EACH
Nakao nega contaminação da EACH e diz que docentes querem “melar o governador”
Após declarar que professores da unidade “são do PT” e querem usar estudantes “como massa de manobra”, dirigente da SEF desculpa-se
O professor Osvaldo Nakao, dirigente da Superintendência do Espaço Físico (SEF), foi oficialmente designado pelo reitor Marco Antonio Zago, desde o início da atual gestão, como “gestor da crise” da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH). O reitor prometeu prioridade no encaminhamento das questões da unidade e a escolha de um responsável para cuidar do problema parecia sinalizar a seriedade das preocupações da Reitoria.
Apesar do antagonismo que logo se criou entre, de um lado, a conduta de Nakao — surpreendentemente, sempre empenhado em minimizar os riscos existentes no campus leste — e de outro lado o movimento de docentes, funcionários e estudantes, sempre houve um grande esforço das categorias para manter um relacionamento cordial e franco com o titular da SEF.
Por essa razão, é chocante o teor de um vídeo divulgado em 13/4 no You Tube, que reproduz fragmento de uma conversa sua com estudantes da EACH, gravada por um celular. Nakao volta a surpreender ao agir não como “gestor da crise”, mas sim como um quadro político disposto a combater os movimentos sociais por enxergar neles adversários do governo estadual, portadores de segundas intenções.
O vídeo reproduz uma conversa em ambiente agitado, no qual aparecem Nakao e estudantes. O diálogo reproduzido tem início com uma aluna, que acaba de receber o cartão de apresentações de Nakao, indagando: “Mas os professores falam que ‘tá”… (ou seja: a área da EACH está contaminada). Ao que Nakao responde: “Não! Isso é para usar vocês como massa de manobra”. Repete com ênfase: “Usar vocês como massa de manobra”.
A aluna então pergunta: “Mas como assim? Por que os professores estão impedindo, então…?” Nakao responde antes que ela complete a frase: “Porque eles querem melar o governador, primeiro. Porque eles são do PT, do PCO, do movimento operário… Tá? Isso é a primeira coisa. E a segunda é que muitos deles querem voltar lá pra USP” (refere-se ao campus do Butantã).
A aluna insiste: “Você diz que não está contaminada, e os laudos?” “Todos os laudos eu posso mandar pra você, todos os laudos”, responde Nakao, e se despede.
As declarações de Nakao ensejam a leitura de que, de fato, a Reitoria não acredita nos riscos ambientais e nos riscos para a segurança (estes decorrentes da presença de gás metano no subsolo) existentes na EACH. Tudo se resumiria, como bem observou o estudante Gustavo Ramalho num comentário no You Tube, a uma “intriga da oposição”.
O destempero do superintendente do Espaço Físico desnudou o modo como a instituição USP, por meio de sua Reitoria, relaciona-se com o cabedal de informações já disponíveis sobre a EACH no âmbito das ciências ambientais e das geociências.
Ao negar que a unidade esteja contaminada, Nakao e a USP fazem tábua rasa de todo o conhecimento científico acumulado sobre o campus leste ao longo de mais de uma década, tanto por seu próprio corpo docente como por agências fiscalizadoras como a Cetesb, e reconhecido pelo Ministério Público Estadual e pela Justiça.
Convidado pelo Informativo Adusp a comentar o episódio, Nakao pediu desculpas pelas “expressões inadequadas utilizadas naquele momento”, afirmando que não teve “intenção de ofender quem quer que fosse”. Na sua opinião, as declarações sobre a EACH “não devem ser retiradas do contexto de uma conversa tensa, em que o cansaço e o desgaste infelizmente acabaram prevalecendo”.
Segundo o professor, no dia 9/4, ao conversar, numa Fatec, com um grupo de alunas da EACH “nas instalações provisórias para servir as refeições aos estudantes, fui surpreendido por uma aluna que disse que a culpa de tudo era do governador e do reitor”.
Assim, alegou, “depois de todos os esforços desenvolvidos, em cerca de 60 dias de trabalho diuturno, para encaminhar a solução dos problemas que levaram à interdição do campus da USP Leste e paralelamente para encontrar espaços onde as atividades de ensino pudessem ocorrer evitando assim a perda do semestre letivo, essa provocação me fez momentaneamente mudar de conduta”.
Nakao disse que tem “cultivado o diálogo ao longo desse processo, em diversas reuniões e encontros com a comunidade da USP Leste”, citando como exemplos uma aula magna que proferiu na Tenda Ortega y Gasset para os ingressantes de 2014 e artigo que redigiu a convite do jornal do Grêmio da Poli.
“No encontro da Fatec, minha disposição foi tentar, como todo professor deve fazer, mostrar o outro lado. A opinião, a decisão, sempre deve ser autônoma, mas para isso não se pode ser ‘leitor de um livro só’. No contexto desse diálogo, ofereci o meu contato para que as alunas pudessem buscar as informações corretas por meio dos laudos e estudos existentes para só então tirar suas conclusões”.
Na avaliação do professor Ciro Correia, presidente da Adusp, o episódio tem implicações graves e a justificativa apresentada pelo superintendente Nakao é inaceitável: “Infelizmente, o pronunciamento vai muito além de ‘expressões inadequadas’ no ‘contexto de uma conversa tensa’. Ele acusa indiscriminadamente os docentes de uma escola da USP de agirem com vieses partidários contra o reitor e o governador, diante de uma questão ambiental cuja gravidade e responsabilidade da USP e do governo são inequívocas, quando confrontadas com os motivos que levaram a justiça a determinar a interdição do campus leste e o MPE e o TCE a agirem para obter apuração de responsabilidades”.
Ainda no entender do presidente da Adusp, outra acusação feita por Nakao aos docentes também merece ser repelida: “Ele acusa ‘muitos docentes’ da EACH de estarem agindo com a intenção de ‘voltar para a USP’, revelando o conceito subliminar de que o campus da USP Leste não seria parte da universidade. Ou pior, colocando sob suspeição a dedicação e empenho dos docentes daquela unidade, que desde sua implantação lutam contra toda sorte de arbitrariedades e adversidades para, com dedicação e idealismo, ali realizarem seu trabalho, motivados pela convicção da importância de que uma universidade pública como a USP esteja presente na região”. “Urge que a Reitoria se pronuncie oficialmente a respeito”, enfatiza Ciro.
Existe uma versão reduzida desta matéria no Informativo nº 380
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