Sexta-feira, 1º de julho, tomou posse a nova diretoria da Adusp. Abaixo, disponibilizamos um link para o álbum de fotos da Assembleia de posse e do jantar de confraternização, e a íntegra do discurso de posse da professora Heloísa Borsari, presidente da Adusp:

 

Discurso de Posse – 1º de julho de 2011

Caros colegas, alunos, funcionários, amigos, familiares e convidados,

Gosto muito de festa, como provavelmente a maioria de vocês, e por esse motivo, para que todos possamos aproveitar bem nosso jantar comemorativo, não pretendo me alongar. Começo apresentando a vocês os demais integrantes da nova diretoria que, junto comigo, assumem, a partir de hoje, a direção da entidade. São eles:

César Minto, Faculdade de Educação, 1º Vice- Presidente

Elisabetta Santoro, Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, 2ª Vice-Presidente, que estará de volta de seu pós doutoramento no início de agosto;

Carla Carvalho, Instituto de Ciências Biomédicas, 1ª Secretária, que não está presente por compromissos familiares;

Helder Garmes, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2º Secretário, que não está conosco hoje por está representando a Adusp em um evento do ANDES-SN;

Jessé Rebello de Souza Jr, Escola Politécnica, 1º Tesoureiro;

Marcelo Ventura Freire, Escola de Artes, Ciências e Humanidades, 2º Tesoureiro;

Fabiana Cristina Severi , Faculdade de Direito de RP , Diretora Regional de Ribeirão;

Demóstenes Ferreira da Silva Filho, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Diretor Regional de Piracicaba;

Sérgio Souto, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Diretor Regional de Pirassununga.

Não falarei aqui das bandeiras históricas de luta da Adusp. Certamente outros colegas poderiam fazê-lo bem melhor que eu. Não falarei também da importância da atuação da nossa entidade em questões de política nacional, na defesa da educação pública e, em especial, da Universidade.

Falarei hoje sobre nossas dificuldades e desafios.

Não foi fácil constituir a chapa que hoje toma posse. Durante várias semanas, vários colegas se mostravam dispostos a assumir alguns dos cargos de direção, mas ninguém se dispunha a encabeçar a chapa. Eu mesma não tinha planos de permanecer na diretoria. Ao longo do processo de discussão, acabei me dispondo a continuar na secretaria e recusei várias vezes a indicação para a presidência. A certa altura, acabei mudando de ideia e aqui estou. Mas durante várias semanas, mesmo após ter tomado essa decisão, acordava no meio da noite, pensando em por que, a essa altura da vida, eu havia aceitado uma incumbência dessa monta. Como vêm, não foi uma decisão fácil; tinha outros planos, que passavam pela intenção bastante consolidada – pensava eu – de me aposentar.

Desde então, me deixei tocar por essa questão. O que me fez mudar de ideia? Ao embarcar nessa reflexão, retomei minha trajetória de militância, que teve início no movimento docente. (E NESSE PONTO, MEUS FILHOS DIRIAM : SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA…) e eles têm razão, vem um pouco da minha história.

Entrei na USP em 1975, ainda sob a ditadura militar. Meu pai, militante do Partido Comunista Brasileiro, havia sido preso pelo DOI-CODI e OBAN, no início daquele ano. Felizmente, após quase 45 dias, foi solto e pôde responder ao processo em liberdade. Durante meu período de graduação, não fiz parte do movimento estudantil, temia que essa participação pudesse ser usada contra meu pai e, não tenho vergonha de admitir, temia por mim, também. Eram tempos muito duros. Acompanhava tudo, mas de longe.

Em 1979, a grande greve geral do funcionalismo me encontrou como aluna de pós graduação, fazendo mestrado em Matemática e, nesse momento, me integrei aos alunos de pós, em apoio à greve dos professores e funcionários por melhores salários: “70% mais 2000” ( não me lembro mais em que moeda) foi uma palavra de ordem da qual muitos aqui devem se recordar. As assembleias no auditório da FAU eram impressionantes, os embates entre os professores sobre os ditos “rumos do movimento”, intensos.

Em 1980, fui contratada pelo Departamento de Matemática, como auxiliar de ensino. Naquele tempo, ninguém cogitava de fazer doutorado direto, não havia concurso público de ingresso, nosso contrato era precário. Logo me associei à Adusp, dando início a uma militância no movimento docente, que já dura 31 anos. Participei de articulações como a Novadusp, me integrando, posteriormente, ao grupo Participação, desde sua fundação, em 1983. A discussão política, que sempre fez parte da minha vida desde menina, integrou-se a partir de então ao meu trabalho na Universidade. Discutíamos tudo: das diretas para presidente às políticas públicas para educação; da estrutura de poder autoritária da USP à questão salarial; das políticas departamentais para o ensino, pesquisa e extensão às condições precárias de contratação na USP. Nossa participação nos colegiados era intensa, buscando sempre a definição de políticas claras, transparentes, democráticas para contratações, afastamentos, atividades de pesquisa e extensão, avaliação.

