Conjuntura Política
Pesquisa de docentes da EACH e da Unifesp revela que 88% dos paulistanos rejeitam cortes de gastos sociais
Uma pesquisa coordenada por docentes da USP e da Unifesp revela que a maioria da população paulistana rejeita corte de gastos em saúde e educação. Nada menos de 88,88% dos entrevistados disseram não concordar com a afirmação “Num momento de crise, o governo precisa cortar gastos em saúde e educação”. O dado é interessante, uma vez que o universo de entrevistados compreende um espectro ideológico em que a maior parte deles se autodeclara “conservador”, ainda que em graus variados.
Intitulada “Pesquisa com moradores da cidade de São Paulo sobre mobilização e engajamento políticos, identidades e opiniões políticas” (disponível aqui), ela foi coordenada por Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e Márcio Moretto Ribeiro e Pablo Ortellado, professores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP).
Realizada em outubro de 2016 em diversos pontos da capital paulista, com cotas por idade, sexo e região da cidade, ouviu 1.058 pessoas.
A amostra compreende diferentes faixas de renda: 30% até R$_1.760; 20,1% de R$_1.760 a R$_2.640; 26,1% de R$_2.640 a R$_4.400; 17,3% de R$_4.400 a R$_8.800; 4,7% de R$_8.800 a R$_17.600; 1,8% acima de R$_17.600,00. Envolve ainda todas as faixas de escolaridade — ensino fundamental incompleto 14,9% e completo 5,1%, médio incompleto 11,7% e completo 32,6%, superior incompleto 14,6% e completo 21,1% — e de identidade religiosa: católica 39,7%, evangélica pentecostal 19,7% e não pentecostal 10,1%, espírita 6%, umbanda 1,1%, nenhuma 19,1%.
“Nosso objetivo era principalmente medir quanto as pautas das elites políticas têm sido bem sucedidas em mobilizar a população e como essas pautas variam de acordo com a identidade política do entrevistado”, explica ao Informativo Adusp o professor Moretto. “Um dos achados da pesquisa foi identificar consensos entre os paulistanos (tanto entre os auto-declarados de direita e de esquerda como aqueles que não se identificam com nenhum dos polos do espectro ideológico): defesa dos serviços públicos, defesa do meio-ambiente e punitivismo (defesa de maior tempo de cadeia)”.
Identidade política
Do ponto de vista da identidade política, 8,3% se identificam como de direita e outros 4,8% como de centro-direita, ao passo que 12,5% se dizem de esquerda e outros 3,7% de centro-esquerda. Apenas 2% se dizem de centro, 54% rejeitam todas as opções (“nada disso”) e 14,3% não sabem dizer. Ainda nesse campo, 32,6% dos entrevistados se declaram “muito” conservadores e 36,6% “um pouco” conservadores, contra apenas 19,1% que se identificam como “nada” conservadores (11,7% não sabem se situar).
Apesar de tais índices, 53,1% rejeitam a afirmação de que “as empresas estatais, como os Correios e o Banco do Brasil, deviam ser privatizadas”, contra 30,2% que concordam e 16,7% que não sabem responder. Outros resultados: 54,1% concordam que o programa Bolsa-Família “é necessário para reduzir a desigualdade”; 83,1% apoiam o enunciado “todo mundo deveria trabalhar com carteira assinada”; para 83,8% “quem começou a trabalhar cedo deve poder se aposentar cedo, sem limite mínimo de idade”; e 94,5% concordam que “as terras dos índios devem ser respeitadas pelos fazendeiros”.
Por outro lado, há grande divisão quanto a cotas para negros e pobres nas universidades públicas: 47,7% discordam, 46% concordam e 6,2% não sabem; 50,6% concordam com a redução do número de funcionários públicos e 41,3% discordam; 64% concordam que “fazer aborto é pecado”; 73,8% entendem que os criminosos precisam ser punidos com mais tempo de cadeia.
“A pesquisa descobriu que a opinião política do paulistano médio é uma estranha combinação de ambientalismo, conservadorismos morais — como a condenação ao aborto e o aumento da penalidade a criminosos — e defesa de direitos sociais”, sintetizou o professor Ortellado, a pedido do Informativo Adusp. “Nesse quesito, vale destacar que uma expressiva maioria discorda que sejam aceitáveis cortes em saúde e educação, mesmo em momentos de crise, e que se amplie o tempo de contribuição de aposentadoria para quem contribuiu desde cedo — que são os dois pontos centrais da agenda de reformas liberais do governo Temer”.
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