Eleições Adusp
Nova Diretoria da Adusp toma posse valorizando diversidade e apontando horizonte de lutas contra ataques da Reitoria e dos governos
Em assembleia realizada de forma virtual nesta quarta-feira (30/6), tomou posse a nova Diretoria da Adusp para o biênio 2021-2023. A Diretoria é liderada pela professora Michele Schultz Ramos, docente da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. Michele observou que é a terceira mulher a exercer a presidência em 45 anos de história da Adusp, “o que me coloca um desafio maior de representar as mulheres neste espaço”.
Ressaltou também que a chapa eleita em maio é composta por uma maioria de mulheres e tem representantes de todos os campi. “Tenho muito orgulho desta gestão porque a própria chapa é representativa de um programa que abarca questões de gênero e raça, é bastante amplo e desafiador e foi construído coletivamente. Nossa intenção é dar consequência a todos os pontos lá contidos”, afirmou. Muitas das questões presentes no programa, por sinal, são lutas históricas que se mantêm há décadas nas propostas das gestões da entidade, como já salientou o professor João Zanetic (IF), ex-presidente da Adusp, citado por Michele na ocasião.
A nova presidenta da Adusp relembrou sua trajetória de envolvimento nas questões do movimento docente desde os seus primeiros tempos como professora da EACH, em 2007, quando vários setores da USP combatiam os decretos do então governador José Serra (PSDB) que atacavam a autonomia das universidades estaduais paulistas. “Eu ia para as assembleias e auditórios para aprender. A Adusp é um espaço de muito aprendizado para mim. É um espaço em que encontrei muitas respostas para os meus desconfortos cotidianos dentro da universidade”, relatou.
Michele agradeceu ao professor Rodrigo Ricupero, que encerrou seu segundo mandato consecutivo à frente da entidade (2017-2019 e 2019-2021). Vice-presidenta em ambas as gestões, a professora ressaltou que participou, ao lado de Ricupero, de um processo que representou uma transição geracional na entidade e que agora avança ainda mais.
Na sua avaliação, a Adusp é uma entidade muito respeitada em todos os fóruns de que participa, condição conquistada pelas pessoas que compuseram a Diretoria ao longo da história do sindicato. “Temos o desafio de manter essa respeitabilidade”, disse, agradecendo aos professores e professoras da chamada “velha guarda”, com quem espera continuar contando no trabalho cotidiano.
Entre os desafios no horizonte está o de resistir mais fortemente ao projeto privatista neoliberal que as reitorias das universidades estaduais buscam implementar em conjunto com o governo do Estado, e que está avançando rapidamente. Também preocupam questões como as ações de estímulo à implementação de modalidades de Ensino a Distância (EaD), potencializadas pela pandemia; o discurso e as medidas favoráveis à figura do “professor empreendedor”; os ataques a unidades que prestam serviços à comunidade, como o Hospital Universitário (HU), as Creches e outras.
Michele expressou expressou ainda agradecimento a funcionários e funcionárias da Adusp, que qualificou como “extremamente dedicados à entidade” e responsáveis por um “esforço cotidiano para que a entidade funcione”.
“Docentes tratados a pão e água”
No balanço de suas gestões à frente da Diretoria da Adusp, o professor Rodrigo Ricupero avaliou que o período foi bastante difícil por conta de ataques generalizados dos governos estadual e federal e, no plano interno, de “uma Reitoria que não deu trégua, fazendo ataques o tempo todo no varejo e no atacado”.
Ricupero citou o ex-reitor M. A. Zago [2014-2017], “de triste memória”, que durante sua gestão afirmou que o ex-reitor João Grandino Rodas [2010-2013] havia tratado os docentes da USP “a pão e água”. “Eu disse ao [atual reitor] Vahan Agopyan que o Zago tinha tirado o pão. E, se pudesse, diria agora ao Vahan que ele tirou a água”, afirmou. “Estamos vivendo um processo muito destrutivo e a Adusp tentou se colocar, ao lado de outros setores, para na medida do possível resistir a esses ataques todos.”
Relatou que suas gestões fizeram um esforço para chegar a lugares aos quais a Adusp não estava chegando e que o plano era atuar fortemente no interior. Algumas reuniões de Diretoria chegaram a ser realizadas em Ribeirão Preto e Piracicaba, mas a pandemia acabou não permitindo maior avanço nessa proposta.
Uma realização importante do período foi a ampliação no número de unidades presentes no Conselho de Representantes (CR) da Adusp, que saltou de 16 para 35.
Na sua avaliação, “estamos vivendo na universidade o começo de um processo de resistência muito grande”, no qual “a insatisfação generalizada e engolida por todo mundo vai vir à tona”. Ricupero ressaltou o trabalho da professora Michele na vice-presidência. “Acho que fizemos uma grande dupla, em particular nestes últimos dois anos. A Michele carregou muitos pianos, como a luta pelo Hospital Universitário (HU) e outras tarefas difíceis”, disse. Agradeceu ainda aos funcionários e funcionárias da Adusp e também aos professores e professoras que colaboraram nas tarefas e ações da Diretoria.
“Manter a resistência valeu muito a pena”
Outros integrantes da nova Diretoria também se manifestaram na assembleia de posse. O professor Celso Eduardo Lins de Oliveira, 2º vice-presidente, ressaltou a necessidade de que a USP adote uma visão mais voltada para a diversidade. “Temos a oportunidade de repercutir em todos os campi um pensamento progressista e conduzir a um caminho que não seja produtivista, elitista e machista; um caminho que a universidade tem que discutir e colocar em prática.”
