Docentes repudiam arrocho e autoritarismo e destacam necessidade de lutar por dignidade

Em uma assembleia que lotou o auditório Freitas Nobre na ECA, os professores da USP demonstraram grande insatisfação e indignação com a proposta do Cruesp de reajuste salarial zero. O debate sobre como reagir à intransigência dos reitores foi precedido por informes das assembleias setoriais da EACH, do institutos de Física, de Psicologia, de Ciências Biológicas, de Matemática e Estatística, da FFLCH e das faculdades de Educação, de Medicina Veterinária e Zootecnia, de Odontologia de Bauru e de Zootecnia e Engenharia de Alimentos de Piras­su­nun­ga. A disposição de recorrer a greve diante da intransigência da reitoria quanto à negação de reajuste salarial, indisposição para negociação e ausência de transparência quanto às contas da universidade, ficava evidente a cada relato.

Fotos: Daniel Garcia
Professores Souto Maior (FD), Pierluigi (IME), Bete (EACH) e Lilian Gregory (FMVZ) defendem greve por reajuste e por transparência nas contas do Cruesp

Na assembleia setorial do ICB 50 professores se reuniram para discutir a situação orçamentária da USP e a tentativa do Cruesp de impor arrocho salarial. “Buscar o dinheiro não é problema nosso, queremos no mínimo a reposição da inflação!”, afirmou o professor Antonio Carlos Cassola (ICB), ao relatar manifestação ouvida na setorial que traduzia a decepção com a atual gestão.

Apenas duas unidades preferiram, em lugar da greve, indicar outras formas de mobilização. No IP, os docentes pretendiam realizar paralisações pontuais para exigir aumento salarial e a abertura das contas. Os professores do IME também consideraram a proposta de estado de greve.

Dignidade

Muito se falou, na assembleia, da importância de comparecimento do maior número possível de docentes à audiência pública que a Assembleia Legislativa realizará nesta terça-feira 27/5, sobre o financiamento das universidades públicas estaduais. “Para sermos numerosos terça-feira na Assembleia Legislativa, temos que votar greve aqui!”, defendeu o professor Osvaldo Coggiola (FFLCH). “O reitor disse ‘Zero’ e nós respondemos ‘Chega!’. É uma greve pela nossa dignidade”.

O professor Marcos Magalhães (IME) explicou que a proposta da Reitoria significa redução salarial: “A [reposição da] inflação é algo de que a gente não pode abrir mão e a palavra de ordem ‘arrocho’ não traduz exatamente isso. Não estamos discutindo aumento, estamos discutindo diminuição do salário, por que tem uma inflação que corrói nosso salário”.

Muitos expressaram que não é apenas uma questão de falta de recursos, mas principalmente do modo como as decisões são tomadas na Universidade. “O que conduziu à proposta do zero por cento é a falência democrática aqui dentro da Universidade, as pessoas acreditam que apenas é possível recompor o salário por meio da inserção de dinheiro privado”, assinalou o professor Jorge Souto Maior (FD). “Nós temos que exigir transparência e tem que começar nas nossas unidades”, acrescentou, na mesma linha, a professora Zilda Iokoi (FFLCH).

A professora Elisabete Franco (EACH) relatou, de modo contundente, o descalabro administrativo operado pela Reitoria: “De fato eles pensam que somos ignorantes, por que gastaram R$ 4 milhões para construir um ginásio na EACH e depois de três anos esse ginásio foi interditado. Aí, para resolver o problema da interdição, eles alugaram uma tenda por mais de R$ 100 mil por mês e colocaram essa tenda em cima da terra contaminada e a tenda teve que ser interditada. A universidade está absolutamente irresponsável e a EACH é o maior exemplo disso!”

A atual dispersão geográfica dos cursos da EACH é uma dificuldade objetiva no processo de construção da greve: “A nossa capacidade de mobilização está muito prejudicada”, explicou a professora Adriana Tufaile, “porque não existe movimento coletivo se a gente não conversa com as pessoas”.

Fatalidade não!

“Devemos lembrar que em 2004, portanto comemorando 10 anos nesta data-base, nós conseguimos repudiar o zero por cento em sete reuniões sucessivas do Cruesp com o Fórum das Seis. Não só isso: no final da greve nós conseguimos talvez o maior reajuste até hoje conseguido em um único ano. E justamente o reitor que queria dialogar vem com a proposta de zero por cento!”, lembrou João Zanetic (IF).

A assembleia constituiu um Comitê de Mobilização, com mais de vinte membros, mas foi ressaltado o papel fundamental de cada um dos presentes para que a greve crescesse. “Um trabalho para a Comissão de Mobilização, mas também um trabalho de todos, é abrir um debate no interior das unidades. Esse debate, na minha opinião, deve derrubar finalmente a questão da fatalidade, ou seja, ‘só pode ser assim’. A gente deve insistir sobre o fato de que o recurso da educação pública é uma escolha do poder político, e que é uma coisa primária para a gente, não tem nada de fatalidade”, afirmou o professor Pierluigi Benevieri (IME).

“Existe uma greve de fato, que começou hoje com uma assembleia gigantesca do Sintusp e vai se estender aos alunos. Já vai ter greve na USP a partir de terça-feira, a questão que está colocada para nós é se a gente vai apoiar os setores que lutam ou se vamos falar ‘não é bem assim, vamos pensar mais um pouquinho’”, observou o professor Rodrigo Ricupero (FFLCH). “Tem um setor dos colegas que é sócio da Universidade e tem um setor dos colegas que vive do dinheiro das fundações privadas”, continuou. “Então, a gente não tem que se preocupar aqui se somos poucos; nós temos que representar aqui o setor que vive do salário, que não está ligado às fundações privadas, que não é sócio da Reitoria e que é trabalhador!”.

Informativo nº 382

EXPRESSO ADUSP


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