Zago recebe docentes e servidores em Ribeirão Preto, mas tergiversa quanto a nova negociação

Esta é a versão original da matéria, há uma versão reduzida publicada no Informativo nº 384

Professores ficaram impressionados com a intransigência do reitor e a coincidência de posições com o governo Alckmin

“Quem não negocia, renuncia!”. Apitos, cornetas, algumas palavras de ordem e muita animação de mais de uma centena de manifestantes —funcionários técnico-administrativos, estudantes e docentes — que logo cedo se dirigiram ao Anexo A da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, nesta sexta-feira 13/6, não foram suficientes para que o reitor Marco Antonio Zago aceitasse receber as três categorias conjuntamente.

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Ele preferiu reunir-se separadamente com representações dos funcionários técnico-administrativos (pela manhã) e dos docentes (no início da tarde) e realizou reuniões plenárias com estudantes. Em todas as ocasiões o reitor repetiu seu discurso de “crise financeira”, inevitabilidade do arrocho salarial e impossibilidade de reabertura das negociações entre Cruesp e Fórum das Seis enquanto houver suposta “obstrução de prédios”.

O encontro com lideranças locais dos funcionários durou quase uma hora e meia. Ao deixar o local, Zago ouviu vaias ensurdecedoras. A conversa foi frustrante, disseram os representantes da categoria, em assembleia realizada imediatamente depois, diante do Anexo A. “Enquanto tiver prédio trancado, enquanto não tirar corrente da Faculdade de Odontologia não vamos negociar”; “Vocês têm que saber que tipo de universidade querem”; “Se falar que não tem democracia na USP a conversa acaba”, foram algumas das declarações do reitor repassadas à assembleia pelos sindicalistas André Orlandin (Raposão) e Fernando Tremura.

“O reitor se mostrou muito truculento, principalmente com as mulheres”, acrescentou Tremura. “Mandou a gente se danar mesmo, insistiu no reajuste zero”. Dulce de Brito disse ter levantado a questão do cadastramento de dependentes no Sisusp, que Zago “não quis saber”, rejeitando de pronto. “Várias vezes ele acenou com a pauta específica”, contou. “Falou que mandou embora os coronéis [da Superintendência de Segurança], que ganhavam muito”.

Após a reunião com os funcionários, Zago conversou com alunos da Medicina e de outros cursos, num auditório da FMRP. A eles, declarou que “o Estado de São Paulo já repassa muito dinheiro para a USP” e que a universidade não dá retorno suficiente. Em resposta a uma questão levantada por alunos da Biologia — curso da FFCL-RP no qual 12 novas vagas de professores, aprovadas em 2013, foram “congeladas” pela Reitoria sem data para liberação — disse que a universidade não tem dinheiro para contratações. 

“Obstrução”

A reunião com um grupo de docentes, que havia sido solicitada pelo Conselho de Representantes da Adusp Regional de Ribeirão Preto, durou pouco mais de uma hora e foi realizada na mesma sala 2 do Anexo A em que o reitor havia recebido os funcionários horas antes. Quando se dirigia para lá, ainda no térreo, Zago declarou a um repórter da Folha de S. Paulo: “O Orçamento da USP hoje é de R$ 5 bilhões, todo ele comprometido com salário”.

A conversa começou com uma exortação do professor Plauto Watanabe (FORP) ao reitor para que se esforce em reabrir as negociações entre o Cruesp e o Fórum das Seis. Ao responder, Zago criticou a decisão das categorias de entrar em greve, e voltou a insistir em “pautas específicas” como eventual caminho de negociação: “Nós fizemos uma reunião inicial do Cruesp com o Fórum das Seis e dissemos que a situação financeira das três universidades, não só da USP, era muito grave; e que estaríamos dispostos a discutir as pautas específicas de cada uma das universidades. Os sindicatos se negaram. Entraram em greve. Passado algum tempo passaram a solicitar nova reunião. Dissemos que sim desde que sem obstrução de prédios. O impasse é que há prédios obstruídos”, afirmou, citando a Administração Central e um cadeado colocado na Clínica Odontológica da FO de São Paulo.

Indagado sobre os motivos de cancelamento da reunião do Co de 10/6, ele responsabilizou a greve pela decisão, contudo encontrou dificuldades para explicar por que foi possível realizar a reunião do Co de 3/6 (já durante a greve) sem nenhum problema.

“A situação financeira das universidades, as três, não é invenção minha; e não quero fazer ‘caixa 2’ para o PSDB, que foi a explicação mais exótica que ouvi”, disse o reitor, passando a detalhar suas alegações para arrochar salários: “A raiz é o comprometimento com a folha de pagamentos”. Na gestão anterior teria havido um número “descabido” de contratações de funcionários (2.414, elevando o total a 17.574), o que “nos transformou numa universidade de servidores”, sendo que “mais de metade dos servidores teve aumento de 100%”.

