Nos dias 6 a 8/10 ocorreu em Brasília/DF o seminário “Educação e Tecnologia: [des]caminhos da Educação Superior a Distância”, organizado pelo Andes-SN e co-promovido pela Associação dos Docentes da UnB (Adunb). Participaram cerca de 100 professores de distintas universidades brasileiras. A idéia central do seminário, como seu próprio título já indica, foi discutir os caminhos ou, eventualmente, os descaminhos do Ensino a Distância (EaD) no país e suas implicações nas políticas públicas de educação.

Durante estes poucos, mas intensos, dias foi possível (re)começar a discussão de algumas questões como: 1) o perigo do EaD constituir-se em uma porta aberta para a comercialização de “pacotes educacionais”, tratados inclusive como mercadoria transfronteiriça; 2) o uso das tecnologias de informação e comunicação como instrumento auxiliar nas atividades didáticas presenciais versus a simples fobia ao “novo”; 3) a confusão entre educação e ensino, sendo a educação um processo que promove a formação ampla dos indivíduos, enquanto o ensino é apenas o veículo por meio do qual se busca aumentar a chance de transmissão do conhecimento já consagrado e de construção de novos saberes, a partir de evidências fundamentadas de que alguns conhecimentos reclamam revisão criteriosa.

As questões citadas desdobram-se em várias outras, a saber: 4) o que é “formação inicial” nos diferentes níveis da escolarização formal; 5) o conhecimento de algumas iniciativas de EaD com o propósito de proporcionar, de fato, o acesso a pessoas com dificuldades específicas e que já tenham formação inicial completa; 6) o questionamento da figura dos “tutores”: quem serão? Como serão vistos e a quem estarão substituindo?; 7) a problematização das condições que efetivamente estarão à disposição para as atividades didáticas, como bibliotecas e mesmo laboratórios, no caso das atividades relacionadas à experimentação e dos “estágios”, que são obrigatórios nos cursos de licenciatura.

Troca de experiências

Além disso, também foram trocadas diferentes experiências que ocorrem, ou ocorreram, em diversas instituições de ensino superior, incluindo a utilização de programas de EaD com a intenção de resolver o problema imediato de diplomar professores dos ensinos fundamental e médio, já em atividade há alguns anos, por uma suposta necessidade de que tais docentes precisassem ser diplomados, sob ameaça de perderem seus empregos.

Outras discussões focaram em modos eficientes de organização no sentido de incorporar estratégias que utilizam a internet para ampliar a comunicação de estudantes e professores. Some-se a isto a apreciação do texto da reforma universitária onde há um forte apelo para que se programe o EaD de forma a substituir o ensino presencial, especialmente em áreas sensíveis para a organização futura da Educação no país, como na formação de professores e na pós-graduação, mestrado e doutorado.

O fato de que os vários cursos de EaD propostos, ou já em andamento, estão majoritariamente relacionados com a pretensa formação de professores, em particular por meio do sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), em implantação, é altamente preocupante. Neste sentido, discutiu-se amplamente o papel da relação presencial, da troca de experiências pessoais, da discussão cara-a-cara e mesmo do enfrentamento conjunto de diferentes questões, dimensões estas que muito provavelmente estariam perdidas se o EaD fosse adotado, como política pública, na formação de profissionais, muito particularmente na formação de professores.

Um segundo seminário deverá acontecer em São Paulo, com data prevista para 8 a 10/12/2006.

 

Matéria publicada no Informativo nº 225

EXPRESSO ADUSP


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