Conjuntura Política
Sindicatos e movimentos sociais entregam a representantes da Unesco manifesto contra conversão da educação em mercadoria
Representantes de sindicatos e movimentos sociais entregaram a autoridades da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o manifesto “Unesco, assim não!”, no qual apontam “preocupação pela agenda, conteúdo, processo e roteiro” da 3ª Conferência Mundial de Educação Superior (CMES), que se realizou em Barcelona entre a última quarta-feira (18/5) e esta sexta-feira (20/5).
Foto: Andes-SN
Uma das preocupações centrais expressas pela(o)s signatária(o)s do documento foi a composição de um comitê organizador que privilegiu o setor privado. “A Unesco constituiu um comitê organizador da 3ª CMES que excluiu as organizações naturais do mundo acadêmico, estudantil e sindical”, ou seja: alijou as entidades representativas de docentes, estudantes e trabalhadora(e)s universitária(o)s, “mas ao mesmo tempo realizou alianças com setores empresariais, grandes grupos, capital transnacional do setor de ensino, bancos de desenvolvimento e filantropia vinculada ao grande capital”, diz o documento.
“Se a Unesco se entrega aos braços do capital transnacional que quer converter a educação em mercadoria, a(o)s universitária(o)s juntaremos nossas consciências para defender o futuro da educação pública universitária!!!”, concluem as entidades.
Embora inicialmente não houvesse espaço previsto para a manifestação dos movimentos no programa oficial, seus representantes conquistaram oportunidades para fazer sua voz ser ouvida dentro e fora do plenário, bem como na imprensa local, testemunha o professor Osvaldo Coggiola (FFLCH-USP), 1º vice-presidente da Regional São Paulo do Sindicato Nacional dos Docentes nas Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), que participou da 3a CMES.
Coggiola foi um dos oradores no ato convocado por sindicatos e movimentos durante a realização da conferência. Uma barreira policial impediu os manifestantes de chegar ao local do evento.
Noutro momento, ao lado de Luis Bonilla, diretor do portal Otras Voces en Educación, nascido a partir do Observatório Internacional de Reformas Educativas e Políticas Docentes, o representante do Andes-SN entregou o manifesto das entidades a Peter Wells, diretor de Educação Superior da Unesco, e Paz Portales, subsecretária de Educação Superior da organização.
Setor privado da educação brasileira marca presença na conferência
A 3a CMES abordou dez grandes temas, como o impacto da Covid-19 na educação superior, governança e financiamento do ensino superior e cooperação internacional para “melhorar as sinergias” no setor.
Entre a(o)s participantes brasileira(o)s havia vária(o)s representantes do setor privado, confirmando as tendências apontadas pelos movimentos sociais e sindicatos. Celso Niskier, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), integrou a delegação oficial do país, chefiada por Wagner Vilas Boas de Souza, secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC). A delegação oficial foi composta ainda por Michelle Muniz, chefe de Divisão da Assessoria Internacional do MEC, e pelo reitor-interventor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cândido Albuquerque.
Albuquerque, por sinal, acaba de participar de mais um episódio de censura e ataque à democracia: a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura, cujo presidente foi indicado pelo reitor-interventor, afastou o professor Nonato Lima da direção da Rádio Universitária FM, da qual é mantenedora.
“Houve tentativas de censurar o jornalismo praticado com responsabilidade social e autonomia há 26 anos pelo professor e até mesmo a veiculação de músicas com ritmos de matriz africana”, diz nota publicada pela Associação dos Docentes da UFC.
Também estiveram na conferência de Barcelona as presidentas do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp, que tem abrangência nacional), Lúcia Teixeira, e do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), Lia Quintana.
Outros representantes do país entre os mais de 3 mil participantes da 3a CMES foram Ricardo Fonseca, reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes); Sandra Goulart, reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e Bruna Brelaz, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Por sua vez, Coggiola relata que era o único docente das universidades estaduais paulistas presente no evento.
Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!
Mais Lidas
- Atendimento prestado pelo HU “não tem sido mais o mesmo e, infelizmente, a população tem sentido diretamente o impacto das mudanças”, reconhece superintendente do hospital em ofício à Secretaria Estadual da Saúde
- PRIP registra boletim de ocorrência e abre apuração preliminar contra estudantes depois de novas tentativas de instalar portões no Crusp
- Frente à resistência do corpo de servidores(as) e de seu sindicato, IBGE e governo federal recuam e suspendem a criação de “fundação de apoio”
- Fundação IBGE cria sua própria “fundação de apoio público-privada”, para captar recursos de outros entes estatais por serviços prestados. Sindicato vê riscos de privatização e perda de autonomia
- Cresce número de mortes por dengue, mas governo estadual não toma medidas para reativar laboratórios de pesquisa da doença, denuncia APqC