Parece só mais uma das portas amarelas do Departamento de Música da ECA (CMU). Na porta semiaberta, um cartaz anuncia que se trata do Laboratório de Acústica Músical e Informática (LAMI), o espaço em que são desenvolvidas as disciplinas e pesquisas da área de Música Eletroacústica e Tecnologia Musical e que abriga um estúdio de gravação profissional. A entrada não é cerceada por ninguém, mas qualquer um que precise usar o estúdio do CMU terá de pagar.

O sítio do laboratório na Internet elenca as atividades realizadas: O LAMI, informa, foi criado “para dar suporte às pesquisas acadêmicas da área de música e acústica que impliquem na utilização de recursos tecnológicos, bem como para servir de espaço para criação musical eletroacústica”.

Além da pesquisa, “o LAMI serve como base para a realização das disciplinas de graduação e pós-graduação na área de tecnologia musical no Departamento de Música da ECA-USP, e oferece suporte para a realização de gravações e produções de um repertório musical que encontra pouco espaço na mídia e em estúdios comerciais”.

Contudo, a página eletrônica não menciona que tais gravações exigem contrapartida em dinheiro.

Guardado e mantido por um funcionário do CMU, esse estúdio foi criado por volta de 1997, pelo professor Marcos Lacerda, simultaneamente às disciplinas da área de Música Eletroacústica e Tecnologia Musical. Em 1998, o professor Fernando Iazzetta assumiu as disciplinas e a coordenação da área ao lado de Lacerda. Em entrevista ao Informativo Adusp, Iazzetta declarou que o estúdio “foi inteiramente montado sem o dinheiro da USP” e que parte da manutenção depende da “prestação de serviços”.

Iazzetta diz tratar-se de um estúdio profissional de gravação, de estrutura cara, e que foi criado para servir aos projetos de pesquisa na área de Sonologia. A montagem desse espaço profissional ocorreu, explica, por intermédio da apresentação de sucessivos projetos de pesquisa à Fapesp, os quais previam verbas para a gravação em estúdio, que foram carreadas pelo LAMI.

Projetos de gravação, um deles realizado para a Petrobrás, também teriam subsidiado a construção; o dinheiro foi intermediado pela Fundação USP (Fusp), entidade privada de “apoio”.

“Tabela de custo”

“Às vezes a gente presta serviços”, diz o professor. Segundo Iazzetta, esse “é um estúdio de pesquisa que serve eventualmente para prestação de serviços”. O que é obtido com a arrecadação, também mediada pela Fusp, “só dá para pagar a manutenção”. O professor explica que apenas quando há necessidade de um conserto ágil de equipamentos é que o estúdio aceita mais gravações; o espaço não está aberto ao uso indiscriminado.

Contando com uma “tabela de custo de hora”, o estúdio tem preços “bem abaixo dos de mercado”, diz o professor. Para a comunidade externa, a hora de gravação fica por cerca de R$ 70; para os estudantes do CMU, informa o funcionário do estúdio, os preços são mais baixos: R$ 30 a hora de edição; R$ 40 a hora de gravação. A prioridade de uso é dada “aos projetos que têm a ver com pesquisa ou com claro vínculo acadêmico”.

A cobrança de valores pelo uso do equipamento tem motivado reclamações de estudantes. Filipe Domingues Alberti, diretor do Centro Acadêmico Lupe Cotrim (CALC) e estudante do terceiro ano do CMU, explica que a existência do estúdio é quase desconhecida pela maioria dos alunos: “Não é uma discussão que contamina muito. Mas os que sabem que existe não concordam com o pagamento”. Ele relata que, “a portas fechadas”, as atividades do estúdio não são divulgadas, nem são convidados os alunos para acompanhar as gravações: “A gente, como aluno, não sabe o que tem naquele estúdio”.

Alberti afirma desconhecer as pesquisas a que o estúdio dá apoio e imagina que essas atividades sejam do corpo docente ou de grupos de pesquisa bastante específicos. “A gente pode classificar isso como utilização do espaço público de forma privada”, diz Alberti em nome do CALC.

 

Matéria publicada no Informativo nº 272

EXPRESSO ADUSP


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