Saúde
Más condições de trabalho na USP Leste
Comunidade padece com poluição atmosférica e 95% dos docentes têm contratos precários
Olhos vermelhos, irritados, rinite alérgica são algumas das queixas freqüentes entre funcionários, estudantes e professores que convivem no campus da USP na Zona Leste. A forte poluição da área vem agravar um quadro de condições de trabalho já incertas para uma unidade, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), que tem 95% de seus docentes contratados por processo seletivo, ou seja, “precários”.
Apesar de uma resolução do Conselho Universitário, de 2004, determinar que o ingresso na universidade se dê exclusivamente por concurso público, exceto em casos especiais, os chamados “precários”, que não têm garantias, são cerca de 1.000 na USP — aproximadamente 20% do total. Na EACH, 123 dos 131 docentes foram contratados por processo seletivo. Foram abertas 71 vagas, e todas serão preenchidas por processo seletivo. Assim, quando estiverem concluídas as novas contratações, a EACH contará com 202 docentes, dos quais 194 (96%) “precários”.
Quanto aos problemas ambientais enfrentados pela comunidade universitária em meio à zona industrial, remetem a uma antiga luta dos moradores do Jardim Keralux, bairro vizinho. Dentre as fábricas ali instaladas, destaca-se negativamente a atuação da Bann Química, fornecedora de insumos químicos para borracha de pneus. Desde 1989, a empresa foi multada 33 vezes pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), por emitir poluentes atmosféricos fora dos padrões ambientais e despejar resíduos industriais diretamente no rio Mongaguá, afluente do Tietê. Em agosto de 2006, a Bann Química foi interditada pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente e vem buscando, recentemente, adaptar suas instalações e voltar a operar normalmente.
O Jardim Keralux conta com cerca de 20 mil moradores, dos quais 6 mil se encontram na área mais fortemente poluída. Segundo reportagem do Jornal da Tarde, de 30/6/06, a Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro é a que mais atende pacientes, 40 por dia, entre as 12 UBS de Ermelino Matarazzo. Os sintomas mais comuns: sangramento nasal, dores de cabeça, distúrbios respiratórios e dermatológicos, tosse, coriza e irritação na garganta.
E a USP?
Embora relatórios preliminares à implantação do campus não tenham apontado a contaminação do solo, a proximidade do Jardim Keralux parece indicar que a USP Leste não está livre da poluição atmosférica acentuada da região. “A gente tem muita queixa respiratória, de pele também”, relata o professor Pablo Ortellado, do curso de Gestão de Políticas Públicas. “À noite, em especial, é um cheiro insuportável”.
Desde dezembro de 2005, a USP foi convidada a participar de reuniões intersetoriais com moradores do Jardim Keralux e representantes de órgãos estaduais e municipais, relacionados à saúde e ao meio-ambiente. As empresas locais também receberam convite para participar. As reuniões, organizadas inicialmente pela UBS da comunidade, foram instituídas com o objetivo de analisar os problemas da região e elaborar propostas que apontem para soluções efetivas.
“É a perspectiva de a gente conseguir atrair muitas pessoas e ver se solucionamos o problema dessa população. Eles, na verdade, estão numa situação pior que a nossa, estão assentados num terreno contaminado de fato”, explica Cristina Adams, docente do curso de Gestão Ambiental. A professora avalia que o grupo de professores e estudantes que acompanha as discussões deve procurar fazer com que a USP siga participando de forma efetiva. “Inicialmente, seria um papel no sentido de pesquisa, de levantamento de dados”, diz Cristina.
Matéria publicada no Informativo nº 226
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