Em poucos dias, abaixo-assinados online recebem milhares de assinaturas de estudantes, docentes e funcionários

No âmbito da USP, os primeiros passos para uma campanha em favor do impeachment de Jair Bolsonaro, por sua conduta criminosa no tocante à Covid-19, foram dados nos últimos dias em três unidades de ensino. Na Escola Politécnica (EP), na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), de Piracicaba, e na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) foram organizados abaixo-assinados com essa finalidade que estão recebendo ampla adesão de estudantes, docentes e funcionários.

O abaixo-assinado da Poli, intitulado “Politécnicas e politécnicos da USP pelo impedimento Presidente da República”, já recebeu mais de 2.200 assinaturas. O da Esalq, intitulado “Esalqueanas e esalqueanos pelo impedimento do Presidente da República” e igualmente lançado nesta segunda-feira (25/1), já colheu 269 assinaturas. Ambos os documentos foram elaborados a partir de um texto comum, o que sugere cooperação entre os organizadores das comunidades, as duas pertencentes à área das engenharias.

“São mais de 215 mil mortos. Quase 70 milhões de brasileiras e brasileiros — que escaparam da fome graças ao auxílio emergencial aprovado pelo Congresso a despeito da oposição inicial do governo — estão agora em situação desesperadora. É imprescindível que o suporte financeiro a essas famílias se mantenha para permitir o isolamento social necessário à redução da contaminação até que a vacinação generalizada seja uma realidade”, diz o documento.

“A conquista civilizatória que foi o desenvolvimento de vacinas eficazes e seguras em tempo recorde precisa se converter, urgentemente, em proteção efetiva das pessoas, tirando proveito da experiência nacional de vacinação em massa. Nada disso é possível quando o presidente da República age no sentido oposto”, prossegue.

“É por nossa responsabilidade […] como brasileiros que nos associamos a todos os democratas para deixar pública a nossa indignação e exigir o impedimento do Sr. Jair Messias Bolsonaro, nos termos da nossa Constituição e das nossas Leis, por comprovada soma de crimes de responsabilidade, devidamente apontados nas dezenas de petições já protocoladas no Congresso Nacional”.

Antes disso, chama-se atenção para o desinvestimento na pesquisa científica, bem como o desmonte do Estado e da economia nacional, com reflexos negativos até mesmo no enfrentamento da pandemia. “Percebemos que este momento é de extrema gravidade, a Nação corre sérios riscos e o povo sofre intensamente. São anos seguidos de encolhimento da capacidade produtiva do país, de acentuada desindustrialização e de abandono de segmentos mais vulneráveis no meio rural e urbano. O planejamento para o desenvolvimento da nação foi substituído pelo improviso e pelo preconceito”, diz o texto ligado à comunidade da Esalq, que aponta, ainda, as dimensões políticas da atuação do governo Bolsonaro.

“Ainda mais, o governo opera com múltiplas ameaças à Democracia, em particular no que se refere aos direitos humanos e à distribuição de Poderes. Intensifica a desorganização da sociedade, numa espécie de ‘salve-se quem puder’. Há descaso e desumanidade sobre os efeitos da doença, desprezo à situação financeira das famílias, empresas, prefeituras e governos estaduais. Os profissionais do SUS são colocados em risco, sem suporte e sem respeito por seu conhecimento acumulado e provado”.

O documento da comunidade da Poli, por sua vez, assinala: “A Engenharia brasileira tem capacidade de contribuir decisivamente para o desenvolvimento sustentável em todas as frentes produtivas e o Brasil pode ser modelo mundial em áreas como as de energias renováveis, materiais “verdes” e produção agrícola ecologicamente adequada. Essa capacidade, no entanto, é sabotada por um governo que prefere estimular práticas predatórias na agropecuária e na mineração, associando-se à destruição provocada pelas queimadas e pela expansão descontrolada das fronteiras agrícolas, inclusive sobre áreas indígenas e de proteção ambiental. A pandemia de Covid-19 escancarou esses descaminhos. O desprezo à Ciência e ao papel do Estado como gestor da crise gera situações de descalabro e mata centenas de milhares de pessoas”.

Ainda de acordo com o texto da Poli, a “subnotificação de mortes por Covid, a desinformação deliberada, as múltiplas tentativas de calar a racionalidade, as abertas ameaças à Democracia e aos demais Poderes são marcas de um governo que consegue tornar a pandemia ainda mais letal, intensificando a desorganização da sociedade”.

“Negligência e omissão conduziram o país à calamidade sanitária”

Na FMRP, a “Carta Aberta de discentes, ex-discentes, professores e docentes de medicina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP) à sociedade pela defesa da saúde pública e pelo impeachment de Jair Bolsonaro ”já contava, em 24/1, data da última atualização, com 617 signatários.

“O descompromisso do governo federal para com o bem-estar e a vida de seus cidadãos foi acentuado profundamente com a pandemia causada pelo novo coronavírus. A contínua negligência, os equívocos sucessivos e inconsequentes, além da omissão dos entes federais no combate à pandemia mundial, conduziram o país à atual calamidade sanitária que vivemos”, registra a carta.

“Desse modo, nós, discentes, ex-discentes, professores e docentes de medicina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), enxergamos a necessidade de romper com o silêncio e nos posicionar contra a atual conduta irresponsável do presidente Jair Bolsonaro, o qual não somente se ausenta no enfrentamento à crise sanitária, bem como dificulta a contenção do vírus”.

Ainda segundo o texto, “o governo federal manteve-se inerte na tarefa de obtenção de imunizantes e de organização de um plano nacional de imunização, além de promover sucessivos esforços contrários à imunização dos brasileiros e entraves diplomáticos que põem em risco o acesso a insumos elementares para a cadeia produtiva das vacinas”, e o desserviço praticado pelo presidente e pelo ministro da saúde, Eduardo Pazuello — “cuja falta de preparo e de experiência são preocupantes para tal cargo” — atingiu seu auge com a tragédia de Manaus.

“A conduta lamentável e irresponsável adotada pelo governo federal contribui para o desastroso cenário brasileiro em que se contabiliza mais de 210 mil mortes provocadas pela Covid-19”, continua, lembrando que o descaso em relação às medidas preconizadas pela comunidade científica e por órgãos internacionais legítimos levou o Brasil a uma das posições de liderança mundial em número de óbitos.

“Diante da gravidade do exposto e dos crimes de responsabilidade continuamente consumados pelo atual Presidente da República, nós, integrantes da comunidade acadêmica e profissionais formados pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), que prezamos pelos pilares universitários, pela ciência, pesquisa e pelo ensino público, gratuito e de qualidade; que objetivamos o retorno à sociedade pelo investimento público em nossas formações profissionais; que nos comprometemos com o exercício da medicina de excelência, com a saúde e com a vida, entendemos a necessidade de exigir do presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia a imediata abertura do processo de impeachment contra o Sr. Jair Messias Bolsonaro. Em favor da saúde pública, da ciência e da vida, é urgente dizer basta e interromper esse irremediável negacionismo”.

EXPRESSO ADUSP


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