A morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, em 18/5, chocou a Cidade Universitária do Butantã, mostrando uma vez mais que esse campus não é uma ilha dentro de São Paulo, e que as autoridades da USP têm-se descuidado de medidas elementares de segurança. O aluno da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) foi assassinado por assaltantes com um tiro na cabeça, ao lado de seu automóvel, no estacionamento da unidade.

No dia 19/5, cerca de 300 alunos se reuniram em frente ao prédio da FEA para pedir maior segurança no campus, onde já vinham ocorrendo, nas semanas e meses precedentes, casos de sequestros-relâmpago e furtos. Durante o ato, após ler uma carta aberta em repúdio à falta de segurança, os alunos se dirigiram à Reitoria para entregá-la ao reitor Grandino Rodas.

A carta, assinada pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu (FEA), apontou os problemas que favorecem a criminalidade no campus: “Um primeiro ponto diz respeito à falta de iluminação adequada não só nos arredores da FEA, mas em todo o campus. Também há falta de vigilantes no perímetro das unidades. Os reais problemas de segurança na USP, enfim, precisam ser corretamente diagnosticados”.

Em 20/5, o Conselho Gestor do Campus da Capital reuniu-se em caráter extraordinário para reavaliar o Plano Emergencial de Segurança aprovado em 3/5, que prevê diversas mudanças: melhoria da iluminação, maior controle na entrada de carros, instalação de mais câmeras, atualização do centro de controle de câmeras especiais nas portarias (focando placas e condutores), ampliação do sistema de comunicação por rádio digital etc. Há também intenção de construir um edifício ao lado do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para servir como base para uma segurança integrada do campus.

Protocolo

Na mesma reunião, a minuta de um protocolo que garantirá juridicamente parceria da Guarda Universitária com a Polícia Militar (PM) foi aprovada por unanimidade. Segundo o presidente do Conselho Gestor, professor José Roberto Cardoso, “o protocolo está em elaboração”.

O Informativo Adusp indagou quais os gastos orçamentários previstos e o que havia sido decidido em relação à presença da PM. O professor preferiu tangenciar: “Combinamos de discutir o protocolo assim que ficar pronto. A partir de sua conclusão terei condições de responder”.

A USP pretende que os policiais escolhidos para trabalhar no campus sejam sempre os mesmos e que passem por treinamento em policiamento comunitário, com a finalidade de se integrarem à população da Cidade Universitária. Porém, as entidades rejeitam a presença da polícia, até por não haver garantias de que resultará em segurança (no dia em que Felipe foi assassinado, a PM fazia uma blitz dentro do campus do Butantã).

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) declarou ao Informativo Adusp que a presença ostensiva da PM na Cidade Universitária traz uma falsa sensação de segurança e afeta a liberdade de expressão e pensamento.

“Como podemos observar na mídia, a PM de vários estados reage de maneira truculenta a manifestações políticas legítimas, como a luta contra o aumento da passagem de ônibus (em São Paulo e Vitória), a greve dos bombeiros, a Marcha pela Liberdade de Expressão, na USP em 2009 e 2007, e outras”, justifica Thales Carpi, diretor do DCE. “Entendemos ser prejudicial ao desempenho da vida universitária a sua presença”. Carpi frisa ainda que a questão da segurança no Brasil é um problema estrutural.

Debate na Poli

No dia 2/6, o debate intitulado “Violência e Segurança na USP”, realizado pelo DCE na Escola Politécnica, reuniu 250 pessoas. Contou com a participação da professora da FAU e relatora de Direitos Humanos da ONU, Raquel Rolnik, do professor Vladimir Safatle, da FFLCH, e de um representante do DCE. O presidente do Conselho Gestor e diretor da Poli, professor José Roberto Cardoso, foi convidado, mas não compareceu.

Diversas sugestões de medidas preventivas foram levantadas e bem recebidas. A professora Rolnik apontou que lugares mais movimentados são os mais seguros, o que “corrobora a nossa visão de que os campi da USP são hostis à presença da sociedade e, por isso, são pouco frequentados”, diz Carpi.

Ainda segundo o diretor do DCE, exigiu-se responsabilidade da Reitoria, que se recusa a debater a questão e, sobretudo, vem apresentando “soluções falsas e imediatistas”, que recaem na discussão simplista entre apoiar ou não a entrada da PM no campus do Butantã. Nos dias subseqüentes ao assassinato na FEA, o reitor Grandino Rodas chegou a declarar a um jornal: “Outros morrerão”. Na verdade, houve assassinatos no campus do Butantã em anos anteriores (inclusive de vigilantes, vítimas de assalto a mão armada), sem maior repercussão na mídia.

 

Informativo n° 327

EXPRESSO ADUSP


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