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Rodas investe em “clima de medo” denuncia APG
Daniel Garcia |
Rodas em reunião com o CR em 7/5: insinuações |
A Associação dos Pós-Graduandos da USP/Capital emitiu, em 21/5, nota lamentando as recentes declarações do reitor a propósito da greve dos funcionários. No entender da APG, os comentários de Rodas nas entrevistas que vem concedendo a veículos de comunicação acirram as tensões e recorrem à criminalização dos movimentos sociais e à depreciação da pobreza. “O Reitor investiu na instauração de um clima de medo”, denuncia a APG. A seguir, a íntegra da nota:
Preocupada com a preservação do respeito mútuo entre a Reitoria da USP e as entidades representativas de professores, funcionários e estudantes, a APG-Capital vem a público enfatizar a necessidade de um efetivo e respeitoso diálogo no seio da comunidade universitária, tendo em vista que as últimas declarações do reitor da USP à imprensa só têm contribuído para agravar as tensões, tão prejudiciais às atividades de pesquisa dos pós-graduandos.
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, em 8 de maio, o reitor João G. Rodas afirmou haver “mercenários dentro da USP, de alta estatura e envergadura, amedrontando fisicamente as pessoas”. Depois, acrescentou: “o pessoal do sindicato, isso é comprovável, não são só eles, existem pessoas contratadas por eles às dezenas, que fazem, por assim dizer, grande parte do serviço sujo”. Dada a gravidade dessas e outras acusações, faz-se necessária a devida apresentação de provas, até então desconhecidas.
Opinião da diretoria Para alguém que em seu discurso de posse reiterou “que se instale um diálogo real; que se busquem consensos específicos; e, acima de tudo, que impere a boa fé”, onde quer chegar o reitor, com suas retumbantes entrevistas à mídia comercial? O reitor João Grandino Rodas está se excedendo em seus ataques ao movimento sindical e em seu silêncio nas reuniões entre o Cruesp e o Fórum das Seis. Sua linguagem não lembra a de alguém com vida universitária plena. Distribuir acusações sem comprovação, dando a entender que tem informações reservadas, serve a quê? Na reunião com o Conselho de Representantes da Adusp, em 7/5, o reitor já fizera assertivas semelhantes, desistindo de prosseguir ao não encontrar receptividade nos presentes. Sua alusão aos “morros do Rio de Janeiro” denota enorme preconceito, como bem assinala a nota da APG. Os docentes presentes na assembleia da Adusp de 19/5 manifestaram uma enorme indignação com o conteúdo da entrevista do reitor na Rádio Bandeirantes, quando chegou a ser apresentado como o “pacificador” da USP. É preocupante o fato de que Rodas, ao invés de negociar, opte por uma escalada verbal desse tipo. Acenar para os mesmos setores conservadores que hegemonizaram o final do mandato de Suely Vilela, criando um clima de perseguições, é constranger o já reduzido grau de democracia que temos na USP. Faria mais e melhor a Reitoria da USP se abrisse um diálogo franco com as entidades representativas de docentes, estudantes e funcionários técnico-administrativos da USP, que leve a uma negociação de fato de suas reivindicações, na data-base ou fora dela. |
Durante a entrevista, os dois radialistas e o Reitor da USP passaram a nomear os funcionários em greve como “invasores” e “pessoas inescrupulosas”, responsáveis por “jogar o nome da USP no lixo”. Consideramos lamentável que o Reitor da USP tenha investido todo o seu poder e responsabilidade em uma estratégia de desqualificação de seus opositores políticos, como já havia feito em artigo publicado na Folha de S. Paulo e em entrevista ao programa Provocações.
Na Rádio, o Reitor, mais uma vez, resolveu criminalizar os opositores e se reportar, genericamente, à “sociedade”: “peço que a sociedade verifique, mande ver, porque realmente nós estamos fazendo da Universidade de São Paulo os morros do Rio de Janeiro, guetos, e com o tempo, ficarão absolutamente impraticáveis, se é que já não estão”. A preconceituosa associação entre o crime e os morros do Rio de Janeiro, analisada e posta em questão há anos por diversas pesquisas de Ciências Humanas, torna-se ainda mais grave quando utilizada pelo Reitor da maior universidade do país com o intuito de questionar o legítimo direito de greve dos funcionários.
Chamamos a atenção para os graves efeitos de uma declaração de tal teor, emanada do mais alto cargo da Universidade. Além do já exposto, o Reitor da USP investiu, ainda, na instauração de um clima de medo, absolutamente estranho ao cotidiano da comunidade universitária, ao afirmar que a USP é “uma terra de ninguém” ou sugerindo até mesmo a instalação de uma placa na entrada da Universidade com os dizeres: “entre por sua conta e risco”.
Manifestamos o nosso repúdio à criação de um clima artificial de medo e insegurança, criado justamente pelo autor do parecer que autorizou a entrada da PM no campus. Desde que a Força Tática da Polícia Militar deixou a Universidade em 2009, após lançar bombas de gás sobre chefes de departamento, professores e alunos (grevistas e não grevistas), cessou-se, entre nós, qualquer motivo para insegurança.
Espera-se do Reitor da USP o cumprimento de suas responsabilidades como gestor público. Isto implica em uma posição ativa nas reuniões de negociação entre o Cruesp e o Fórum das Seis, contribuindo para a sinalização de um meio termo capaz de dar fim à greve e permitir a reabertura das bibliotecas, dos restaurantes e dos demais serviços essenciais à pesquisa e ao ensino. O silêncio absoluto do Reitor da USP na última reunião de negociação, no dia 18 de maio, contrasta com a disposição manifestada em suas recentes declarações à imprensa.
Receosos de que a curta “era do diálogo” seja substituída por uma “era do medo”, a APG-Capital reafirma sua convicção de que a única saída existente para os conflitos no seio da comunidade universitária é a efetiva negociação e o efetivo respeito às diversas entidades representativas de funcionários, professores e estudantes.
Informativo n° 307
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