Ao longo dos anos, esse envolvimento foi se tornando absolutamente vital, permeando o modo como desenvolvia meu trabalho no departamento e a maneira como me relacionava com os alunos, trazendo-me uma clareza cada vez maior acerca da importância da universidade pública e da necessidade de defendê-la.

Muita coisa mudou desde então.

Os anos 90 trazem consigo uma enorme dose de individualismo e apatia, a descrença na luta coletiva, nos sonhos de uma sociedade mais justa e igualitária. E a Universidade, é claro, não poderia ficar imune a esse estado de coisas: temos hoje um cotidiano de trabalho cada vez mais pesado; não ser “suficientemente produtivo” (segundo os critérios das instituições de fomento) vira sinônimo de incompetência; as aulas de graduação tornam-se uma grande carga; não há tempo para mais nada além de produzir e seguir produzindo e produzindo. As grandes discussões dão lugar à busca de financiamento para projetos de pesquisa; crescem o individualismo e a cobrança; os salários iniciais da carreira docente mostram-se insuficientes, obrigando os jovens colegas a um grande esforço para cumprir as exigências da CERT e buscar ascender rapidamente na carreira. A pressa e a sensação de estar sempre em dívida, atrasados em nossas inúmeras tarefas tomam conta de todos nós; o dia precisaria ter sabe-se lá quantas horas para darmos conta das agendas sempre lotadas.

São tempos muito duros.

Como não poderia deixar de ser, passamos a viver um período de pouquíssima participação, não só em atividades da Adusp mas também nos colegiados e reuniões de departamento. Com frequência, congregações só se reúnem em segunda ou terceira convocação, quando o quórum mínimo deixa de ser uma exigência.

Todo esse processo está deixando marcas, cada vez mais evidentes: a universidade de hoje não é mais a dos anos 80, quando ingressei como docente na USP. O tempo para refletir, para conviver com os colegas, para pensar as questões da universidade e do país inexiste no nosso cotidiano. Os projetos não são mais coletivos, são individualizados. Partilhamos nossas angústias e insatisfações, dificilmente nossos sonhos ou expectativas.

Levamos tempo para nos conscientizar da profundidade e extensão dessas mudanças. E, com o passar dos anos, a Adusp deixa de fazer parte do dia a dia dos colegas. A distância entre representantes e representados cresce, estabelecendo-se um fosso que, muitas vezes, nos parece intransponível.

E, finalmente, volto à questão que se impôs para mim nos últimos quarenta dias: por que, nesse clima tão adverso, mudar de planos e aceitar a candidatura à presidência da Adusp?

Não terei nunca uma resposta completa a essa pergunta, mas me arrisco a dizer, sem medo de errar, que sou uma pessoa melhor por ter tido a Adusp presente no meu cotidiano ao longo desses mais de 30 anos. Tenho, portanto, um compromisso de vida com essa entidade, que me orgulho de ter ajudado a construir. Continuo convicta de que, em torno da Adusp, podemos pensar uma Universidade melhor, não só para os que nela estudam e trabalham, mas principalmente para a imensa maioria da população que dela está excluída.

E é por isso que reafirmo hoje meu compromisso pessoal, que é também de toda a diretoria, de dedicar os próximos dois anos a um esforço no sentido de aproximar a Adusp dos novos docentes, para que nossa entidade siga viva e presente no cotidiano dos colegas .

A Adusp completa em outubro 35 anos de existência. Gosto de pensar – ou de sonhar, por que não? – que mais 35 virão, com colegas das próximas gerações assumindo a direção da entidade.

Antes de finalizar, quero agradecer muito especialmente a presença de vários ex-presidentes da Adusp, que muito nos honram com sua presença e com quem espero poder contar nesse resgate da entidade. Em especial, quero homenageá-los, na figura da professora Judith, que foi a primeira mulher, presidente da Adusp, no período de 1985 a 1987.

Quero também registrar meu agradecimento a todos os funcionários da Adusp, que nos ajudam com enorme dedicação, envolvimento e competência, a dar conta das inúmeras tarefas cotidianas da entidade.

Agradeço também, e muito especialmente, ao meu marido, Marco, pelo companheirismo e apoio incondicionais e a meus filhos, Ana e Ricardo, por compreenderem minhas ausências, que, certamente, serão um pouco mais frequentes nos próximos dois anos.

Muito obrigada pela presença e pelo carinho. Vamos à luta, mas antes, vamos à festa!

EXPRESSO ADUSP


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