A professora Vanessa Martins do Monte, 1ª secretária, apontou que o processo de construção coletiva do programa da chapa lhe trouxe “grande alegria, esperança e outros sentimentos que são necessários para a luta”.
A 1ª vice-presidenta, professora Annie Schmaltz Hsiou, agradeceu a Ricupero pelo trabalho “para expandir a atuação da Adusp no interior” e por sempre ter atuado de “uma forma mediadora, polida e conseguindo manter a calma mesmo nos momentos difíceis”. De acordo com Annie, “há muitos desafios no trabalho de base para formar novas pessoas que compreendam o papel da Adusp”.
No cenário atual, com fatores como “a fuga de cérebros, as exonerações, a não reposição, a falta de valorização da carreira e um universo que nos oprime, de produtivismo, dentro do mote ‘a USP não para’”, definiu, “as pessoas não estão bem e a Diretoria teve a sensibilidade de ver isso e de conseguir se aproximar para que mais pessoas se somassem e de alguma forma pudessem concretizar essa transição”.
A professora também salientou a marca do trabalho coletivo que caracterizou a montagem da chapa. “O que nos uniu foi a preocupação com o momento muito difícil que a universidade está passando, em que mais gente agora percebe as consequências do que vem ocorrendo nos últimos anos”, apontou.
O professor Eliel Orenha, diretor regional de Bauru, testemunhou que a Adusp é um lugar “em que a gente carrega as baterias e tem um grande aprendizado”. “Eu me senti bastante acolhido e gostaria que outros professores também sentissem esse acolhimento, recarregar as baterias, estimular a esperança e manter a resistência”, disse.
A professora Lucilia Borsari, docente do Instituto de Matemática e Estatística (IME), assumindo-se como representante da “velha guarda”, relatou que, ao longo das quase três décadas em que acompanha a vida da Adusp, houve períodos muito difíceis, com pouca participação da categoria e até um sentimento de isolamento das direções do Sindicato. Mesmo assim, sempre se manteve a resistência e novas chapas foram montadas para dar sequência ao trabalho da entidade.
“Vendo esse processo, dá uma sensação muito boa de que manter a resistência e essa chama acesa valeu muito a pena. Foi um privilégio acompanhar essas gestões que representam essa transição entre nós, que somos a ‘velha guarda’, e vocês, que vão dar continuidade ao trabalho”, disse, ressaltando que a Adusp entrou em sua vida porque era um ambiente em que se encontrava solidariedade, “e isso nas nossas unidades é cada vez mais difícil”.
“Vocês se referem à ‘velha guarda’ como um grupo com o qual aprenderam muito, mas não têm a dimensão de quanto nós aprendemos com vocês, e isso é uma coisa que me deu muita satisfação nestes últimos anos. Quero registrar minha admiração por essa geração que vive uma fase terrível na universidade, em que o produtivismo impera e em que o trabalho vai se desvirtuando, e na qual vocês são capazes de tocar o Sindicato e fazer tudo o que fazem com esse nível de pressão que sofrem”, afirmou.
Numa manifestação emocionada, Rogério Yamamoto, funcionário da Adusp, lembrou que começou a trabalhar na entidade com pouco mais de 20 anos de idade e que em mais de duas décadas vem tendo o privilégio de aprender muito com “diretorias e pessoas excepcionais”. “A Adusp é uma entidade que batalha por uma universidade e uma sociedade melhores”, definiu.
“Canalizar a indignação para a luta”
Paulo César Centoducatte, diretor da Associação dos Docentes da Unicamp (Adunimcap) e coordenador do Fórum das Seis, saudou o trabalho da gestão recém-encerrada e expressou sua confiança de que a nova Diretoria seguirá envolvida nas demandas que envolvem as universidades estaduais paulistas. “Temos muita luta pela frente e a gente sabe que pode contar com a Adusp”, afirmou.
João da Costa Chaves Junior, presidente da Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp), enfatizou que sempre houve solidariedade e generosidade entre os sindicatos de docentes e servidores técnico-administrativos das três universidades estaduais, o que permitiu avançar em vários casos e também resistir a muitos retrocessos.
No encerramento da assembleia, a nova presidenta garantiu que está “com bastante ‘gás’ para conseguir lutar contra todas as arbitrariedades colocadas” e que tem tentado canalizar toda a sua indignação para essa luta.
“Temos muita coisa para combater nesse período difícil, e tomara que a bolha de fato estoure e que todos os ‘sapos’ que estão sendo engolidos sejam regurgitados nesta gestão”, afirmou.
Confira a seguir a composição da nova Diretoria
Presidenta – Michele Schultz Ramos (EACH); 1ª vice-presidenta – Annie Schmaltz Hsiou (FFCLRP); 2º vice-presidente – Celso Eduardo Lins de Oliveira (FZEA); 1ª secretária – Vanessa Martins do Monte (FFLCH); 2º secretário – Robert Sean Purdy (FFLCH); 1º tesoureiro – Hélder Garmes (FFLCH); 2ª tesoureira – Adalgiza Fornaro (IAG).
Diretorias regionais: Bauru – Eliel Soares Orenha (FOB); Lorena – Gabrielle Weber Martins (EEL); Piracicaba – Paulo Eduardo Moruzzi Marques (Esalq); Pirassununga – Ana Carolina de Souza Silva (FZEA); Ribeirão Preto – Patrícia Ferreira Monticelli (FFCLRP); São Carlos – Marcelo Zaiat (EESC).
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