A hora é agora: não aceitaremos arrocho!

A greve das universidades estaduais paulistas é instrumento de defesa de condições dignas de vida e de trabalho. No Orçamento da USP há espaço para reajuste

Há algum tempo temos alertado que o “clima de catástrofe” propalado pela Reitoria da USP se transformaria em desculpa para tentar impor arrocho salarial a docentes e funcionários técnico-administrativos. Não deu outra: nas duas reuniões entre Fórum das Seis e Cruesp, os reitores não mostraram disposição alguma para a negociação salarial: dois 0% e encerramento das negociações salariais! A solução do Cruesp para “colocar as finanças em ordem” é sempre a mesma: tentar fazer os salários pagarem a conta. 

Daniel Garcia
Assembleia de 21/5 no auditório Freitas Nobre, da ECA, no momento de aprovação da greve

Imediata reação

A indignação de docentes, funcionários e estudantes face à intran­si­gên­cia do Cruesp foi pronta e clara, resultando na decretação de greve nas universidades estaduais paulistas, a partir da próxima terça-feira 27/5, contra o arrocho salarial que os reitores tentam impor.

Na USP, será que vivemos um caso de “apertem os cintos… o piloto sumiu”? A Reitoria parece incapaz de dar respostas adequadas às questões centrais da vida acadêmica. Ao se candidatarem Zago e Vahan não sabiam que precisariam manter o poder aquisitivo dos salários, enfrentar os graves problemas ambientais da EACH, preservar o corpo de docentes e funcionários, tratar da permanência estudantil?

E o diálogo?

Não basta ouvir, é preciso que haja interlocução e encaminhamento dos tópicos apresentados. Verifica-se na USP a mesma intransigência da “negociação salarial” no que se refere a tantas outras questões, permanecendo sem respostas as propostas de a) reuniões para tratar da agenda aprovada pela Assembleia de 19/3 , b) iniciativas para abertura das contas das gestões anterior e atual, c) esclarecimentos sobre os contratos do Cepeusp com empresas privadas, d) que os recursos quanto à progressão horizontal na carreira, aprovados pela Congregação do IGc, sejam pautados no Co (vide http://goo.gl/r9XQ8l e http://goo.gl/jQsVhn).

Perdas graves

Quando não se repõe a inflação durante um período, as perdas se compõem rapidamente. Por exemplo, o ICV-Dieese no período maio/13 a abril/14 é de 7,05%. Imaginemos, de forma conservadora (estamos em fase de inflação em alta), que este número se repita de maio/14 a abril/15. Neste caso, só para recuperar o valor real dos salários de abril/13, necessitaríamos de um reajuste de 14,6% em maio/15, pois as perdas são compostas e não aditivas. Assim, lutar contra arrocho salarial é estratégico e fundamental: perdas compostas, mesmo em prazos não muito longos, tornam-se difíceis de reverter.

Planilha do Cruesp

Em relação aos salários, a resposta é simples: contabilizam tudo, ou no jargão da área, “Pessoal e Reflexos”. Além de precatórios, pois frequentemente as universidades não cumprem as regras trabalhistas elementares e a jurisprudência estabelecida, constam os salários brutos (não os líquidos), juntamente com previsões de 13º e férias distribuídas mês a mês (entre janeiro e dezembro) e os chamados “benefícios”. Além disso, incluem as contribuições das universidades em contrapartida à dos docentes e funcionários técnico-administrativos; por exemplo, hoje contribuímos com 11% do nosso salário para a Previdência (era 6% no tempo do Ipesp) e constam da planilha do Cruesp os 22% pagos pelas universidades ao SPPrev, isto é, 3,7 vezes os 6% anteriores — um aumento muito significativo. Isto que dizer que a planilha do Cruesp não serve como indicador do salário real de professores e funcionários técnico-administrativos.

O Cruesp sabe muito bem que temos trabalhado por salários modestos, mas parece que lhe convém deixar sem resposta a falácia de que temos remuneração extravagante, ou até mesmo contribuir para que a mídia a propale.

Intransigência

Capitaneada pela Reitoria da USP, a intransigência dos reitores em relação aos salários é inaceitável. Apenas como exemplo: no caso da USP, além do crescimento natural do ICMS ao longo do ano, constam do orçamento aprovado pelo Conselho Universitário (Co) R$_195,14 milhões de rendimentos financeiros e uma reserva de ajuste de R$ 128,7 milhões, “destinada ao atendimento das decisões do Cruesp com relação à política salarial das Universidades Estaduais” (sic). Só a soma destas duas parcelas é R$ 323,84 milhões — uma base sólida para, se houver vontade política, estabelecer negociações efetivas com o Fórum das Seis.

Ao contrário do declarado pelo reitor da USP na reunião de 21/5 entre Fórum das Seis e Cruesp, não é nossa defesa de condições dignas de vida e trabalho que destruirá as universidades estaduais, mas sim o arrocho de salários e corte de verbas aos quais querem nos submeter. É sempre bom lembrar do que tem acontecido com a educação básica no Estado de São Paulo e em todo país.

Mobilização, organização e participação em defesa da USP, Unesp e Unicamp! Participe das atividades da greve e divulgue o movimento!

Informativo nº 382

EXPRESSO ADUSP


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