Principal restaurante público da USP, o bandejão central do campus do Butantã, localizado em meio ao conjunto residencial (Crusp), tem funcionado à base da exploração brutal da força de trabalho. Quem denuncia é o Sindicato dos Trabalhadores (Sintusp): “O bandejão está com vários problemas”, diz Claudionor Brandão, diretor do Sintusp. “O principal é a questão da falta da mão-de-obra, que tem várias consequências. O ritmo de trabalho é extenuante, sem tempo de intervalo para descanso, o que leva a maioria dos funcionários a adoecer”.

Brandão explica que há inúmeros casos de funcionários acometidos por lesões por esforço repetitivo, as chamadas LER-DORT: “Mais de 50% dos funcionários antigos sofrem de bursite ou tendinite”. Ele diz que parte dos trabalhadores estão trabalhando com restrições, ou seja: por orientação médica, não podem executar todas as tarefas. Num quadro de pessoal reduzido, cria-se um círculo vicioso.

“Aqueles que estão supostamente saudáveis são sobrecarregados enormemente. É uma linha de produção de inválidos ou semi-inválidos”. Ele exemplifica: só para servir a comida, os funcionários são obrigados a ficar em pé das 11 horas às 14 horas, com a concha na mão. Mas esta é apenas uma das múltiplas tarefas desenvolvidas no restaurante pelos trabalhadores.

Também no domingo

O diretor do Sintusp estima que existe “um déficit de 50 trabalhadores” quando considerados os cinco restaurantes da USP na capital: além do central, os que funcionam na Prefeitura do campus, Instituto de Física, Escola de Enfermagem e na Faculdade de Saúde Pública. O bandejão do Instituto de Química foi terceirizado e não será surpreendente se o sucateamento proposital da força de trabalho dos restaurantes vir a servir de justificativa para aumentar o índice de privatização.

A abertura do bandejão central também aos domingos (uma justa reivindicação dos estudantes), desde janeiro de 2008, agravou a situação, pois há poucas pessoas para se revezarem. Funcionários ouvidos no restaurante, que pediram para não ter os nomes publicados, informaram que estão trabalhando três domingos consecutivos, para folgar somente um. “Que o funcionário está escasso, está. Tem muita restrição”, declarou uma trabalhadora com mais de vinte anos de USP, ela própria com restrição médica e com suspeita de LER. “Tem muito serviço e pouco funcionário”, declarou outro trabalhador. “O quadro de domingo está pouquíssimo. Todo mundo está trabalhando bastante”.

Também segundo Brandão, há outro problema grave no restaurante central: o prédio tem um porão e o assoalho estaria cedendo, sendo escorado com pontaletes. A existência de muita umidade e de ratos no porão cria sérios riscos de contaminação e exige enorme cuidado com a higienização.

Coseas nega abusos

A professora Rosa Maria Godoy, titular da Coordenadoria de Assistência Social (Coseas), órgão da USP responsável pelos restaurantes, nega que haja sobrecarga de trabalho: “Na Coseas temos o hábito de discutir todas as questões do processo de trabalho com a comissão de representantes dos funcionários. Todas as normas trabalhistas são cumpridas rigidamente quanto à observância de jornadas de trabalho e horários de descanso. O número de trabalhadores é o indicado para a quantidade de refeições produzidas, bem maior do que a maioria dos restaurantes industriais que temos visitado nestes anos de gestão”.

De acordo com ela, “a abertura do restaurante aos domingos foi feita de acordo com um plano de ação e foi contratada a quantidade de trabalhadores indicada para o número de refeições a serem produzidas. A jornada de trabalho e as folgas estão absolutamente de acordo com a legislação trabalhista vigente”.

Quanto às condições físicas do prédio do restaurante central, a coordenadora afirma que, por ter mais de três décadas de funcionamento, ele freqüentemente é alvo de reformas e adequações. “Existe um projeto em andamento para a mudança do sistema de produção e distribuição de refeições para todo o campus do Butantã, o que implicará na construção de outra cozinha, reformas dos salões de distribuição e de outros restaurantes do campus. Regularmente a Coesf [Coordenadoria do Espaço Físico] faz inspeções quanto à segurança estrutural do restaurante. Ao menor sinal de perigo, com certeza, são e sempre serão tomadas providências cabíveis para sanar o problema”.

Para ela, “o funcionamento do restaurante central está absolutamente de acordo com a legislação sanitária vigente inclusive quanto à presença de animais. É sanitizado também periodicamente de acordo com a legislação vigente”.

 

Matéria publicada no Informativo nº 261

EXPRESSO ADUSP


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