João Grandino Rodas assume a Reitoria da Universidade de São Paulo para o período que vai até o dia 25/01/2014, tendo sido fixada a posse para 25/01/2010.

Como temos repetido há décadas, o processo de escolha de reitor da USP é anacrônico, antidemocrático e fere a já frágil autonomia universitária.

Em função dos acontecimentos que abalaram a universidade no primeiro semestre deste ano e que culminaram com a invasão do campus pela Polícia Militar, chamada pela reitora, o processo sucessório deste ano adquiriu características inéditas. De um lado, o autoritarismo presente na estrutura de poder da universidade, bem como as propostas de democratização, que incluem a convocação de uma Estatuinte paritária, democrática e soberana, defendida pelo movimento docente, estudantil e dos funcionários, ganharam as páginas de jornais e revistas. De outro lado, a pauta de reivindicações desse movimento marcou forte presença tanto nos debates organizados pela Adusp, visando à Eleição Democrática para Reitor, quanto nos debates institucionais do processo sucessório estatutário.

Nesse cenário, vários dos candidatos a reitor, inclusive o próprio Rodas, incorporaram em suas propostas de gestão vários elementos da pauta do movimento, como a necessidade de democratizar a estrutura de poder da USP, estabelecer diálogo com as entidades, discutir a reforma da carreira docente, resolver a ação do gatilho, e outros.

Transformar essas promessas eleitorais em ações concretas de gestão administrativa, acadêmica e política é o mínimo que se pode esperar — e exigir — do novo reitor.

Sabemos que em gestões anteriores essa prática esteve longe de ser cumprida. Para exemplificar esse descompasso entre promessas de campanha e ações desenvolvidas, basta mencionar a expectativa que setores progressistas da universidade nutriam, quando da posse de Suely Vilela, e o desencanto que eles tiveram de manifestar ao longo de sua gestão.

Nas negociações que envolveram o movimento docente e a então reitora, podemos apontar algumas das razões que dificultaram o estabelecimento de uma convivência minimamente razoável: silêncio constrangedor face aos ataques desfechados por Serra contra a autonomia universitária no início de 2007; reforma da carreira docente aprovada no Conselho Universitário (Co) sem discussão adequada e sem justificativa acadêmica; protelação descabida da execução do pagamento da ação judicial referente aos gatilhos salariais de 1987; continuidade de oferta de cursos pagos com certificados emitidos pela universidade. Uma análise detalhada desses temas pode ser encontrada no número 45 da Revista Adusp.

Embora o novo reitor João Grandino Rodas, como dito acima, tenha mencionado em sua campanha algumas das bandeiras do movimento, várias de suas ações e manifestações em tempos recentes poderiam prenunciar tempos difíceis. Afinal, foi dele a propositura ao Co de autorizar o chamamento da PM ao campus do Butantã, e, em atitude similar, apelou à tropa de choque para encerrar protestos no interior da Faculdade de Direito, sob sua direção; foi ele um dos defensores da reforma da carreira docente na qualidade de membro da Comissão Especial de Reforma do Estatuto da USP, hoje extinta.

Acreditamos que o movimento articulado de docentes, estudantes e funcionários, pautado por um relacionamento que respeite as decisões tomadas por cada uma das entidades que o compõem, poderá levar o novo reitor a cumprir a intenção anunciada de pautar temas que constituem parte de nossas reivindicações e o estabelecimento de um diálogo inicial que possa ser politicamente produtivo. Vamos indicar dois exemplos de posicionamento do novo reitor que podem suscitar esse início de diálogo.

O primeiro está preso a um breve trecho de sua entrevista ao Jornal da USP (23 a 29/11), onde ele assim se manifesta: “Depois que o Crusp foi invadido e muitos alunos levados, em 1968, ao invés de se fazer a sua extensão normal, ele foi limitado e se derrubou um dos ‘esqueletos’. A Reitoria foi transferida para lá, com adaptações. (…) É o caminho de volta.” Bem, esse caminho já se iniciou com a transferência do gabinete e mais adiante de outros orgãos para o prédio da Antiga Reitoria. E os “esqueletos”? Serão transformados num reinício da “extensão normal” da moradia estudantil neste e em outros campi da USP?

O segundo está relacionado a uma fala do novo reitor em um debate sobre carreira docente, promovido pela Adusp em 19/2 deste ano, quando ele argumentou que a carreira docente atualmente oferece poucos atrativos inclusive porque os salários estariam “significativamente abaixo do mercado”. Bem, isso pode significar a intenção do novo reitor de valorizar os salários e discutir de fato amplamente a questão da carreira docente.

Percebemos assim que, mesmo sabendo que as reivindicações centrais do movimento — como é o caso da Estatuinte paritária, democrática e soberana — vão exigir muita luta, dialogar é preciso.

E agora, colegas?

 

Matéria publicada no Informativo n° 298

EXPRESSO ADUSP


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