Condições de trabalho
Depois da suspensão das aulas, situação dos servidores e do pessoal terceirizado preocupa sindicatos das universidades estaduais
Numa das unidades da USP, funcionárias da limpeza questionam as condições de segurança no local de trabalho e no transporte público. “As reitorias não podem se esconder ou se omitir no cuidado da vida destes trabalhadores e trabalhadoras”, afirma o Fórum das Seis em carta aberta ao Cruesp sobre a pandemia do novo coronavírus. A defesa da vida “deve ser o centro das ações das universidades e da comunidade universitária”, diz o documento
O comando de mobilização do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) aprovou a paralisação das atividades dos servidores até que a Reitoria suspenda as atividades presenciais na universidade em decorrência da pandemia do novo coronavírus.
“É irresponsável esperar até segunda-feira (23/3) para dispensar apenas uma parcela da categoria, deixando a restante, como se esta fosse imune às complicações ou como se não pudessem transmitir a doença para parentes e conviventes que estão no grupo de risco. Quantos de nós não moramos ou convivemos com pais idosos, pessoas com doenças crônicas que dependem do nosso apoio?”, pergunta o Sintusp em boletim publicado nesta quinta-feira (19/3).
Na última terça (17/3), em reunião com diretores das unidades, o reitor Vahan Agopyan disse que “vivemos um cenário delicado, mas a USP não vai parar”. No final de semana, por conta da determinação do governador João Doria (PSDB) de suspender as aulas nas instituições públicas e privadas do Estado, o reitor anunciou que docentes e servidores com 60 anos de idade ou mais, além de portadores de doenças crônicas, teriam ponto facultativo na USP a partir do próximo dia 23/3.
Na segunda-feira (16/3), a 1a vice-presidenta da Adusp, professora Michele Schultz Ramos, e membros da Diretoria do Sintusp reuniram-se com o coordenador-executivo do gabinete do reitor, procurador Carlos Eduardo Trevisan de Lima, para tratar, entre outros temas, do encaminhamento da suspensão de todas as atividades presenciais na universidade.
As entidades entregaram uma cópia da carta aberta na qual pedem providências e tratamento isonômico para estudantes, professoras/es, funcionárias/os autárquicas/os, celetistas ou terceirizadas/os. Também solicitaram audiência com o reitor para detalhar os procedimentos para a suspensão. Até a tarde desta quinta, a reunião ainda não havia sido agendada.
“O que vocês vão fazer por nós?”, pergunta uma trabalhadora da limpeza
Uma das grandes preocupações manifestadas pela Adusp e pelo Sintusp é com relação à situação do pessoal terceirizado. “A Reitoria está mantendo milhares de terceirizadas e terceirizados trabalhando, mesmo aqueles no grupo de risco, sem nenhuma garantia para que possam se resguardar sem prejuízos nos salários e no trabalho. No caso da limpeza, os contratos são feitos com as unidades, então essa exposição também é responsabilidade de cada um dos diretores de unidade”, diz o boletim do Sintusp.
Numa das unidades da USP no câmpus do Butantã, funcionárias terceirizadas da limpeza deram depoimentos a docentes sobre as suas condições de trabalho e o medo das consequências de uma possível exposição ao novo coronavírus. Para evitar possíveis retaliações da empresa, a unidade não será identificada.
“Eu gostaria que a gente tivesse mais segurança. Usar máscara, ter mais opção de luvas. Porque no caso da gente da limpeza a gente não usa máscara. Eu gostaria de usar e acho que minhas companheiras também. Quando vai lavar o banheiro a gente usa luva, mas deveria ter mais luva para recolher o lixo, entrar nas salas. No meu caso, eu sou banheirista e entro sempre nas salas dos professores e eu precisaria de luvas para recolher esses lixos e limpar as mesas delas”, disse uma trabalhadora.
“A crise está deixando muitas pessoas com medo no trabalho, no ônibus, no transporte… Em tudo quanto é lugar a gente está com muito medo, com a família, filhos, pais, avós, pessoas que trabalham com a gente, a gente corre muito risco de pegar a doença (…). Convive com muita gente e não sou só eu que estou com medo, minhas companheiras de serviço também estão, minha família também. Aí eu gostaria de saber o que a gente poderia fazer sobre esse assunto, como se prevenir também. Alguma coisa assim para ter uma base, porque a gente não tem base de nada”, testemunhou outra funcionária.
