Diretora ameaçou “intervenção policial”. Docentes submetem à Congregação proposta de debate sobre estrutura de poder na USP

Caso seja aprovada proposta da assembléia setorial de 30/6 dos professores do Instituto de Psicologia (IP), que será submetida à Congregação, a unidade suspenderá todas as suas atividades acadêmicas em 12/8, para que a comunidade possa realizar um debate sobre a estrutura de poder na USP e sobre os últimos acontecimentos no IP.

Durante a greve o instituto sediou, no dia 16/6, uma reunião de diretores de unidades da USP que aprovou um manifesto de apoio à reitora Suely Vilela. O texto defendia Suely das críticas que recebeu por haver convocado a tropa de choque da PM para reprimir os grevistas, atitude que gerou os graves incidentes de 9/6. A professora Emma Otta, diretora do IP, foi uma das signatárias do manifesto, o que provocou intensas críticas da comunidade.

Um documento assinado pelas três categorias questionou a atitude da professora Otta: “Nós, da comunidade IPUSP (funcionários, professores e alunos), vimos por meio deste manifestar nossa discordância a respeito da forma e conteúdo do manifesto de apoio à Reitora, divulgado pelos dirigentes das unidades da USP e endossado pela Diretora do IPUSP, no dia 16 de junho de 2009. Entendemos que o manifesto expressa contradição ao declarar respeito a valores democráticos e apoiar atitudes que os confrontam, cujo exem­plo máximo é a presença e a ação violenta da PM e da tropa de choque na USP”.

Ainda de acordo com o abaixo-assinado, os diretores de unidades tentaram, com o manifesto, “buscar justificativas para um ato injustificável”. Após convocar “os representantes das instâncias deliberativas e a diretoria do IPUSP para amplo debate e reflexão acerca do que significa representação”, concluía: “Defender a Universidade não significa defender a Reitora”.

A professora Marie Claire Sekkel, que integra o Conselho de Representantes da Adusp, declarou ao Informativo Adusp que o abaixo-assinado “partiu de uma iniciativa dos professores do instituto, que se sentiram naquele momento agredidos pela atitude da Diretora, e foi assinado por uma parte significativa da comunidade, não só de docentes mas de alunos e funcionários”.

“Ofendidos”

Além de endossar o abaixo-assinado, os alunos, reunidos em assembléia em 17/6, decidiram redigir uma “Carta à Diretora”, na qual se manifestam “contrariamente ao apoio dado por nossa diretora à Reitoria”, acrescentando que “o papel institucional que a diretora representa deveria avaliar com profunda consideração os interesses e posicionamento das três categorias que constituem o IP”. Na carta, os estudantes dizem-se, ainda, “desrespeitados e envergonhados” com o manifesto dos diretores: “consideramos que essa atitude está em consonância com a postura autoritária da Reitora, que não busca o diálogo para a tomada de decisão”.

O curto texto termina expressando insatisfação com as explicações dadas pessoalmente pela diretora, na própria assembléia: “Os alunos se sentiram ofendidos pelo caráter do esclarecimento dado (…) e convidam a senhora para uma conversa que visa a um efetivo esclarecimento”.

Em reunião da Congregação de 22/6, um grupo de estudantes foi convidado a entrar pela própria diretora Emma Otta, que leu a carta a ela dirigida e não fez qualquer comentário. “A reunião foi bastante tranqüila. Muitos professores saudaram a Congregação aberta, valorizando o diálogo”, relata a aluna Renata Conde, do centro acadêmico. A diretora precisou sair para um compromisso e a reunião continuou, sendo aprovada uma proposta de realizar, em agosto, sessão aberta da Congregação com o tema “eleições para Reitor”.

Reviravolta

Tudo parecia caminhar, portanto, para um equacionamento do conflito entre a direção e a comunidade. Mas na reunião seguinte da Congregação, em 29/6, ocorreu uma reviravolta. A diretora fez um duríssimo pronunciamento contra a carta dos estudantes e a Congregação cancelou a atividade aberta prevista para agosto.

“Não aceito esta carta e exijo retratação”, enfatizou a professora Otta. “Estou no IP há quarenta anos e nunca vi tamanho desrespeito a um diretor”, disse a diretora. “Dizem que estou devendo um efetivo esclarecimento. Tudo isso é inaceitável e ofensivo. A Diretora foi à reunião de 17/6/09 [refere-se à assembléia estudantil] e deu a explicação completa de sua decisão de assinar o documento de apoio dos Diretores à Reitora”. Mais adiante, explicitou sua posição: “Já dei a explicação completa. Já disse que assinaria a carta de novo. Já disse que acho um absurdo pedir a renúncia da Reitora”.

Contudo, o ponto mais contundente do pronunciamento da professora Otta é aquele em que ameaçou pedir auxílio à polícia: “Já disse que acho errado que os grevistas cuspam em seus colegas e os intimidem e ofendam. Digo agora que, se vierem aqui cuspir nos funcionários do IP, eu não vou ficar passiva e posso me ver na circunstância, dolorosa, de recorrer à justiça e solicitar uma ordem judicial de intervenção policial”. (Esta e outras passagens do discurso da diretora foram lidas na assembléia da Adusp de 30/6, provocando espanto.)

Sem resposta

Os estudantes não conseguem imaginar as razões da súbita mudança de atitude da diretora, nem entendem a referência ao ato de “cuspir” supostamente praticado por trabalhadores em greve. “No IP nunca aconteceu nada disso”, explica Renata Conde. O centro acadêmico solicitou, mas, até o fechamento desta edição, não conseguiu uma cópia da ata da reunião de 29/6 da Congregação.

O Informativo Adusp encaminhou à professora Otta perguntas sobre a crise no instituto. Indagou se, ao cogitar recorrer a uma intervenção policial, ela não temeu uma eventual repetição das violências cometidas pela PM no dia 9/6. Também solicitamos sua opinião a respeito do abaixo-assinado de docentes, funcionários e estudantes. Até o momento em que fechamos a edição não houve resposta.

 

Matéria publicada no Informativo nº 288

EXPRESSO ADUSP


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