“Educação é importante demais para ficar nas mãos só dos educadores”. Essa foi a perspectiva que o ex-ministro e atual presidente do recém-criado Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) da Presidência da República, Luiz Gushiken, defendeu durante um encontro com professores da USP, realizado em 21/8, no auditório USP Oficina.

O evento foi promovido pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), entidade privada, em conjunto com a Escola do Futuro da USP, sob o tema “Prospecção da qualidade de educação básica nas escolas públicas”, e contou com a presença de cerca de 20 pessoas.

A apresentação inicial foi feita por Gushiken, que expôs conclusões da mais recente pesquisa realizada pelo NAE sobre melhoria da educação básica no país. Com base em consultas pela internet e em dados recolhidos durante alguns encontros com pesquisadores, a pesquisa revelou que dentre vários problemas brasileiros a melhoria da educação básica desponta como prioridade na opinião dos consultados. Dentro do tema, a segunda parte do levantamento apontou como mais prioritários, pela ordem: formação inicial e continuada de professores; inclusão digital nas escolas públicas; gestão democrática nas escolas; e constituição de um movimento nacional pela educação.

“Preconceito”

Na esteira da busca por propostas “inovadoras, de ruptura”, Gushiken aludiu à Universidade Aberta, do MEC, projeto criado em 2005 para articular um sistema nacional de educação superior a distância. Para o ex-ministro, a falta de recursos para a construção de mais escolas e a mudança do perfil sócio-econômico dos estudantes provocada pela universalização do ensino fundamental criaram uma demanda por “uma nova qualidade de educação”.

O documento do NAE qualifica os cursos a distância, para estudantes ou capacitação de professores, como possivelmente “bons ou melhores” que os presenciais, além de proporcionarem “custo reduzido e formação em larga escala”. “Mas será que isso funciona? É isso que eu vim saber de vocês”, disse o ex-ministro, dando início ao debate.

O professor Manuel Marcos Maciel Formiga, vice-presidente da Abed, criticou o que considera “desperdício”, o nível de investimento na capacitação dos professores. A educação a distância, acrescentou Formiga, é vítima de “preconceito que existe exclusivamente no Brasil”, que teria origem no receio de cortes de emprego.

Alguns professores levantaram problemas enfrentados em relação ao aproveitamento da capacitação dos professores, independentes da questão “presencial versus a distância”. Um deles foi a instituição da avaliação federal como único parâmetro de qualidade, o que tolheria a liberdade das escolas de fazerem seus próprios projetos.

“Customização”

A atual estrutura das instâncias decisórias dentro das escolas também foi apontada como um elemento a repensar. “As relações de poder não permitem liberdade do professor para aplicar o que aprendeu na capacitação”, lamentou uma docente.

O debate foi sucedido por uma apresentação dos projetos da Escola do Futuro, intitulada “As virtualidades da educação à distância no Brasil” e conduzida por seu coordenador, e também presidente da Abed, professor Fredric Michael Litto. Ele destacou algumas vantagens de se aplicar as novas tecnologias à educação, exemplificando por meio do acervo virtual da Escola, com exercícios interativos e bancos de dados para os estudantes poderem optar autonomamente por seus percursos de aprendizagem.

“Customizar o ensino, isso é democracia”, disse o professor, para quem o ensino a distância é qualitativamente superior ao presencial, “porque é feito em equipe”.

Stella Piconez, docente da Faculdade de Educação, saiu decepcionada com a falta de encaminhamentos efetivos. “Eu vim com a expectativa de ver a apresentação de um projeto, mas saí com a mesma expectativa”, comentou a professora. “E sem saber o papel da Universidade no pacto; estamos aqui para contribuir, mas sem saber no quê.”

 

Matéria publicada no Informativo nº 220

EXPRESSO ADUSP


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