Defesa da Universidade
Audiência pública sobre demissões lota auditório
Daniel Garcia |
Ô Reitoria, que papelão! Lá na USP é processo e demissão!”: gritos de guerra como estes, cantados por estudantes e funcionários, deram a tônica da audiência pública sobre as demissões de cerca de 270 funcionários e a crise na USP, realizada na tarde de 24/3 na Assembléia Legislativa (Alesp), por iniciativa do deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL).
Depuseram na audiência representantes do Sintusp, DCE, Adusp, Núcleo de Consciência Negra (NCN) e dos funcionários demitidos pela Reitoria, além do professor Chico de Oliveira (FFLCH) e uma ex-aluna da EACH. Diversos deputados do PT e um do PDT compareceram ao auditório Franco Montoro e expressaram sua solidariedade aos manifestantes.
Embora convidado, o reitor Grandino Rodas não compareceu à audiência. A Reitoria foi representada, pelo professor Wanderley Messias, coordenador de relações institucionais da USP, que compôs a mesa. Messias ouviu todos os oradores, contudo retirou-se após altercação com dois manifestantes que se aproximaram dele.
A ameaça de extinção do curso de Obstetrícia e de redução de 330 vagas nos cursos da USP Leste fizeram com que grande parte dos estudantes presentes fosse da EACH.
Compra de imóveis
Giannazi abriu a audiência afirmando perplexidade em relação aos últimos atos do reitor. Após destacar a ameaça de expulsão de 24 estudantes (julgados com base em regimento disciplinar de 1971), leu documentos oficiais da Reitoria relacionados à compra, pela USP, de imóveis na Rua da Consolação (por R$ 7,425 milhões), na Avenida Paulista (R$ 6,630 milhões) e no Centro Empresarial de Santo Amaro (espaços e garagens, num total de R$ 23,827 milhões).
O deputado lamentou a ausência do reitor, mas apontou a importância da manifestação da comunidade: “Essa audiência pública já é uma vitória, pois é muito difícil conseguirmos mobilizar o governo de São Paulo para questões educacionais”.
Chico de Oliveira lembrou que antes de José Serra só outro governador, Paulo Maluf, optara por escolher, para reitor, um nome que não fosse o primeiro da lista tríplice saída do colégio eleitoral: “Se eles prestassem mais atenção, não cometeriam tal despautério. Os problemas da USP se devem a uma estrutura anacrônica, quase ditatorial”. E propôs: “Vamos rodar o Rodas”.
“Filhote do Gama”
Magno Carvalho, diretor do Sintusp, considera que a USP está se rendendo a interesses privados: “Quase 1.800 funcionários foram transferidos do campus. Mandá-los da universidade para o centro empresarial da zona sul de São Paulo é ilustrativo do que há na cabeça desse sujeito”.
Thiago Aguiar, diretor do DCE-USP, destacou a questão da ameaça de redução de vagas nos cursos da EACH: “Rodas diz que tem que diminuir vagas para poder aumentar a relação candidato/vaga a fim de melhorar a qualidade dos alunos da Universidade. Ou seja, os alunos da EACH são de baixa qualidade, é isso que está afirmando”.
O professor João Zanetic também se pronunciou sobre a EACH: “Os cursos da USP Leste deveriam atender à demanda da zona leste”. Sobre o reitor, o presidente da Adusp declarou: “Rodas não conhece a USP. Ele é um filhote do Gama e Silva” (em referência ao reitor que se tornou ministro da Justiça da Ditadura Militar).
“Afronta”
Zelma Marinho, representante dos funcionários aposentados demitidos em janeiro, contou que após diversas tentativas um grupo foi recebido por Rodas. Ela relatou as declarações irônicas de Rodas aos funcionários: “Não se preocupe, nós ofereceremos assistência psicológica” e “colocaremos [vocês] de volta no mercado de trabalho”. Nesse momento, o representante do reitor deixou o auditório sob vaias.
“A atitude do representante da Reitoria de sair intempestivamente, sem chegar a dizer nada, é uma afronta ao legislativo e aos setores da universidade presentes”, declarou ao Informativo Adusp o professor Adrian Fanjul (FFLCH), presente à audiência. “Ele fez um papelão”.
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