Realizado no Salão Azul da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) em 23/10, o ato “Somos Todos EACH”contou com o comparecimento de professores e estudantes de outras unidades da USP, que tiveram a oportunidade de tomar contato com a realidade física e os problemas do campus leste. O ato foi coordenado pelo professor Ciro Correia, presidente da Adusp.

O professor Américo Kerr (IF), estudioso da poluição ambiental, foi o primeiro convidado a se manifestar. Como preâmbulo de suas considerações sobre a EACH, Américo fez uma rápida síntese histórica da relação entre homem e Natureza, no tocante aos impactos negativos da atividade humana no meio ambiente.

“O homem causa problemas ambientais antes mesmo de ser homo sapiens”, assinalou, para em seguida lembrar o uso do fogo pelos hominídeos e relacionar o nomadismo a prováveis estragos provocados ao ambiente por primitivas populações humanas. Avançando no tempo histórico, observou que a agricultura está ligada à devastação de florestas e citou comentários de Platão, para quem “a vegetação das colinas mal dá para alimentar as abelhas”, e Sêneca, que registrou o “ar putrefato”que saía das chaminés de Roma.

De qualquer modo, disse Américo, o grande crescimento da contaminação e dos problemas ambientais veio a ocorrer durante a Revolução Industrial. Em 1792, a brutal poluição do ar gerada pela intensa atividade fabril chegou a causar mais de 3 mil mortes em Londres, em pouco mais de uma semana.

Sobre a capital paulista, o professor do IF mencionou que a frota automotiva já é superior a 7 milhões de veículos e que a poluição gerada pelos combustíveis por ela consumidos é o mais grave problema ambiental da cidade, provocando 3 mil mortes anuais. “O rio Tietê não existe mais, é um canal altamente poluído”, definiu ele.

Américo qualificou a questão da EACH como problema gravíssimo: “O que mais impressiona é que a administração desta instituição, que tem pesquisadores que estudam o problema, faça uma coisa dessas”. Para ele, o que explica o comportamento da Reitoria é o autoritarismo vigente na USP, que se agravou durante a Ditadura Militar, por meio do controle ideológico, que levou a universidade a, por exemplo, rejeitar um contrato com o arquiteto Oscar Niemayer. “O movimento de vocês é fundamental, por expor o autoritarismo e lutar para conseguir qualidade de vida na cidade”, arrematou.

Também convidada especial, Maria Luiza Schimdt (IP) declarou sentir-se honrada de representar colegas do Butantã naquela ocasião, fazendo referência ao coletivo de trabalho sobre danos psíquicos provocados em manifestantes pela violenta reintegração de posse da Reitoria em 2011. Esse coletivo resultou na criação do Grupo de Trabalho Direitos Humanos da Adusp (GTDH). “Precisamos unir forças contra o autoritarismo na USP”, destacou a professora.

Ela recordou que J. G. Rodas, nomeado reitor pelo então governador José Serra, foi o segundo colocado na lista tríplice, e caracterizou assim a gestão que agora se encerra: “Deixou um rastro de autoritarismo, ausência de diálogo, esvaziamento deliberado das instâncias de representação política”. O trecho foi um dos mais marcantes de um texto que ela pediu licença para ler. Ao final, foi aplaudida de pé pelo plenário.

“O professor Edson Leite [diretor interino] está prometendo sindicância para os alunos que ocuparam a Reitoria”, revelou a professora Adriana Tufaile (EACH), diretora da Adusp, que também denunciou “o vandalismo e a formação de quadrilha que a gente tem na administração da escola”. Ela resumiu o rol de crimes ambientais praticados na área desde 2011: “5,8 hectares do campus foram cobertos com a terra ilegal. A administração sabia dessa contaminação e não impediu nosso contato com essa terra”.

Adriana fez questão de reler a pauta de reivindicações do movimento. Ela advertiu que, apesar das conquistas, a reivindicação de afastamento da direção só foi parcialmente obtida, pois o vice-diretor Leite assumiu a direção e “tem a coragem de enfrentar a comunidade”. Ela apontou a absurda lacuna institucional da USP, que não prevê em seus regimentos a possibilidade de destituição de dirigentes: “Impeachmentde presidente pode, de diretor não!”

A propósito desse assunto, o professor Ciro chamou a atenção do plenário para a matéria publicada no Informativo Adusp 371, intitulada “Desde 2011, Reitoria sabe da conduta comprometedora do diretor Boueri ao permitir aterro ilegal na USP Leste – Gestão Rodas foi omissa quanto à terra clandestina e contaminada — e complacente com a direção da EACH”. O presidente da Adusp destacou que os documentos que revelam a negligência da Reitoria só foram obtidos graças à pressão do movimento, e anunciou que a diretoria da Adusp já decidiu ingressar com um processo judicial por improbidade administrativa contra os dirigentes universitários envolvidos nesses episódios, caso a Reitoria não atenda a solicitação de abertura de processo administrativo para apuração das responsabilidades e determine o afastamento da atual direção da escola durante o seu trâmite.

A próxima a falar foi Fabiana Pioker, representante dos funcionários da EACH, que apresentou um detalhado retrospecto dos crimes ambientais cometidos na USP Leste. Comentou que, por haver ocorrido em ano eleitoral (2004), o governo estadual realizou uma escolha política do local do campus, repleto de contaminantes. Ela demonstrou que, desde a emissão da primeira licença prévia pela Cetesb, sucessivos condicionantes formulados pela companhia ambiental foram descumpridos pela USP: “Fica patente o quanto a direção da unidade mentiu”, frisou ela.

Quanto ao aterro de 2011, Fabiana informou que a terra clandestina foi extraída do solo de uma antiga fábrica de isolamento térmico, por uma empresa demolidora de construções da Vila Formosa. “A área central do campus deveria ter sido isolada e não foi”, denunciou, acrescentando que somente em 2013 houve a demarcação e foram colocadas as placas de advertência.

“Impossível que ninguém tenha comido a terra”, disse, a propósito da afirmação que a terra só contamina quando ingerida, explicando que há estudantes que jogam rugbi e outros que participam do “banho de lama”, sem contar o fato de que partículas de terra são transportadas pelo vento. Na EACH, “não dá para separar a causa ambiental da causa política”, concluiu.

A estudante Júlia Mafra (EACH) lembrou que a unidade é “recorde em sindicâncias”. Ela historiou os fatos que levaram ao afastamento do diretor e à greve, lembrando que os estudantes pautaram a renúncia de Boueri, que se recusou a assinar carta neste sentido, propondo então a realização de uma Congregação aberta. “Neste dia nasceu um movimento unido das três categorias pela mesma causa: transformar a EACH”.

Marcelo, do DCE, destacou que na EACH há sempre novos problemas estruturais. “O curso de Educação e Saúde não tem piscina e a reforma do ginásio vai custar R$ 4 milhões”, denunciou. Entre as vitórias do movimento, destacou a realização da consulta para eleição de diretor(a): “Hoje foi a primeira reunião da comissão eleitoral paritária”.

Após o final do ato, docentes e estudantes das outras unidades foram levados para conhecer o campus leste. Grupos se formaram para percorrer as diversas dependências da EACH.

EXPRESSO ADUSP


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