“A Congregação tirou a conclusão de que não considera o Pimesp uma política de inclusão, portanto o rejeita, e vai passar a discutir verdadeiras políticas de inclusão”. Assim a professora Maria Helena Machado, do Departamento de História, comentou a avaliação da Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) sobre o programa do governo estadual, ao intervir no debate “Pimesp: Programa de Inclusão com Mérito do Estado de São Paulo – O que é? A quem serve?”, realizado em 21/3, no auditório da Geografia.

O professor Vagner da Silva, chefe do Departamento de Antropologia da FFLCH, faz outra leitura: “A Congregação se colocou contra, mas [ao mesmo tempo] não contra o Pimesp. O que se colocou na reunião foi que o programa deveria ser discutido, mas separando duas coisas. Uma coisa é a proposta de uma universidade virtual para a qual existiria um público específico, e outra é discutir políticas de inserção [étnico-racial e social nas universidades públicas de São Paulo]”. De qualquer modo, aparentemente a Congregação fez uma discussão inicial, mas ainda não deliberou sobre o assunto.

O debate aberto de 21/3 foi organizado pela Frente Pró-Cotas Raciais da USP, Diretório Central dos Estaduantes Alexandre Vannucchi Leme (DCE-Livre), Associação dos Pós-Graduandos (APG), Núcleo da Consciência Negra (NCN) e os centros acadêmicos da FFLCH. Além de Maria Helena e Vagner Silva, compuseram a mesa o professor aposentado João Zanetic (Instituto de Física), representando a Adusp; a funcionária da universidade e fundadora do NCN Jupiara Castro, e uma representante da ong Educafro. Maria Fernanda Pinto, presidente da APG, mediou o debate.

Minuta

O auditório com capacidade máxima para 162 pessoas, acomodadas nas poltronas, teve de dar lugar a mais estudantes, que assistiram às exposições sentados no chão. Zanetic criticou o Instituto Comunitário de Ensino Superior (ICES), previsto no Pimesp como um curso semi-presencial à distância, oferecido durante dois anos para os estudante que tiverem interesse em ingressar nas universidades estaduais paulistas (USP, Unesp e Unicamp). “[O ICES] significa o próprio governo estadual reconhecendo a falência do ensino médio público”, disse o professor. Depois, citou o artigo 254 da Constituição Estadual, que relaciona a autonomia da universidade à  “necessária democratização do ensino e à respon­sa­bi­li­da­de pública da instituição”.

Zanetic recomendou ainda a leitura do documento “Pimesp: ensino à distância travestido de política de cotas?”, elaborado pela diretoria da Adusp e disponível no site da associação por meio do link http://goo.gl/8XZ2z.

Jupiara mencionou a criação do NCN, em 1987, como uma ação vanguardista para a discussão da necessidade de cotas raciais para o ingresso de negros nas universidades públicas. “Naquela época, só tínhamos cinco docentes negros na universidade”, ressaltou. “Hoje, o que nós estamos propondo é uma troca de experiências. Nós não temos que ter medo de experimentar essa mistura que vai contribuir para a melhoria da universidade”.

Pingos nos is.

A reunião da Congregação ocorreu no mesmo dia do debate e contou com a participação de Carlos Vogt, assessor do governador Geraldo Alckmin, coordenador geral da Univesp e principal articulador do Pimesp no Palácio dos Bandeirantes.

A professora Maria Helena demonstrou incômodo com a quantidade de versões do Pimesp já  apre­sen­tadas até o momento. Na quinta e última versão (confira em http://goo.gl/M3d7X), Vogt se apresenta como autor do projeto. “O ICES do Pimesp não está mais prometendo a inclusão. O que ele está prometendo agora? Realizar um ensino superior semi-profissionalizante, semi-presencial para formação de mão-de-obra”, afirmou Maria Helena.

Como pesquisador nas áreas das populações afro-brasileiras, o professor Silva fez uma exposição sobre a formação da condição social dos negros na sociedade brasileira atual. Segundo ele, havia várias comunidades negras de classe média no Brasil do século 19. “Mas para onde foram essas comunidades nos séculos seguintes?”, perguntou aos presentes, antes de explicar que “essas famílias foram perdendo o poder acumulado nas gerações anteriores exatamente por causa dos processos discriminatórios”. “Então as políticas afirmativas são feitas para garantir o acesso aos direitos dos negros, pardos e indígenas, que são os discriminados, e também para garantir que suas gerações futuras irão se beneficiar desse acúmulo. Por isso, essas políticas são também provisórias, enquanto esse processo for necessário”. 

Informativo nº 360

EXPRESSO ADUSP


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