A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo anunciou, no Diário Oficial de 19/1, uma grande mudança no currículo das escolas estaduais que migraram para o sistema de ensino em tempo integral. A reformulação implica que 297 instituições não mais ofereçam aulas que incluam conteúdos de ciências, geografia e história nos três primeiros anos do ensino fundamental.

A prioridade absoluta passa a ser o ensino da gramática e matemática. No 1º e 2º anos, os estudantes terão 15 aulas de língua portuguesa por semana, o que equivale a 60% da carga horária do período. Serão seis aulas de matemática (25% da carga horária semanal), e quatro aulas de educação física e artes. No 3º ano, a carga horária de matemática aumenta para 40% e a de língua portuguesa cai para 35%.

Carta divulgada em março pela Associação Nacional de História (Anpuh) critica a medida (leia em http://goo.gl/poeld). Em abril, o Grupo de Estudos da Localidade (ELO) do Laboratório Interdisciplinar de Formação do Educador (Laife) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) também divulgou texto contrário à reformulação: “Não é possível reduzir o processo de ensino-aprendizagem do Ensino Fundamental a mero treinamento do aluno para o preenchimento de provas padroni­zadas. Tal ação inibe e reduz, substancialmente, a utilização de diversas outras linguagens e tecnologias essenciais para possibilitar a leitura autônoma e reflexiva do mundo atual”, diz o documento, cuja ínte­gra está disponível em http://goo.gl/VXYiq.

 

A professora Andréa Coelho Lastória, coordenadora do Laife e do grupo ELO, acredita que “a reformulação, no fundo, é para atender as exigências dos fundos de financiamento internacional, que fazem com que existam avaliações externas no país, como o Saresp [Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo] e o PISA [Programa Internacional de Avaliação de Alunos]”. A decisão tomada pelo governo estadual, afirma ela, ignora os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) das disciplinas excluídas: “Os PCNs valorizam o ensino de história e geografia desde a educação infantil”.

A carta do grupo ELO foi aprovada pelo Departamento de Educação, Informação e Comunicação e encaminhada à Congregação da FFCLRP. “Daqui a alguns anos, se continuar assim, isso vai se refletir no ensino superior. Já está se refletindo no ensino fundamental II, quando o aluno chega ao 5º ano sem saber ler um mapa ou sobre a história de seu próprio país ou região”, adverte Andréa.

 

Informativo nº 363

EXPRESSO ADUSP


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