Marcada para as 18 horas, a videoconferência organizada com apoio da Adusp e da Frente Luiz Hirata, de Piracicaba, visa promover reflexões e debates sobre o tema “Comida para que(m)? Alimentação, saúde e agricultura familiar”. Uma segunda atividade será realizada na quinta-feira 5/11

O Dia Mundial da Alimentação em 2020 marca os 75 anos do fim da 2ª Guerra Mundial e da criação da Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) como parte da Organização das Nações Unidas (ONU), representando uma vontade de união entre nações para alcance mundial de segurança alimentar e nutricional. O tema deste ano, com características excepcionais em razão da crise pandêmica de Covid-19, é “Cultivar, alimentar, preservar juntos: nossas ações são o futuro”.

A Adusp e a Frente Luiz Hirata de Defesa da Democracia apoiam a realização do evento virtual  “Comida para que(m)? Alimentação, saúde e agricultura familiar”, promovido pelo Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Piracicaba e pelo Grupo de Pesquisa em Agriculturas Emergentes e Alternativas (Agremal),  vinculado ao PPGI em Ecologia Aplicada da USP. O evento,  visando promover reflexões e debates sobre o tema do Dia Mundial da Alimentação, ocorrerá em dois dias: 3 e 5/11.

Nesta terça-feira (3/11) às 18h, o webinário  “Comer o quê? Pensar e agir sobre alimentação no Brasil atual” abordará especialmente o papel do Guia Alimentar Brasileiro. Este último foi  realizado a partir da cooperação técnica entre a Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN) do Ministério da Saúde, o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), representando uma orientação das mais pertinentes para promoção de uma alimentação adequada e saudável, o que constitui um direito assegurado na Constituição desde 2015.

O Guia Alimentar Brasileiro é uma ação de saúde pública que procura se contrapor ao considerável aumento, nos últimos anos, do consumo de produtos alimentares ultraprocessados pelos brasileiros e brasileiras. Os alimentos ultraprocessados são mais densos em energia, apresentando maior teor de açúcar livre, sódio, gorduras totais e saturadas, porém contendo menor teor de proteínas e fibras quando comparados àqueles in natura ou minimamente processados. As características dos alimentos ultraprocessados favorecem o consumo excessivo de energia, com sua frequente comercialização em grandes porções, sua hiperpalatabilidade, sua longa duração e facilidade de transporte, o que estimula hábitos de mordiscar entre refeições ou substituí-las por lanches.

Estes traços são potencializados em razão da pujante promoção de alimentos ultraprocessados por estratégias agressivas de marketing. Nestas circunstâncias, a equipe do Nupens-USP adverte que o aumento do consumo de produtos desta natureza constitui uma das principais causas da atual pandemia de obesidade e de doenças não transmissíveis.

Os estudos que fundamentaram a elaboração do Guia Alimentar Brasileiro apoiam-se no reconhecimento científico internacional de que há uma associação inequívoca do consumo de alimentos ultraprocessados com o aumento do risco de doenças crônicas de grande importância epidemiológica no Brasil e na maior parte dos países, como obesidade, diabetes ou doenças cardiovasculares.

Apesar disso, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, comandado por Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, emitiu a Nota Técnica 42/2020, que ataca as recomendações do Guia Alimentar Brasileiro de evitar o consumo de alimentos ultraprocessados.

Para lançar especialmente o debate sobre o papel desse guia para a população brasileira na perspectiva de promoção de uma adequada alimentação, a professora Patrícia Constante Jaime, da Faculdade de Saúde Pública da USP e vice-coordenadora científica do Nupens, e a nutricionista Márcia Juliana Cardoso, da Coordenadoria dos Programas de Alimentação e Nutrição (CPAN) Piracicaba apresentarão no primero webinário seus pontos de vista sobre a situação atual da alimentação no país e, mais especificamente, em Piracicaba.

Promoção da agricultura familiar será debatida na atividade de 5/11

No dia 5/11, também às 18h, ocorre o segundo  webinário, intitulado “Produção de alimentos saudáveis: agricultura familiar entre trunfos e bloqueios”. Nesta ocasião, o debate terá como ponto de partida a deliberação da Assembleia Geral da ONU de estabelecer os próximos anos como “a década da agricultura familiar”. Portanto, a promoção desta última é considerada estratégica para a consecução dos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS).

Não é a primeira vez que a ONU propõe um apoio desta natureza,  pois 2014 foi declarado  como Ano Internacional da Agricultura Familiar. O então diretor geral da FAO, José Graziano da Silva, justificava a adoção desta proposta pelo resgate  de um duplo potencial que a agricultura familiar representa, “de erradicação da fome e de conservação dos recursos naturais — elementos centrais do futuro sustentável que se impôs à agenda do século XXI”.

Nesta ótica, “a preservação dos recursos naturais está enraizada na lógica da agricultura familiar”, destacava este eminente professor da Unicamp. “Salvaguardar a biodiversidade, contribuir para a adoção de dietas mais saudáveis e equilibradas e preservar cultivos tradicionais descartados pela grande escala, constituem […] um acervo de sobrevivência secular”. Com este olhar, Graziano apontava  para o desempenho multifuncional dos agricultores familiares, tendo particularmente papel crucial nos circuitos locais de produção e comercialização e  indispensável à diversificação das economias regionais.

Neste segundo webinário, Luiz Carlos Beduschi Filho representará a FAO/ONU enquanto delegado para Políticas em Desenvolvimento Territorial junto ao seu Escritório Regional para América Latina e Caribe. Professor afastado da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP) desde 2016 para atuar na FAO/ONU em Santiago do Chile, Beduschi  abordará os potenciais desta nova forma de impulsionar o apoio à agricultura familiar. O professor da USP coordena a promoção da agenda de atividades da “Década das Nações Unidas para a Agricultura Familiar” no que se refere à América Latina.

Enquanto a FAO realiza uma ação de dimensão sem paralelos para o fomento da agricultura familiar, o governo Bolsonaro destrói os dispositivos que oferecem apoios consistentes à agricultura familiar, como é o caso do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que teve seu orçamento extremamente reduzido  nos últimos anos. Por outro lado, Bolsonaro vetou praticamente a integralidade da lei 14.048, aprovada na Câmara e no Senado, que previa auxílio emergencial aos agricultores familiares durante a pandemia. A lei permitiria especialmente  ao poder público comprar alimentos da agricultura familiar e doá-los para famílias em situação de vulnerabilidade nas periferias das grandes cidades.

As dificuldades dos agricultores familiares neste dramático quadro nacional, particularmente considerando o caso regional de Piracicaba, serão abordadas por Venceslau Donizete de Souza, presidente da Cooperativa a Agricultura Familiar e Agroecológica (Cooperacra). Este representante da agricultura familiar, que já ocupou a presidência dos conselhos municipais de segurança alimentar de Americana e de desenvolvimento rural de Nova Odessa, apresentará por outro lado as inúmeras iniciativas dos agricultores familiares locais para assegurar oferta de alimentos saudáveis.

Desta forma, considera o professor Paulo Moruzzi Marques, diretor regional da Adusp em Piracicaba e integrante da Frente Luiz Hirata, o evento “Comida para que(m)? Alimentação, saúde e agricultura familiar” promete ser “bastante instigante e proveitoso para animar reflexões e ações desejadas por ocasião do Dia Mundial da Alimentação”. Participe acessando o canal YouTube do Comsea Piracicaba: https://www.youtube.com/channel/UC8fQx1TcZjWr-bD1bloNm-A

EXPRESSO ADUSP


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