A Prefeitura do campus de Pirassununga da USP tomou uma medida extrema para fazer com que o Restaurante Universitário (RU) continuasse a funcionar, apesar da greve dos funcionários: “recrutou” soldados do Exército para preparar a comida. O Boletim de Greve dos funcionários técnico-administrativos de Pirassununga alertou: “Os funcionários do campus de Pirassununga foram surpreendidos com a informação de que o restaurante […] estaria funcionando durante a greve com a ajuda de pessoas estranhas à universidade. Esta seria mais uma tentativa de enfraquecer a greve dos funcionários substituindo, de forma ilegal, os trabalhadores que estão lutando por melhores condições de trabalho”.

O comunicado trouxe consequências impensadas para os funcionários do campus, uma vez que os cortes de ponto ali efetivados foram motivados pela publicidade dada ao fato e particularmente porque a informação teria chegado ao Chefe de Gabinete do reitor, que questionou a Prefeitura do campus sobre a medida.

A Lei de Greve, reiteradamente citada pela Reitoria para justificar o confisco salarial decorrente do corte de ponto, proíbe explicitamente a contratação de trabalhadores substitutos para exercer as funções daqueles que tiverem aderido à greve. No caso de Pirassununga a situação assume um caráter muito mais grave, pois soldados foram flagrados preparando as refeições do RU sob o pretexto de que um convênio com o Exército permite a cessão de militares à USP.

Disparates

Apesar do alerta dos funcionários quanto a esta irregularidade, a situação persistiu por várias semanas, cessando apenas após esta informação chegar a representantes do Sindicato dos Trabalhadores (Sintusp). A delegada de base Vera Monezi e o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL), que foi ao campus para participar de um debate sobre a crise orçamentária das universidades estaduais paulistas, foram até o gabinete da Prefeitura para indagar sobre tal situação, constatando a irregularidade denunciada.

Durante a greve, os funcionários mostraram predisposição para negociar a manutenção dos serviços essenciais como o RU, para não prejudicar os alunos bolsistas, mas as negociações não deram frutos. Em reunião com o prefeito do campus, professor Flávio Meirelles, para tratar da questão do corte de ponto, os funcionários manifestaram esta disposição, mas ouviram, entre alguns disparates, que o controle de ponto é uma responsabilidade da administração e caso fosse informada a presença incorretamente, o Prefeito teria que arcar pessoalmente com os salários pagos indevidamente, um valor estimado por ele em R$ 28 mil.

Aos poucos, surgiu na conversa a verdadeira motivação do corte de ponto, revelada pelo próprio prefeito do campus: “O mais complicado é o restaurante, porque apareceu a notícia de que o Exército entrou”. Assim, Meirelles decidiu informar na folha de ponto que os funcionários estavam em greve, e permitir o confisco dos salários desses trabalhadores, como retaliação à denúncia feita no Boletim de Greve.

EXPRESSO ADUSP


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