A preocupação com a aglomeração no transporte público para chegar ao local de trabalho também foi manifestada pelas funcionárias. “É muita gente, muito fechado, tem bastante gente espirrando, eu acho que é muito contagioso”, afirmou uma delas. “A gente pega trem, metrô para vir trabalhar todos os dias e está sendo muito difícil, nós estamos muito preocupadas com isso. O que é que vocês vão fazer por nós?”, perguntou outra trabalhadora.
A situação dos filhos e netos que, sem aulas nas escolas, precisarão ficar sob o cuidado de outras pessoas é mais um motivo de preocupação para essas funcionárias. “A gente não sabe o que vai fazer. Tem gente que não tem ninguém para estar cuidando dos filhos nem dos netos nem nada. Vai deixar essas crianças com quem?”, resumiu uma das trabalhadoras.
Fórum das Seis solicita reunião urgente com Cruesp
A atenção ao pessoal terceirizado é um dos temas da carta aberta sobre a pandemia do novo coronavírus divulgada nesta quarta-feira (18/3) pelo Fórum das Seis, que reúne as entidades de docentes e servidores da USP, Unesp, Unicamp e Centro Paula Souza. O documento é endereçado ao Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), a quem o Fórum solicita a convocação urgente de um encontro “para a discussão e deliberação de medidas de contenção da pandemia e de diminuição dos impactos da crise junto à comunidade universitária”.
No texto, as entidades afirmam que as instituições de ensino, “como instâncias da produção de conhecimento, devem se colocar a favor de ações que permitam o distanciamento social de seus trabalhadores e trabalhadoras, pois essa é, sem dúvida, a principal forma de evitar que um grande número de pessoas não só se contaminem, como também venham a levar os sistemas de saúde do nosso Estado a uma situação de saturação e inoperância”.
“O Fórum das Seis reconhece as ações realizadas pelas administrações universitárias até o momento para a contenção do coronavírus e afirma que é fundamental que todas as vidas sejam preservadas. Este deve ser o centro das ações das Universidades e da comunidade universitária”, diz o documento.
Entre outras ações, defende o Fórum, é preciso que o Cruesp, em conjunto com o governo estadual, libere todos os trabalhadores e trabalhadoras que realizem atividades não essenciais nas universidades e no Centro Paula Souza. “Medidas de proteção devem ser adotadas por todas as unidades de trabalho consideradas essenciais, sem exceções, considerando os grupos de risco e o rodízio de profissionais, inclusive com o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados e em número suficiente a todas as pessoas. Essas medidas, obrigatoriamente, devem incluir as/os trabalhadoras/es terceirizadas/os. As reitorias não podem se esconder ou se omitir no cuidado da vida destes trabalhadores e trabalhadoras, sob o manto da terceirização. Ao contrário, elas devem garantir a preservação das vidas de servidores duplamente penalizadas/os”, afirma a carta aberta das entidades.
Em manifestação publicada também na quarta-feira, a Adusp ressalta que “a situação atual pode trazer prejuízos à saúde física e mental das pessoas e, não raro, pode comprometer a atuação acadêmica e profissional”. “Tais prejuízos precisam ser evitados a todo custo e espera-se que a USP cuide para que isso não aconteça. A administração universitária tem a obrigação de promover tratamento isonômico de todas/os que garantem o funcionamento da instituição, o que não tem ocorrido”, prossegue o texto.
Em relação às atividades didáticas, a Adusp registra sua preocupação “com a tentativa da Reitoria de impor unilateralmente e de modo açodado a adesão indiscriminada a atividades não presenciais”. Essa escolha “desorganizará por completo a retomada das aulas presenciais, imporá um tratamento desigual e excludente às/aos estudantes, e poderá, eventualmente, legitimar a disseminação do ensino não presencial na universidade, inclusive em situações de normalidade”, prossegue a entidade.
A Adusp finaliza sua manifestação afirmando que “a USP precisa agir com sensatez, de modo a cuidar das pessoas, evitando submetê-las a estresses laborais e emocionais num momento que exige precaução, prudência e, sobretudo, a preservação da vida!”
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