Prevaleceram, mais uma vez, a intransigência e o desrespeito do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), que suspendeu – unilateralmente – reunião agendada para 13/6 com o Fórum das Seis (representação de docentes, funcionários e estudantes da USP, Unesp, Unicamp e do Centro Paula Souza).

No momento em que uma forte greve obriga a pautar na mídia questões essenciais a essas instituições: falta de democracia, necessidade de transparência e insuficiência de recursos para manutenção e expansão de suas atividades-fim, o Cruesp cancela reunião de negociação, omitindo-se da responsabilidade de tratar com o Fórum das Seis de aspectos que, se sanados, permitiriam superar políticas inadequadas a que tais instituições têm sido submetidas há tempos.

Vale dizer, décadas de expansão sem recursos adicionais e perenes, ausência de mecanismos participativos na definição de gastos, políticas acadêmicas e de expansão, descontrole administrativo, falta de políticas de acesso e permanência estudantil etc. traduzem a costumeira postura reitoral, cuja gota d´água se expressou no “reajuste” salarial de zero%.

Cabe lembrar que o Fórum das Seis organizou em fevereiro sua pauta de reivindicações, protocolada em março, propondo reuniões de discussão e negociação em abril, tendo em vista a data-base de 1º de maio. Apenas em 12/5, o Cruesp se dignou a marcar a primeira reunião para, sem qualquer interlocução, anunciar o “reajuste” de zero%. Repetiu o gesto poucos dias depois, em 21/5, encerrando a “negociação”. E agora, com o cancelamento da reunião de 13/6, sem que nenhum fato novo tenha ocorrido, o Cruesp dispara seu terceiro ZERO. Desrespeito total!

Apesar da greve intensa nas três universidades: por tratamento digno das legítimas demandas das categorias; pelo financiamento adequado da educação em todos os níveis e modalidades no estado de São Paulo, por transparência e democracia nas universidades estaduais, pela abertura de efetivos diálogo e negociação, o Cruesp age de forma insensata, autoritária e irresponsável suspendendo a reunião marcada, sob a alegação de não desobstrução de acesso a qualquer local que os grevistas tenham decidido por piquetes, situação esta absolutamente localizada face à dimensão das três universidades estaduais.

Aliás, registre-se que o recurso de trabalhadores a tais expedientes quase sempre se deve a formas de assédio – intimidações, ameaças, represálias etc. – sobre aqueles que decidem entrar em greve, para que sejam forçados a trabalhar, se não tiverem em sua defesa o piquete como proteção, evitando que sejam compelidos a voltarem a seus postos de trabalho sob o peso de retaliações, invariavelmente individuais. Será que os dirigentes universitários desconhecem tais dinâmicas sociais e / ou ignoram experiências históricas? Não, trata-se do clássico oportunismo de tentar responsabilizar trabalhadores, estudantes e suas entidades representativas pela não adoção do instrumento que pode, de fato, resolver questões inerentes a impasses que ocorrem em qualquer greve: a efetiva instalação de diálogo e negociação!

Assim é que o cancelamento da reunião de 13/6 por meio de ligação telefônica à Assessoria de Imprensa do Fórum das Seis também é acintoso. Por que não falar diretamente com a Coordenação do Fórum? Qual é o motivo da confusão criada pela mensagem do gabinete da Reitoria da USP divulgando ofícios que justamente marcavam a reunião de 13/6, com reforço de condicionantes, mas sem qualquer menção ao cancelamento unilateral?

A Reitoria da USP não se somou nas declarações dos reitores da Unesp e da Unicamp quanto à necessidade de ampliar recursos para as universidades, ou no entendimento de que deviam negociar o reajuste salarial. Parece a Reitoria estar em dúvida sobre a importância do regime de dedicação exclusiva (RDIDP), mas afirma que o sistema de financiamento em São Paulo é o melhor do mundo, quando tal sistema dá conta de apenas cerca de 8% da demanda por educação superior pública no Estado! É preciso dar um basta ao descompasso entre o discurso de candidatos e a postura deliberada dos reitores uma vez empossados…

É um acinte a postura do Cruesp de descompromisso e desconstrução dos fóruns de interlocução, necessários para construção de democracia interna e externa às universidades. É preciso acabar com essa arrogância, com essa subserviência ao governador e com essa intransigência a serviço de propósitos avessos à fundamentação e à objetividade que deve vigorar no ambiente acadêmico e na administração pública.

Não aceitamos essa intransigência!

Exigimos negociação sem condicionantes antissindicais!

São Paulo, 13 de junho de 2014
Fórum das Seis

EXPRESSO ADUSP


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