Novo ato na Reitoria da Unesp voltou a cobrar o fim da intransigência do Cruesp

Em nova manifestação do movimento de greve, em frente ao prédio da Reitoria da Unesp, no Anhangabaú, na capital paulista, o Fórum das Seis reuniu professores, funcionários e estudantes das três universidades estaduais paulistas, com significativa participação do interior — estavam presentes comitivas dos campi de Ourinhos, Presidente Prudente, Rio Claro, Assis, Marília, Botucatu e Rosana (Unesp), além de São Carlos e Piracicaba (USP) — para exigir a reabertura das negociações com o Cruesp.

A concentração do ato foi marcada para 11h00. Logo às 11h30 todos os ônibus já haviam chegado e o tráfego de veículos na Rua Xavier de Toledo foi completamente interrompido. Mais uma vez, a Reitoria da Unesp foi sitiada por um cordão da Polícia Militar, armado com escudos, cassetetes e armas para disparo de bombas de efeito moral.

“O governo do Estado de São Paulo é a principal obstrução a qualquer negociação que a gente tenta fazer na Assembleia Legislativa para melhorar as condições da educação, da saúde, do transporte e de todos os direitos sociais da população. É por isso que a gente vai sair daqui e ir para a Assembleia Legislativa, é por isso que a gente tem que ter clareza de que enfrentar os reitores e sua intransigência e autoritarismo é importante e enfrentar o governo do Estado também é importante”, disse, logo no início, Francisco Miraglia, diretor da Adusp. “São dois braços importantes da nossa luta, sabendo que, evidentemente, o governador tem muito mais poder do que os reitores e o Cruesp”.

A reitora em exercício da Unesp e presidente do Cruesp, Marilza Vieira Cunha Rudge, aceitou receber uma comissão formada por dez membros do Fórum das Seis, com representantes das categorias de cada uma das universidades estaduais paulistas. Às 12h30 a comissão foi recebida por ela, que informou haver convidado os dois outros reitores a participarem da audiência com o Fórum das Seis. Como o reitor da Unicamp não respondeu e o reitor da USP queria enviar o vice-reitor, Marilza preferiu realizar a conversa sozinha.

A presidente do Cruesp declarou que convidará os reitores Marco Antonio Zago, da USP, e José Tadeu Jorge, da Unicamp, a se reunirem com ela. E que tentará, em seguida, organizar uma reunião do Cruesp com o Fórum das Seis. Tais reuniões, contudo, não têm data prevista para ocorrer.

Convidada pelos representantes das categorias a comparecer à Assembleia Legislativa juntamente com as representações do Fórum das Seis que, em seguida, para lá se deslocariam em defesa das emendas que ampliam o repasse de recursos do ICMS às universidades estaduais, Marilza declinou. Disse que, no seu entender, seria outra a esfera de atuação do Cruesp para esse mesmo objetivo.

fotos: Daniel Garcia
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As imagens registram intensa atividade do Fórum das Seis em 1/7: manifestação diante da Reitoria da Unesp, na rua Xavier de Toledo, e pressão exercida na reunião da Comissão de Finanças e Orçamento da Alesp, onde a palavra foi concedida ao professor Francisco Miraglia

Unidade pela educação pública

“Estamos mais um vez em uma greve conjunta de professores, funcionários e estudantes das três universidades paulistas. Essa unidade é uma unidade histórica e já há muito vitoriosa”, lembrou Francisco Genézio Lima de Mesquita, do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU). “É uma unidade que historicamente fez a defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade, que lutou pela autonomia universitária, que garantiu mais recursos para as universidades, que muitas vezes enfrentou o governador do Estado e enfrentou os reitores para fazer valer a defesa de nossos direitos, a defesa da universidade pública. E nem o governador nem os reitores aprenderam com isso: não adianta intimidar, não adianta polícia, não adianta criminalização, por que essa é uma luta das universidades, mas é uma luta que interessa à população do Estado de São Paulo”.

João Chaves Jr., da Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp), frisou que mais do que uma mobilização pelo reajuste salarial, a luta em andamento visa defender a educação do Estado de São Paulo: “Essa universidade não é de propriedade da senhora Marilza, não é do Cruesp, não é do Alckmin: essa Universidade é do povo do Estado de São Paulo e nós viemos aqui para defender esse grande patrimônio, porque nós que estamos aqui estamos fazendo esse patrimônio cada vez maior, mesmo com essas políticas que nos estão sendo impostas pelo Cruesp. Chega de terrorismo numérico!”. Para o professor, falta “vergonha na cara” ao Cruesp: “Tenham vergonha da gestão irresponsável que vocês fizeram até agora! Tenham vergonha do desperdício de dinheiro público! Tenham vergonha das políticas de desmonte da universidade pública!”

