Arraial da Greve, em alto astral, leva “chave da negociação” a Zago. Mas a Reitoria estava acéfala

 

Teve forró de primeira, conduzido por um trio com sanfona, zabumba e triângulo, que mandou ver o “Xote das Meninas” e outros clássicos de Gonzagão. Teve bolo, curau e quentão. Teve quadrilha animada. Teve até declamação de poesias. O Arraial da Greve foi um sucesso, mas, como se previa, o “noivo” se ausentou: não havia ninguém na Reitoria para receber a “Chave da Negociação” simbólica que os professores pretendiam entregar pessoalmente ao reitor, ou, ao menos, ao vice-reitor.

fotos: Daniel Garcia
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Os manifestantes fizeram duas tentativas, às 14h15 e às 15h15. Os seguranças da Reitoria informaram que nem o reitor, nem o vice-reitor, nem o chefe de gabinete se encontravam no prédio. Na primeira vez, nem mesmo as secretarias estavam lá. Na segunda vez, uma das secretárias do gabinete se dispôs a receber a “Chave”, mas o Comitê de Mobilização decidiu fazer uma entrega simulada no hall de entrada da Reitoria, com uma pequena manifestação, marcada pela palavra de ordem “Negocia, ou renuncia!” (assista ao vídeo).

Um dos poemas lidos no Arraial foi intitulado “Peleja da Greve”, elaborado pela Comissão de Mobilização, cujos versos ironizam a postura imperial do reitor: “Zero, zero, zero, zero/A USP não é seu império/Você também não é Nero/ Zero, zero, zero, zero/É só mais um mal poema/Coisa de ator bufão/que não soube entrar em cena”, ou “Não queira brincar de austero/Com zero de transparência/Nos deixe tomar ciência/dessas contas de mistério/zero, zero, zero, zero/é mantra em seu monastério”.

A professora Lisete Arelaro leu trechos da Carta a Zago, elaborada em resposta a mensagem enviada pelo reitor aos estudantes da USP. A carta foi exposta na íntegra em banners colocados no Arraial. “Não negociar é atitude do patronato do século 19”, protestou em seguida a professora Kimi Tomizaki.

Audiência com deputados

O professor Ciro Correia, presidente da Adusp, apontou o contraste entre a postura intransigente de Zago e a atitude mais aberta dos outros membros do Cruesp: “Na Unicamp, neste momento, a pedido da Reitoria, o reitor da Unicamp está conversando com a diretoria da Associação dos Docentes a Adunicamp”. Explicou que na véspera o Fórum das Seis voltou a ser recebido, na Assembleia Legislativa (Alesp), pelo colégio de líderes, reunindo-se também com o deputado Mauro Bragatto, presidente da Comissão de Finanças, Orçamento e Planejamento, com resultados animadores.

Bragatto declarou que considera absolutamente razoável a mudança do artigo 4º da LDO-2015, de modo a contemplar a expressão “[x%] do total do produto do ICMS”, o que evitaria perdas enormes que as universidades vêm sofrendo com subtrações praticadas pelo governo estadual ao calcular os repasses. Mas disse estranhar a contradição entre o comportamento da presidente do Cruesp, que defende publicamente a mudança, e o comportamento do reitor da USP, que se declara satisfeito com os repasses atuais de ICMS.

“Hoje à tarde haverá reunião entre o secretário do governo para assuntos estratégicos e a presidente do Cruesp, para discutir o assunto. É muito importante intensificar nossa presença na Alesp”, disse Ciro. Ele também informou que os líderes de quatro partidos daquela casa (PT, João Paulo Rillo; PSOL, Carlos Gianazzi; PCdoB, Leci Brandão; PDT, Olímpio Gomes) conseguiram agendar audiência com Zago, a realizar-se na próxima quinta-feira, 3/7, quando pedirão ao reitor a abertura das negociações com o Fórum das Seis.

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) compareceu ao Arraial para prestar solidariedade e apoio à “luta, resistência, garra” que caracterizam o movimento. “Achávamos que o Rodas era o pior reitor, com todo o seu autoritarismo. [Mas agora] Tem um que vai dar entrevista nas páginas amarelas da Veja. Que é autoexplicativa, porque você já está falando na linguagem do neoliberalismo”.
Valente também mencionou a promulgação do Plano Nacional de Educação (PNE). Não é verdade que contemple 10% do PIB para a educação, afirmou, “porque estão embutidos nele gastos com o setor privado: FIES, ProUni, creches conveniadas etc.” Assim, ele considera que no máximo 8% do PIB serão efetivamente destinados à educação pública.

O ato terminou com o convite ao reitor para que reconsidere sua posição de intransigência: “Sempre vale lembrar: nunca é tarde, nunca é demais” destacou Ciro na sua fala final. “A negociação é direito da categoria e obrigação do reitor, todos estão convidados a voltar na semana que vem para saber da resposta”, concluiu.

EXPRESSO ADUSP


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