Mercado captura agenda da 3ª Conferência Mundial de Educação Superior, e sindicatos reagem: “Unesco, assim não!”
Professor Osvaldo Coggiola (Andes-SN)

 

Centenas de representantes de entidades sindicais de docentes e demais trabalhadores(as) universitários(as) de quase todos os países da América Latina — Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Equador, Peru, Chile, Colômbia, Venezuela, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, México —, bem como de Porto Rico e da Espanha, ou de entidades que reúnem pesquisadores(as), subscrevem manifesto encaminhado à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), por meio do qual apontam “preocupação pela agenda, conteúdo, processo e roteiro” da 3ª Conferência Mundial de Educação Superior (CMES), que se realizará entre quarta-feira e sexta-feira (18/5 e 20/5) em Barcelona.
 
Entre os signatários do documento estão os professores Osvaldo Coggiola (FFLCH-USP), 1º vice-presidente da Regional São Paulo do Andes-Sindicato Nacional dos Docentes nas Instituições de Ensino Superior, Bernardo Mançano Fernandes (Unesp) e Luis Enrique Aguilar (Unicamp), bem como Davi Lobão, membro da coordenação geral do Sinasefe-Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica.
 
Intitulado “Unesco, assim não!”, o manifesto aponta três questões fundamentais no processo de preparação da 3ª CMES e na própria realização do evento: a composição do comitê organizador, que privilegia o setor empresarial; a definição da agenda de debates, feita sem consulta ao movimento docente, a instituições públicas de ensino e outros setores; a não divulgação dos documentos que embasam o temário da conferência.
 
“A Unesco constituiu um comitê organizador da 3ª CMES que excluiu as organizações naturais do mundo acadêmico, estudantil e sindical”, ou seja: alijou as entidades representativas de docentes, estudantes e trabalhadores(as) universitários(as), “mas ao mesmo tempo realizou alianças com setores empresariais, grandes grupos, capital transnacional do setor de ensino, bancos de desenvolvimento e filantropia vinculada ao grande capital”, protestam os(as) signatários(as). 
 
“A agenda foi elaborada sem um processo de consulta amplo e participativo”, diz o manifesto. “Excluíram-se temas de especial importância, como o mundo do trabalho docente no século 21, bem como os processos de privatização, mercantilização e desterritorialização que assediam as universidades na pandemia de Covid-19. Os 10 pontos da agenda da 3ª CMES abrem perigosamente as portas da educação superior à lógica do mercado”.
 
No entender de quem assina o documento, “uma agenda construída à revelia da educação superior é uma ameaça ao pensamento crítico e à autonomia universitária em escala planetária”. Também se critica o anúncio da Unesco de que a 3ª CMES não terá uma declaração final, uma vez que a realização da conferência, “sem linhas claras de orientação estratégica, pode servir para legitimar políticas neoliberais”, que ameaçam se aprofundar na próxima década. “Esperamos que isto se corrija na própria 3ª CMES”.
 
Questiona-se o fato de que, faltando poucas horas para o início da CMES, ainda não haviam sido dados a conhecer os documentos que fundamentam cada um dos pontos da agenda, burlando-se assim o necessário debate prévio ao encontro de Barcelona. “Nos perguntamos: qual é o motivo de tanto segredo? Conferência Mundial sem documentos de trabalho?”, questiona o texto. A forma adotada para propor os temas da agenda, prossegue, “evidencia uma orientação de educação para satisfazer as demandas do mercado, algo que esperamos seja rejeitado durante as sessões da Conferência Mundial”.
 
De qualquer modo, os signatários consideram que “Barcelona 2022 não é um ponto de chegada, mas um ponto de partida da construção de resistências educativas solidárias, emancipadoras e de defesa da universidade pública”. E avisam: “Seguiremos trabalhando para fortalecer o tecido social que luta em favor do direito humano a uma educação pública universitária gratuita, científica, popular e emancipadora”.
 
Por fim, lançam um desafio: “Se a Unesco se entrega aos braços do capital transnacional que quer converter a educação em mercadoria, os(as) universitários(as) juntaremos nossas consciências para defender o futuro da educação pública universitária!!!”.
 

EXPRESSO ADUSP


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