1º debate da Adusp destaca terceirização e acesso
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Aspecto do debate realizado no IO, entre os professores Sawaya, Miraglia, Oliva, S. Penin e Corbani

Ampliação do acesso à universidade pública, terceirização e ensino à distância foram alguns dos temas discutidos no primeiro debate entre candidatos a reitor(a) promovido pela Adusp.

O evento, realizado em 24/9 no Instituto Oceanográfico (IO), contou com a participação dos professores Armando Corbani (IF), Francisco Miraglia (IME), Glaucius Oliva (IFSC), Sylvio Sawaya (FAU) e Sonia Penin (FE). Todos responderam inicialmente à pergunta “Por que você é candidato(a) a reitor(a)?”, e depois a questões ora do plenário, ora da mesa.

Sonia Penin justificou sua candidatura afirmando que “ao longo do tempo na universidade vamos assumindo vários lugares de gestão” e “neles temos a oportunidade de criar espaços cada vez mais democráticos”. Democratização e excelência de gestão, definiu ela, são os objetivos do grupo do qual emergiu sua candidatura.

Corbani, por sua vez, afirmou que sua atuação junto ao Conselho de Pós-Graduação permitiu-lhe “um olhar muito mais significativo para todas as unidades e não apenas para a unidade de origem”. O ponto fundamental que o levou a candidatar-se foi a possibilidade de ajudar a promover “um convívio mais harmônico”, disse, “tanto no ambiente interno como nas relações externas da universidade”.

Ao indicar a necessidade de planejamento como mote central de sua candidatura, Oliva relembrou a trajetória da Comissão de Planejamento da USP, que elaborou um plano de metas para os próximos 25 anos, a partir de consultas e discussões realizadas ao longo de dois anos. Seu programa foi construído a partir dessa experiência: “Não tem uma tradição de usar planejamento como ferramenta de gestão; basicamente o que existe na universidade são as diretrizes de gestão reitoral do reitor de plantão”, comentou.

“A estrutura da universidade precisa ser drasticamente democratizada”, afirmou Miraglia, para quem sua candidatura representa um coletivo de docentes da USP “que tem desejo de transformá-la”. O modelo de universidade que se almeja, explicou, parte de pressupostos como autonomia em relação a Estado e governo, a liberdade de pensamento e a manutenção do caráter público de suas atividades.

Sawaya relembrou sua trajetória como estudante na FAU, onde “aprendeu a ter percepção do processo político”, citou como ponto importante de sua carreira como docente a participação no processo de criação da USP Leste e afirmou que “é hora de fazer política nessa universidade e mudá-la”.

Em sua fala, ele dirigiu uma provocação a Oliva: “O debate entre candidatos é que vai mostrar as posições, mas ele [também] é muito rico para preparar o candidato para ser reitor. E isso está sendo muito interessante, a transição de propostas. O Glaucius reconheceu outro dia que eu criei a idéia de um sistema de comunicação digital, e ele ficou tão empolgado que está topando a idéia.”

O professor da FAU referia-se à proposta de criar um processo de consulta on line à comunidade universitária, também defendida por Oliva no debate realizado na FFLCH em 17/9, sob a argumentação de que “há uma maioria de docentes, servidores e estudantes muito interessados na universidade, mas que não se motivam a participar diretamente, seja de assembléias ou do movimento estudantil”. “Mas não por isso essas pessoas deveriam deixar de ser ouvidas”.

Terceirização

Ao responder a uma pergunta sobre como lidaria com a questão da terceirização dos serviços na universidade, Corbani afirmou que “não devemos fechar a porta aos serviços terceirizados de maneira definitiva”. Advertiu, porém, que a universidade precisa regular e fiscalizar adequadamente esse tipo de contratação.

Entendimento semelhante tem Oliva, para quem é preciso analisar a questão “caso a caso”. “Precisamos olhar a particularidade de cada situação, e não acharmos que palavras únicas são a resposta”, disse, rebatendo indiretamente as críticas ao processo de terceirização.

Sawaya disse ser possível contratar serviços especializados para finalidades bem determinadas, sem demitir funcionários próprios da USP e liberando-os para exercer suas tarefas de rotina.