O professor Benedito Machado (FMRP) insistiu na importância da negociação: “O que nós queremos é que você discuta esses números no âmbito do Cruesp [com o Fórum das Seis]. Vamos debater esses números à exaustão”, propôs, ao que Zago retrucou: “Mas já foram [debatidos]”, e queixou-se do noticiário dos jornais. Machado então recorreu a uma metáfora, sugerindo que o reitor se veja como capitão ou timoneiro de um navio: havendo forças interessadas em “afundar esse navio”, ele teria que “conversar com a sua tripulação” para evitar o naufrágio. “Essa comunidade não pode ser tratada com essa dureza”, reforçou o professor, fazendo alusão à intransigência de Zago.

O reitor retomou a tese de que desconhecia a gravidade da situação financeira da USP (“o Conselho Universitário [Co] foi iludido, foi mal informado”, “há um vácuo legislativo da própria universidade que permitiu ao reitor” [J.G. Rodas] agir com grande liberdade), alegou que houve uma “administração caótica do ponto de vista financeiro” e obras sem lastro (dando como exemplos o Centro Internacional de Convenções e o “prédio de 16 andares na avenida Consolação para instalar a Procuradoria Geral da USP”), citou medidas de investigação dos fatos, como a contratação de uma empresa para realizar auditoria —  “se bem que estou achando até que isso não será necessário”.

O reitor tentou atribuir às entidades que compõem o Fórum das Seis a responsabilidade por ataques sofridos pela USP, acusando-as de “coação” e “chantagem” pelo fato de haverem encaminhado a greve contra o reajuste zero. A professora Bianca Correa (FFCLRP) contestou Zago: “Se há um tom de chantagem, é nos comunicados que vocês enviam”.

A professora Teise Garcia (FFCLRP), defendendo a greve como instrumento legítimo, frisou: “Nenhuma das entidades — nem Adusp, nem Sintusp, nem DCE — pode ser responsabilizada pela posição privatista da Folha de S. Paulo”.

No decorrer da conversação, o reitor aludiu ao processo de reforma do Estatuto conduzido pela Caeco, comissão por ele criada: “Estou muito decepcionado com a forma como este processo está caminhando. O debate caminha de maneira muito xoxa”. Ele queixou-se da falta de participação e do desinteresse da comunidade. Os docentes, então, redarguiram, argumentando que se trata de compreensível falta de confiança na estrutura de poder: “Como vou confiar num ente que não é confiável?”, ponderou o professor Machado, lembrando que o próprio Zago diz ter sido vítima de tal situação. “A intransigência dos reitores não ajuda”, aduziu.

“Visão ideológica”

Zago deixou claro que não pretende lutar por aumento de recursos para as universidades: “Nós vamos ter que resolver isso internamente, sem levarmos essa crise às portas do governo. Não existe ambiente para isso [aumento de repasses na LDO-2015] na Assembleia Legislativa. Existe uma visão política, até partidária, ideológica, de levar isso para o governo”. Ficou irritado quando a professora Bianca mencionou a subtração de repasses de ICMS do governo para as universidades, denunciada pela Adusp: “Não é verdade. A perda de repasses é um dado falso. Não tem que ser discutido”, contestou ele, dizendo basear-se em artigo do secretário Andrea Calabi, da Fazenda.

Diante das reiteradas manifestações do reitor de que não pretende cobrar quaisquer recursos adicionais do governo estadual, o professor Marcos Cassin (FFCLRP) questionou: “Mas a expansão realizada não foi a pedido do governo?”, ao que Zago desconversou: “Não sei, eu não estava lá”.  Mais adiante, diria que “não há compromisso [do governo estadual] relativo à EACH não atendido”, mas reconheceu que há um compromisso quanto a Lorena (EEL): “Já encaminhei ao governo. Mas isso representa [apenas] R$ 60 milhões por ano”.

Por fim, como justificativas para o arrocho, o reitor ainda acrescentou duas novas alegações às anteriores. Em primeiro lugar: “fazer reajustes salariais nesse momento é impossível, do ponto de vista técnico e do ponto de vista jurídico inclusive”. Em segundo lugar: as universidades públicas estaduais e o Centro Paula Souza graduam 40 mil pessoas por ano, muito pouco segundo ele, uma vez que “o governo estadual investe R$ 10 bilhões por ano” no sistema. Essa afirmação motivou a imediata indignação dos docentes.

“Nós juntos temos que defender a universidade pública. Por favor, nosso reitor não pode falar isso”, disse o professor Machado em tom de repreensão. “Sobretudo se os deputados lêem no jornal o que o reitor diz, como as críticas ao RDIDP”, emendou a professora Bianca, fazendo referência a recente entrevista concedida por Zago ao jornal O Estado de S. Paulo.

No final da reunião, os docentes entregaram ao reitor uma carta aberta intitulada “Quem manda no Cruesp? Quem cancelou a reunião com o Fórum das Seis?”, que pede a imediata retomada das negociações salariais e apresenta diversas reivindicações, entre as quais a revisão imediata da “decisão que impede aos trabalhadores do campus de Ribeirão Preto atendimento médico via convênio a seus filhos recém-nascidos”.

Encerrada a reunião, os professores trocaram ideias sobre o seu teor e sobre o comportamento de Zago. Ficaram impressionados com a intransigência demonstrada por ele e a coincidência de posições com a do governo Alckmin.

Foi publicada uma versão reduzida desta matéria no Informativo nº 384

EXPRESSO ADUSP


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