E as aulas recomeçaram. Faz apenas três semanas (!). O ritmo acelerado dos últimos anos está de volta após um breve intervalo, em geral de menos de um mês. Não temos tido tempo sequer de parar para pensar se esse ritmo é compatível com a natureza do nosso trabalho, quanto mais para questionar a forma como temos sido obrigados a desenvolvê-lo: publicar é a palavra-chave que nos torna bons ou maus profissionais; mas não basta publicar, temos que publicar em determinadas revistas; mas não basta publicar em determinadas revistas, temos que ser muito citados; mas não basta publicar bastante e ser muito citado, temos que orientar muitos alunos; mas não basta publicar bastante, ser muito citado e ter orientandos; estes precisam terminar suas dissertações e teses em tempo recorde, senão…

Enquanto isso, nossas salas de aula de graduação recebem cada vez mais alunos, que precisam ser avaliados, cujas provas e trabalhos precisam ser corrigidos, que precisam de atendimento e orientação. E, mais ainda, temos que dar conta de preencher vários relatórios, de participar de diferentes comissões e colegiados, de ter projetos temáticos aprovados, sem os quais não conseguimos financiamento para pesquisa. Quanto tempo aguentaremos?

Pensamos que esse ritmo, que nos tem sido imposto, não só é inadequado, mas pode interferir diretamente na qualidade do nosso trabalho. Por isso, mais que dar conta dele, precisamos, com urgência, refletir acerca das suas consequências sobre cada um de nós, enquanto indivíduos, e sobre o conjunto da sociedade, que sustenta e precisa do trabalho desta universidade.

Acreditamos, por outro lado, que esse ritmo alucinante pode piorar ainda mais, caso a carreira com níveis horizontais, aprovada pelo Co em março do ano passado e suspensa até agora devido às ações judiciais promovidas pela Adusp, venha a ser implementada.

Prazer da pesquisa

Não por acaso, em 13/5, a Regional da Adusp de Ribeirão Preto promoveu um debate intitulado “Previdência e carreira docente na USP” voltado, principalmente, aos docentes concursados após 2003, atingidos pela reforma da previdência que eliminou a aposentadoria integral e ameaçados, agora, por essa reforma da carreira. Um dos docentes da USP de Ribeirão Preto, participante da mesa do debate, afirmou que o produtivismo, que distorce a carreira, bem como a perda da aposentadoria integral, constituem uma séria ameaça ao Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP) e à concepção de universidade crítica que sempre prezamos. Outro colega de Ribeirão Preto acrescentou: os bons salários e o prazer da pesquisa eram fundamentais para que um pesquisador se sentisse atraído pela carreira docente.

Há mais de sessenta anos, o saudoso físico José Leite Lopes, um dos docentes atingidos pela aposentadoria compulsória em 1969, em um discurso pronunciado em 1948, defendia a dedicação exclusiva como condição de existência de uma universidade:

“O trabalho de investigação científica, a pesquisa literária e filosófica, exigem todas as horas do dia, todos os dias do mês, todos os meses do ano. Sem esta equipe de homens devotados a ensinar, criticando fundamentadamente o que outros descobriram, e a ensinar o que eles próprios são levados a descobrir — como um corolário que decorre da necessidade de se criar para se compreender melhor — sem esta equipe de homens assim devotados, não existe universidade. (…) E esta equipe, este material humano, é que é o patrimônio número um da universidade. Não é propriamente uma universidade aquela cujos professores são obrigados a exercer funções alheias às suas atividades universitárias, a fim de poderem viver ou sobreviver.” (“Einstein e Outros Ensaios”. Os Cadernos de Cultura, MEC, 1949, pp. 59-60).

No próximo dia 30/8, realizaremos a primeira reunião, neste semestre, do Conselho de Representantes (CR) da Adusp, que tem entre os temas de sua pauta a discussão sobre prioridades de ação para a entidade nos próximos meses. Queremos convidá-lo a se integrar a essa discussão, apresentando sugestões ao seu representante ou entrando em contato com a Adusp por meio do endereço secretaria@adusp.org.br. Nós, da diretoria da Adusp, acreditamos que, com sua participação, poderemos tornar mais efetivas as campanhas que viermos a empreender; acreditamos que o modelo de universidade vigente precisa ser revisto e repensado; e que isso deve ser feito democraticamente, com a participação ampla do corpo docente. Por isso, acreditamos ser hora de parar. Parar para pensar. Pensar para agir. Agir, juntos.

 

Informativo n° 311

EXPRESSO ADUSP


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