Sonia Penin declarou que historicamente havia o entendimento de que a terceirização agilizaria a realização das atividades, mas “isso não ocorre”. Para ela, funcionários ligados diretamente à instituição e que se identifiquem com sua missão têm melhor qualidade de vida profissional.

Miraglia, por sua vez, defendeu a “reversão ou, pelo menos, a total parada do processo de terceirização”, uma vez que, na sua opinião, a universidade pública está contribuindo para a superexploração do trabalho.

Ensino à distância

Perguntado sobre se seria possível construir uma universidade como a USP caso seus docentes e pesquisadores tivessem sido formados por cursos à distância, Miraglia foi enfático em sua negativa: “A formação profissional exige contato humano, presencialidade”. Segundo ele, as novas tecnologias podem ser usadas pela universidade para fazer “programas culturais de alto nível voltados para a população em geral”, mas não para substituir a graduação.

Sawaya declarou-se favorável à Univesp como programa de financiamento do desenvolvimento do ensino à distância nas três estaduais paulistas, mas ponderou que “a USP só seria feita como ela foi feita”. De forma semelhante, Corbani afirmou que o que faz a USP é “seu ambiente e sua coletividade”, mas afirmou que o ensino à distância pode ser uma importante contribuição da universidade ao ensino de forma geral.

Sonia Penin defendeu que a USP pode, de forma experimental, dar o exemplo de como fazer ensino à distância com qualidade. “O limite da experiência é a qualidade”, disse ela.

Já Oliva frisou que o ensino à distância como está sendo proposto pela USP prevê 48% de carga horária presencial. “A separação entre presencial e à distância, no meu entendimento, tende a desaparecer”, afirmou. Segundo ele, os dois tipos de ensino enfrentam um mesmo desafio, que é a “falta de motivação” dos estudantes.

Expansão

Oliva defendeu que uma expansão do sistema de ensino superior paulista não deve passar necessariamente por uma expansão da USP. “Minha visão para a Universidade de São Paulo não é de uma universidade de massa. Nesse contexto do sistema de ensino superior brasileiro, a universidade exerce um papel de formação de líderes e multiplicadores que alimentam o sistema inteiro”, assinalou. “O sistema sim necessita de expansão, e possivelmente de expansão pública, mas não necessariamente dentro da USP”.

Sonia Penin rebateu: “Uma universidade com mais de 80 mil alunos já é de massa”. “Mas, de qualquer forma, é possível aumentarmos e ao mesmo tempo melhorarmos a qualidade”. Ela propôs a otimização de recursos humanos e físicos da universidade como forma de realizar essa expansão. Também frisou a importância de uma política de aumento de vagas nas universidades federais do Estado e sugeriu a ampliação, na esfera estadual, do ensino tecnológico, mais barato do que o modelo da USP.

“Me preocupa muito a elitização da USP”, disse Sawaya. O candidato observou que a USP poderia ter um sistema de seleção específico para alunos do ensino médio público, de forma a garantir certa porcentagem de acesso a esses estudantes.

Para Miraglia, o papel da USP é defender um aumento de verbas para a educação que permita a ampliação do sistema. “A USP vai poder resolver isso sozinha? É claro que não. Mas vai precisar ampliar e muito o ensino superior público”, disse. “Só existe um jeito: medir a aplicação da educação ativa em função do PIB. A proposta que está colocada é a USP como instituição defender que se chegue a 10% do PIB do estado de São Paulo”.

Corbani propõe um projeto de universidade “proativa, para que se atinjam níveis maiores dentro de um projeto estadual e nacional que possa caminhar nessa direção [da ampliação do acesso ao ensino superior]”. Segundo ele, “nos últimos 10 anos, no Estado de São Paulo, houve um aumento de quase 50% no número de vagas no ensino superior”. “Não é possível caminhar dentro da universidade com uma implementação muito maior de vagas porque essa expansão não foi acompanhada de uma quantidade de recursos suficiente”.

 

Matéria publicada no Informativo nº 294

EXPRESSO ADUSP


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