O historiador João José Reis da UFBA, recém ganhador do prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, enviou recentemente carta para o Conselho Universitário da USP defendendo a adoção de cotas raciais na universidade.

Prezados membros do Conselho Universitário da USP, entendo que dentro de alguns dias o Conselho Universitário da Universidade de São Paulo decidirá sua política de ingresso através de cotas raciais e sociais. Este é um passo importante na direção de corrigir desigualdades que se acumularam historicamente em nosso país, vitimando especialmente a população afro-descendente. As chamadas políticas universalistas obviamente não são suficientes para corrigir e estabelecer o que, no fundo, constitui um direito de todo cidadão a uma educação qualificada, gratuita e pública. Dezenas de outras universidades públicas, por todo o Brasil, inclusive no Estado de São Paulo, já adotaram ações afirmativas do gênero. Gostaria por esta razão de, respeitosamente, endossar as palavras da professora Márcia Lima, do Departamento de Sociologia da USP, quando escreve em carta que fez circular por todo o Brasil e chegou até minha atenção:

"Defende-se aqui que a USP precisa mudar suas formas de inclusão étnico-racial e tornar mais efetivas suas políticas de ações afirmativas em todos os cursos de graduação da Universidade de São Paulo. Somente desta forma a universidade atingirá as metas institucionais estabelecidas para alunos egressos de escolas públicas, alunos autodeclarados pretos, pardos e indígenas e pessoas com deficiência.

Tendo em vista o disposto no artigo 61 do Estatuto da Universidade, é fundamental que o Conselho Universitário da USP, no próximo dia 4 de julho, assuma o compromisso com a adoção de cotas étnico-raciais e sociais em todos os cursos e turnos da universidade. E que esta decisão seja tomada por toda a universidade. […] A Universidade de São Paulo é mantida com recursos públicos e precisa atender e prestar contas à sociedade."

Perdoem-me a intromissão em assuntos alheios à instituição na qual sirvo, mas este é um problema que extrapola os limites de uma filiação institucional específica, mas que diz respeito a todos os brasileiros, até pelo peso acadêmico da Universidade de São Paulo, onde jovens brasileiros de todas as regiões do país buscam sua formação.

Atenciosamente,

João José Reis
Professor Titular de História
Universidade Federal da Bahia

 

EXPRESSO ADUSP


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