Aos 35 dias de greve, as categorias continuam mobilizadas e se preparam para enfrentar o mês de julho, período que normalmente é de férias. Magno de Carvalho, do Sintusp, informou as decisões da categoria: “Ontem nós fizemos uma assembleia que tinha cerca de mil e quinhentos funcionários em frente à Reitoria, foi a maior assembleia que nós fizemos nessa greve! Isso mostra a força que nosso movimento tem e que está crescendo. E a decisão dos funcionários da USP é que não vamos sair dessa greve sem vitória, vamos enfrentar esse mês de férias em greve, vamos entrar no mês de agosto e até quando for preciso, até termos negociação”.

Ciro Correia, presidente da Adusp, também ressaltou a importância da continuidade da mobilização: “Estamos aqui cumprindo uma etapa importante da nossa luta contra o arrocho dos nossos salários; por mais recursos para as nossas universidades e para educação como um todo; por transparência em relação a como o Estado e as Universidades gerem os seus recursos; e contra o salário do governador ser referência para o teto salarial do funcionalismo público, seja ele qual for o valor. Depois de mais de um mês de greve, é preciso lembrar a importância da demonstração de unidade do movimento conjunto que estamos fazendo aqui para o Cruesp, na porta da Reitoria que sedia a presidência do Cruesp, e da importância da demonstração que faremos hoje na Assembleia Legislativa, no ato que terá continuidade lá em defesa de mais recursos para a educação”.

O presidente da Adusp realçou a importância de que todos os setores do movimento permaneçam unidos, “mesmo conscientes das dificuldades e diferenças de procedimentos e de mobilização das categorias diante do difícil período de julho, para, em conjunto, prosseguir na luta”, concluiu.

As recentes afirmações do reitor da Unicamp sobre a responsabilidade da Reitoria da USP quanto à não abertura de negociações foram destacadas: “O reitor Tadeu [Jorge] disse: ‘Desde o início das conversações eu defendi o argumento de que o índice zero seria decretar a greve, a nossa Reitoria reconhece a greve’. O nosso reitor legitimou nossa greve! E disse ainda: ‘Tenho trabalhado para reestabelecer a negociação, mas nas últimas semanas estou muito pessimista com a possibilidade de a USP mudar de ideia’, essas são palavras do nosso reitor em debate realizado na semana passada na sede da Adunicamp!”, relatou Valério José Arantes, da Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp).

Além da intransigência do Cruesp e, principalmente, do reitor Zago, muito se falou a respeito da prisão arbitrária de Fábio Hideki Harano, funcionário e estudante da USP, ocorrida em ato pacífico realizado no dia 23/6. Sua libertação tornou-se uma das bandeiras da greve dos funcionários da USP: “Hoje o companheiro está preso na penitenciária de segurança máxima de Tremembé sem ter sido, ao menos, julgado e sentenciado”, afirmou Magno, do Sintusp. “Para nós, é uma questão de honra soltá-lo e a gente espera que os companheiros da Unesp e da Unicamp se somem nessa luta pela retirada do companheiro Fábio, que ontem fez aniversário dentro de uma solitária na cadeia, por ter sido preso como bode expiatório, por uma calúnia do governo do Estado”.

Pressão na Alesp

Como previsto, às 14h00 o ato na região central de São Paulo foi encerrado, para que os manifestantes pudessem deslocar-se para a Assembleia Legislativa, onde a Comissão de Finanças, Orçamento e Planejamento (CFO) preparava-se para apreciar o relatório da deputada Maria Lúcia Amari (PSDB) sobre a LDO-2015.

Os manifestantes lotaram a sala da CFO. A comissão abriu a palavra para que um representante do Fórum das Seis pudesse manifestar-se. A tarefa coube ao professor Francisco Miraglia: “Nossa reivindicação aqui é simples: queremos que os repasses do ICMS às universidades estaduais tenha a mesma base de cálculo do repasse aos municípios. Somente neste ano, a diferença entre a base de cálculo do governo do Estado e a que deveria ser aplicada chega a R$ 217 milhões”.

Contudo, embora tivesse se reunido com representantes do Fórum das Seis no dia 26/6, e mostrado interesse, naquela ocasião, pelos argumentos que sustentavam as emendas à LDO-2025 (as quais traziam a expressão “[x%] do total do produto do ICMS”), a relatora Maria Lúcia Amari não as incluiu no relatório final, que contemplou apenas, no tocante ao montante anual de recursos a serem repassados às universidades públicas estaduais, a expressão “no mínimo, 9,57% da quota-parte do Estado do ICMS”.

A reunião de hoje da CFO terminou sem esgotar os trabalhos de discussão do relatório, de modo que a comissão deverá realizar nova sessão nesta quarta-feira 2/7, pela manhã. Após ser votado na CFO o relatório irá a voto em plenário, quando poderá receber destaques. No entanto, a decisão da deputada governista de não incorporar nenhuma das emendas do Fórum das Seis sinaliza que o governo não pretende admitir alterações.

 
 

EXPRESSO ADUSP


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