Universidade
Escola de Engenharia de Lorena será campo de provas do Exército durante “Operação Perseu”, o que inclui exercícios militares, pernoite de veículos e até posto de comando; comunidade não foi consultada
A exemplo do que já havia ocorrido no ano passado, a Prefeitura do Campus de Lorena (PUSP-L) concedeu parte do território da Escola de Engenharia de Lorena (EEL-USP) para exercícios do Exército, novamente sem qualquer consulta à comunidade universitária, sem qualquer debate, e portanto sem nenhuma reflexão sobre o que essa “parceria” pode representar ou significar para a USP, no sexagésimo aniversário do golpe militar de 1964.
Nesta terça-feira, 12 de novembro, a Prefeitura do Campus comunicou por e-mail que a “Região do Vale do Paraíba está inserida na Operação Perseu do Comando Militar do Sudeste, que será realizada entre os dias 18 de novembro a 5 de dezembro de 2024”, e que “nos foi solicitado [sic] ajuda para que durante este exercício de instrução, nossa área fosse utilizada como base de apoio”.
Desta vez, até mesmo um posto de comando do Exército será instalado no interior da EEL: “Informamos a toda a comunidade que, durante este período (18 de novembro a 5 de dezembro), esta operação utilizará as proximidades do Campo de Futebol da Área I deste Campus”, prosseguiu a PUSP-L. “Não obstante [sic], a área de estacionamento será utilizada para a pernoite de veículos e maquinários, bem como a área não ocupada atrás do Anfiteatro, que receberá um posto de comando”.
Tal como ocorreu em setembro de 2023, a PUSP-L promete, no final de seu comunicado, o que não tem como garantir: “O exercício em questão em nada afetará as atividades acadêmicas deste Campus”.
No ano passado, a Diretoria da Adusp emitiu nota intitulada “EEL não é quartel! Merece repúdio a cessão do seu câmpus para treinamento do Exército”, na qual criticava a decisão da PUSP-L de atender a pedido do 2º Batalhão de Engenharia de Combate de Pindamonhangaba (“2º BE Cmb”).
Além de observar que o Exército dispõe, ou deveria dispor, de áreas próprias adequadas para realizar treinamentos militares, não cabendo “a outros órgãos públicos, muito menos às universidades públicas estaduais, resolver esse tipo de problema do ‘2º BE Cmb’, apelidado por sinal de ‘Batalhão Borba Gato’”, a nota mencionou o fato de que 47 pessoas ligadas à USP foram assassinadas durante a Ditadura Militar (1964-1985). A maior parte dessas pessoas morreu sob custódia do II Exército, hoje Comando Militar Sudeste.
O Informativo Adusp Online solicitou ao prefeito do câmpus de Lorena, professor Amilton Martins dos Santos, e à Reitoria da USP, esclarecimentos sobre o engajamento da EEL na “Operação Perseu”. Contudo, até o fechamento desta edição as questões encaminhadas pela reportagem não foram respondidas. Caso as respostas cheguem, esta matéria será devidamente atualizada.
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