a instituição, integrantes da comunidade de cuja segurança estarão ocupados, preparados para lidar com a diversidade tão própria da Universidade.

Diálogo onde?

A Guarda Universitária deveria contar com um efetivo feminino, para lidar com casos específicos de violência contra a mulher. Deveria priorizar a prevenção e não a repressão. Se a Guarda deve ou não ser armada; em que circunstâncias a Polícia deve ser chamada a intervir — são aspectos importantes, que precisam ser debatidos cuidadosamente pela comunidade.

Meses depois do assassinato de Felipe Ramos de Paiva, a iluminação do campus em nada mudou! No entanto, a iluminação adequada de todo o campus é uma medida básica de segurança, assim como a melhoria do sistema de transporte interno, que à noite se torna precário. O aumento da frota dos ônibus circulares e da extensão do seu trajeto, para chegar à Estação Butantã do Metrô, deveria ser prioridade.

Nada disso ocorreu: nem as ações óbvias, nem o debate das questões sensíveis e complexas.

 

Informativo n° 337

EXPRESSO ADUSP


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