Saúde
Uso de acaricidas no campus de Ribeirão Preto provoca danos, advertem docentes
![Uso de acaricidas no campus de Ribeirão Preto provoca danos, advertem docentes](https://adusp.org.br/wp-content/uploads/2012/08/Arealago.png)
Parecer técnico da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) também aponta problemas no plano da Prefeitura do campus
Uma suposta infestação de carrapatos-estrela na USP de Ribeirão Preto fez com que a Prefeitura do Campus implantasse, em novembro de 2011, um plano de contenção do problema. As medidas adotadas causam protestos de docentes, que argumentam ter havido pouco diálogo sobre o assunto com a comunidade acadêmica ligada à área ambiental. Além disso, são apontadas dúvidas quanto ao acerto do conjunto de ações idealizadas e coordenadas pelo agrônomo Carlos Alberto Perez, que não tem vínculo funcional com a universidade.
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Vista aérea do lago no campus de Ribeirão Preto, notando-se à esquerda a localização de um dos bandos de capivaras. A USP quer conter os animais, alegando risco de febre maculosa |
Professores da área de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) encaminharam representação ao Ministério Público (MP), em que solicitavam providências: “Em novembro do ano passado, foi realizada audiência na qual apresentamos as nossas restrições”, conta a professora Elenice Mouro Varanda. Segundo a representação ao MP, “o conjunto de ações propostas pela Coordenadoria é inviável ambientalmente e apresenta segurança questionável à saúde dos usuários do campus”.
O documento sustenta que o projeto adotado pela Coordenadoria é falho por não detalhar os métodos de aplicação e de monitoramento do acaricida escolhido (piretróide), que pode contaminar pessoas, em especial as crianças da creche existente no campus. No entanto, a representação foi arquivada em julho último: “O MP alega que o veneno utilizado é autorizado para ser aplicado sem causar danos ao ambiente”, completa Elenice.
Ao Informativo Adusp, o prefeito Osvaldo Bezzon disse ter havido diálogo: “No dia 6 de outubro de 2011, a Prefeitura do Campus convidou pesquisadores, principalmente da FFCLRP, e o Presidente da Comissão de Meio Ambiente, para reunião que aconteceu no dia 7 de outubro de 2011 na sala do Conselho Gestor, com o agrônomo Carlos Alberto Perez, consultor junto à diretoria e coordenador de pesquisas e controle do carrapato-estrela no campus da Esalq-USP”, destinada ao “mapeamento das pesquisas em desenvolvimento no campus e esclarecimentos quanto às ações referentes ao combate dos carrapatos”.
A contratação do consultor teria sido sugerida pelo promotor de justiça, revela o prefeito: “O nome do agrônomo Carlos Alberto Perez surgiu em reunião do professor Sebastião de Almeida, então diretor da FFCLRP, no Ministério Público. O MP chamou o professor Sebastião em função da presença de gambás com carrapatos no campus (…). Como o professor Sebastião informou que na FFCLRP não existia especialista nesta área, o próprio promotor citou o nome do agrônomo Carlos Alberto Perez, pois sabia do ocorrido na Esalq, em Piracicaba”.
Febre maculosa
Em parecer técnico divulgado em novembro de 2011, o Núcleo de Estudos de Doenças Transmitidas por Carrapatos da Superintendência de Controle de Endemias de São Paulo (Sucen) destacou problemas no plano de trabalho proposto para o campus de Ribeirão Preto: falta de informações sobre o número de pessoas parasitadas e sobre as áreas que frequentam, a fim de delinear de forma precisa a região a sofrer intervenções; pouca clareza quanto às metodologias utilizadas para a contenção dos carrapatos; e ausência de explicações sobre a metodologia utilizada para identificação de vetores transmissores da febre maculosa, transmitida pelo carrapato-estrela.
“A febre maculosa se inicia com dores de cabeça e, se não for tratada logo, tem grande chance de levar à morte”, explica Adriano Pinter, técnico da Sucen, que não recomenda o uso de acaricidas no ambiente, por serem extremamente tóxicos para peixes, abelhas e outras espécies. “Mesmo que o produto tenha uma eficiência para a eliminação de 95% dos carrapatos, ainda restam 5% no ambiente suficientes para continuar o ciclo e manter a infestação alta”, diz Pinter.
Uma forma de controle de carrapatos, explica o técnico da Sucen, é o corte da grama, ou roçagem, “que permite que _raios solares incidam diretamente no solo matando os ovos dos carrapatos; mas para que isso funcione, a roçagem deve ser feita no final do verão, nos meses de fevereiro e março”, ou seja antes da eclosão dos ovos. “A única forma definitiva de conter a população de carrapatos é diminuir a população de capivaras”, afirma Pinter, “mas é muito importante que isso seja feito de forma gradual, não se deve retirar animais do local ou colocar cercas que separem os animais da fonte de alimento, pois isso desequilibra o bando e pode fazer com que os animais migrem para outros lugares transferindo o problema para outras partes”.
A professora Kátia Ferraz, que leciona Ciências Florestais na Esalq, disse ao Informativo Adusp que, naquele campus, os resultados do uso de acaricida não foram animadores. “Depois que o projeto de contenção começou a funcionar, a infestação de carrapatos não melhorou; pelo contrário, temos a forte impressão de que piorou muito em várias áreas. Hoje, temos carrapatos em regiões em que não tínhamos antes”.
Capivaras
Além da aplicação de acaricidas, o projeto implantado no campus de Ribeirão Preto prevê cercar as áreas onde vivem os seus hospedeiros, as capivaras. Acredita-se que a presença desses animais esteja relacionada à infestação. E, se picadas por carrapatos infectados pela Rickettsia rickettsii, bactéria causadora da febre maculosa, elas se tornam fonte de infecção.
Patrícia Monticelli Almada, professora da FFCL-RP, está fazendo um levantamento da população de capivaras no campus Ribeirão Preto desde março: “Não vejo descontrole no número de capivaras. Meu estudo, ainda que não esteja completo, não me leva a achar que haja mais do que 50 animais aqui. E a literatura considera de 40 a 60 animais uma população baixa”. As áreas ocupadas por eles totalizam 63 hectares e estão em íntima associação com fontes de água: o lago e o córrego Laureano. “Não tivemos nenhum caso comprovado de febre maculosa na USP Ribeirão Preto e nenhum carrapato foi retirado diretamente de uma capivara. Precisamos de tempo para o devido estudo epidemiológico”. Patrícia chama atenção para os riscos da contenção de capivaras: “São animais territorialistas e agressivos, é complicado cercá-los. A situação pode levá-los a matarem uns aos outros” .
Informativo nº 350
O Projeto Políticas promovido pela ADUSP Regional Ribeirão Preto,
convida os docentes para Mesa Redonda:
Capivaras e Carrapatos: Estratégias de Manejo
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