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Debate sobre a Universidade marcou a abertura pública do IV Congresso
Auditório lotado, presentes professores, funcionários e alunos, todos interessados em discutir o modelo de universidade que queremos. O debate entre Marilena Chauí e Luiz Carlos Bresser Pereira, que marcou a abertura pública do IV Congresso da USP, demonstrou a força que o evento vai ganhando, e a importância das discussões que ele trará.
Na avaliação do professor João Zanetic, que faz parte da comissão organizadora do Congresso, um dos principais méritos do debate foi realizar o contraponto entre dois possíveis modelos de universidade. Um, defendido por Bresser, que se fundamenta em princípios “de eficiência”, muito mais quantitativos que qualitativos, e encontra reflexo, por exemplo, na avaliação dos docentes com base no número de artigos publicados. De outro, o modelo exposto por Chauí, de uma universidade crítica, reflexiva, aberta a questões que possam interessar a todo o conjunto da sociedade e no qual a educação é colocada como um dever do Estado.
Em torno dessa discussão, foram levantadas também questões sobre a relação da Universidade com o “mercado”, seu financiamento, e o conceito de universidade pública dos dois debatedores. A
pesar de frisar que existem outros modelos que podem ser discutidos, Zanetic considera que “essa grande participação em um debate conceitual sobre o tema é muito positiva”. Além de destacar a importância de os alunos estarem presentes em peso e interessando-se por essa discussão conceitual, ele entende que o debate conseguiu também revelar a complexidade do tema.
O próximo número do Jornal do IV Congresso deve trazer ampla matéria sobre o debate, informando também a agenda de reuniões da comissão organizadora. Lembrando que outras atividades gerais para a USP serão programadas, a comissão destaca a necessidade de as unidades realizarem reuniões preparatórias para o Congresso.
Abaixo algumas idéias apresentadas no debate.
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“Aceitei o convite para participar de um debate na USP, patrocinado pelos professores da Universidade, com a Marilena Chauí, sobre a Universidade. Aí ví que o título é A Universidade que Queremos, Crítica ou Produtiva. Ou produtivista, não sei. Vou ficar com ‘produtiva’. Se tivesse que escolher entre uma Universidade crítica e uma produtiva, eu não teria a menor dúvida, ficaria com a crítica. Mas não creio que opor universidade crítica a universidade produtiva seja uma forma feliz de enfrentar o problema” “A Universidade tem que ser crítica. Mas que significa ser produtiva? Se você for crítico, então você não pode ser produtivo? No meu entender, uma universidade produtiva é fundamentalmente uma universidade que produz conhecimento, ensino, pesquisa e publicações” “O sistema universitário público estatal no Brasil está em crise. Que crise é essa? Por quê os salários são tão baixos na Universidade brasileira? Por quê a produção acadêmica é relativamente baixa? Essa crise está acontecendo porque a Universidade estatal brasileira é ineficiente e vista como não produtiva, tem um custo para a sociedade que é alto demais em relação àquilo que a sociedade pode pagar por ela, e porque vive uma crise de legitimidade no sentido weberiano do termo” “Temos que ser eficientes, que produzir, que nos preocupar com nossos custos, e temos que viabilizar alguma coisa que seja politicamente possível” |
“Nós estamos impedidos de realizar o trabalho da docência, e os alunos estão impedidos de receber cursos universitários. O professor, a partir de um determinado momento, ano após ano, repete a mesma aula, porque não tem tempo de preparar outra. Mesmo porque ele vai ser avaliado pelo número de papéis, de livros, de notas de rodapé, de congressos, de colóquios e do raio que o parta!” “Essa história de que nós temos que avaliar o custo/benefício em função de quanto custa cada aluno por professor, ou de quanto custa um professor para cada 50 alunos, é a morte do trabalho universitário” “O benefício é a formação. Então tem que diminuir o número das classes, tem que aumentar o número dos professores, e sobretudo tem que fazer concurso, para contratar os professores, porque é um escândalo nessa universidade o professor precário, o professor flexibilizado” “Exigência do mercado no Brasil é rotina, repetição, tudo que não inclui nem inovação, nem criatividade, nem originalidade, nem profundidade. Originalidade e criatividade o mercado pede para as agências de publicidade. Para nós, não” “Estou convencida de que uma das estratégias de quebra do prestígio, do poder e da expansão da burocracia de tipo administrativo-empresarial na USP passa pela reconsideração, de ponta a ponta, das fundações” |
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