Defesa da Universidade
Em pesquisa do DCE-Livre da USP, 65,6% dos alunos responderam que estão conseguindo estudar “de forma prejudicada” com o sistema de aulas remotas
Uma pesquisa online realizada pelo DCE-Livre “Alexandre Vannucchi Leme” apontou que 65,6% dos estudantes que responderam estão conseguindo estudar, porém “de forma prejudicada”, com o sistema de aulas a distância adotado na USP durante a pandemia da Covid-19. Outros 16,5% responderam que não estão conseguindo, enquanto apenas 17,8% avaliaram que “sim, com tranquilidade”. Quase um terço (31,7%) respondeu não possuir um espaço adequado para estudar em sua residência. Participaram do levantamento 6.711 estudantes de todos os campi da universidade.
Na avaliação dos dirigentes da entidade, a “forma prejudicada” se refere especialmente a duas dimensões: “Sempre discutimos que o ensino remoto não substitui o presencial em termos de aprendizagem. Ao mesmo tempo, muita gente não tem condições de estudar num cômodo privativo, com equipamento à disposição. Então os impactos ocorrem tanto pela questão pedagógica quanto pelas limitações socioeconômicas”, disse ao Informativo Adusp Julia Köpf, aluna da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e integrante da Diretoria do DCE-Livre.
O relatório resultante da pesquisa — Ensino e permanência na USP durante a quarentena — ressalta que é importante considerar que o fato de a pesquisa ter sido divulgada e preenchida por meio digital já representa um filtro que exclui os estudantes com mais dificuldade de acesso à internet. Entre os que participaram, 5,7% qualificaram como ruins ou péssimas as suas condições de acesso à rede durante a pandemia. “É fundamental que esse grupo seja levado em consideração em todas as escolhas, principalmente levando em conta a permanência estudantil”, defende a entidade.
Além de reunir os resultados do levantamento, o relatório traz uma lista de treze reivindicações estudantis para o segundo semestre de 2020 – cujas aulas serão reiniciadas, de forma não presencial, na próxima terça-feira (18/8), de acordo com o calendário anunciado pela Reitoria em junho.
Entre as reivindicações apresentadas pelo DCE-Livre estão: gravação de todas as aulas online e sua disponibilização nas plataformas por tempo indeterminado; não cobrança de presença em aulas ao vivo, uma vez que os estudantes podem ter problemas de acesso à Internet; avaliações não síncronas, por meio de trabalhos individuais ou em grupo, resenhas ou testes online; flexibilização e extensão dos prazos para a entrega de atividades, evitando sobrecarga dos estudantes; suspensão dos pré-requisitos para o primeiro semestre de 2021; manutenção de todas as bolsas acadêmicas e de permanência durante o período da pandemia; instalação imediata de Internet e reforma das lavanderias e cozinhas do Conjunto Residencial da USP (Crusp); retomada das aulas presenciais apenas quando houver condições sanitárias, com garantias para toda a comunidade universitária. O relatório da pesquisa, contendo as reivindicações dos estudantes, foi entregue à Reitoria da USP.
O DCE-Livre considera que a suspensão de pré-requisitos para o segundo semestre de 2020 e o adiamento de alguns prazos, como o de trancamento parcial, foram conquistas das negociações do primeiro semestre. Na última terça-feira (11/8), a Pró-Reitoria de Graduação confirmou que o plano de acesso para os kits de internet distribuídos aos alunos com dificuldades socioeconômicas será ampliado de 20 Gigabytes para 60 Gigabytes por mês. O aumento da capacidade era defendido pelo DCE-Livre, uma vez que as atividades de ensino serão mantidas em forma remota.
Metade dos estudantes considera péssima ou ruim saúde física e mental na quarentena
A maior parte dos estudantes que responderam à pesquisa é favorável à adoção de um período de reposição das aulas “após a normalização da situação”: 30,5% disseram que sim, para todas as disciplinas, e 36% defendem que somente para as disciplinas práticas.
Na avaliação de 57,1%, a carga horária das aulas em forma remota “condiz parcialmente” com a das presenciais; 15,3% consideram que condiz totalmente e 27,6% que não condiz. O curso continuou ocorrendo remotamente de forma integral na avaliação de 62,9% dos estudantes e parcialmente para 36,8%.
A cobrança de presença não tem sido feita em nenhuma aula, avaliam 41,6% dos respondentes. Apenas 7,2% afirmaram que a presença é cobrada em todas as aulas. Já as atividades extraclasse têm sido pedidas em todas as disciplinas (38,6%) ou na maioria delas (41,8%). Provas e avaliações também ocorreram em todas as disciplinas para 42%, ou na maioria delas para 38,6%. Os prazos foram flexibilizados pelos docentes em todas as disciplinas (18,3%) ou na maioria delas (49,2%), enquanto 9% responderam que não houve flexibilização em nenhuma.
De acordo com 88,3% dos estudantes as plataformas utilizadas para o ensino remoto são adequadas, enquanto 11,7% consideram que não. Os softwares mais utilizados são o Google Meet e o Moodle/e-Disciplinas. Uma das reivindicações apresentadas no relatório, por sinal, é de que seja oferecido um “curso preparatório para docentes, de modo que possam se familiarizar melhor com as plataformas virtuais”.
Numa escala de 1 a 5 para avaliar a sua produtividade com o ensino remoto, 41,9% dos estudantes a consideram péssima ou ruim. Para 23% a resposta foi boa ou ótima, enquanto 35% optaram pelo meio do caminho (nota 3). Em relação à saúde física e mental, também numa escala de 1 a 5, a metade (50,2%) considera-a péssima ou ruim. A escolha por boa ou ótima foi feita por 17,8% dos estudantes, e a nota 3 teve 32% das respostas. A maior parte dos estudantes (65,1%) respondeu que mora com alguém considerado do grupo de risco para a Covid-19, enquanto 34,9% disseram que não.
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