Universidade pública versus mercado foi uma das polêmicas centrais em debate sobre EàD em Bauru
Bahiji Haji / Fórum das Seis
ead
Realizado na Unesp, debate reuniu 120 pessoas

No dia 21/10, teve início em Bauru, no campus da Unesp, o “I Fórum de Debates sobre EàD”. A atividade é fruto do acordo firmado entre o Fórum das Seis e o Cruesp, em junho, durante as negociações da data-base 2009, de estimular na comunidade universitária a reflexão sobre o ensino à distância e o projeto Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), consórcio criado pelo governo paulista em 2008 e que envolve a Unesp, a Unicamp e a USP, o Centro Paula Souza e demais instituições públicas, como Fundação Padre Anchieta (TV Cultura) etc.

Este primeiro encontro teve como tema central “EàD: Por que e para quem? Limites e possibilidades”. Pelo Fórum, debateram os professores César Augusto Minto (USP) e Maria Aparecida Segatto Muranaka (Unesp); pelo Cruesp, os professores José Armando Valente (Unicamp) e Cleide Mara Ribeiro Souza (Núcleo de Tecnologia Educacional de Morrinhos-GO).

Compareceram ao debate cerca de 120 pessoas — estudantes, professores e funcionários, oriundos da USP, Unicamp, Unimep de Piracicaba e dos campi da Unesp de Assis, Bauru, Marília e Rio Claro. O evento teve transmissão ao vivo pela Internet, inclusive com o recebimento de perguntas.

Mediação

Próximos debates

 

“Faltam professores para a Educação Básica? EaD é a solução?”

11/11/2009, das 14 às 18h, em Campinas (Unicamp).

Debatedores: Bernardete Gatti, Ivany Rodrigues Pino, Maria Elizabeth B. de Almeida e Otaviano Augusto Helene.

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“É possível formar bons profissionais para o país via EaD?”

02/12/2009, das 14 às 18h, em São Paulo (USP).

Debatedores: Edmundo Fernandes Dias, Klaus Schlünzen Junior,*Manoel Oriosvaldo de Moura e Sueli Guadelupe de L. Mendonça.

Ambos serão transmitidos pela Internet. Mais informações nos sites*das instituições, respectivamente www.unicamp.br e www.usp.br/prg

O professor Valente iniciou sua exposição conceituando EàD como uma modalidade de educação na qual a mediação didático-pedagógica ocorre por meio de tecnologias de informação e comunicação (TIC). Ele destacou a existência de três tipos de abordagem: a que se baseia no autodidatismo (com material de apoio e sem interação, no estilo “Telecurso 2000”); a que promove a virtualização da sala de aula tradicional (o professor dissemina a informação e utiliza material instrucional, mas a interação é pequena); e a que se ancora na mediação de educadores preparados (que estimulam o “estar junto virtual”).

O professor da Unicamp defendeu o terceiro tipo de abordagem e detalhou o que seria “estar junto virtual”: a combinação de atividades presenciais com plataformas on-line, nas quais o aprendiz tem a oportunidade de descrever suas indagações ao professor e compartilhá-las com uma rede de pessoas. Para ele, isso significa que o professor tem “voz” e pode “ouvir” o estudante. “É óbvio que não dá para fazer um sistema como esse em massa e sim, no máximo, com 20 ou 25 alunos por instância de aprendizes”, frisou.

Em sua exposição inicial, o professor César Minto procurou destacar as principais características que têm marcado o uso de EàD no país: a formatação de cursos modulares; a oferta de cursos aligeirados; os períodos qualificados como presenciais resumem-se, geralmente, ao encontro de estudantes com monitores e/ou tutores; precarização do trabalho docente, com a substituição deste profissional por monitores ou tutores temporários; fragmentação dos processos de ensino e de aprendizagem: quem planeja e monta o curso não é a mesma pessoa que o aplica e nem a que o avalia.

Minto também procurou desfazer a relação automática entre ensino à distância e tecnologias de informação e comunicação (TIC). “Todo aquele que critica essa relação, procurando delimitar seu alcance, é tachado de obsoleto, um ‘dinossauro’, como se tais tecnologias só pudessem ser usadas desta forma”.

Novo conceito

A professora Cleide centrou a exposição na descrição de suas experiências com a formação continuada de professores da rede pública de Goiás. Para ela, o EàD estabelece um novo conceito de espaço e tempo. “Em muitos casos, o tempo necessário é até maior do que o despendido na educação presencial, dependendo do ritmo do aluno”. A docente contou que o maior problema enfrentado em sua experiência com EàD é cultural: “As pessoas têm a idéia de que um curso à distância é necessariamente fácil, mas essa confusão se desfaz após o início da atividade”.

A professora Maria Aparecida citou o notório crescimento do EàD nas instituições privadas de ensino superior. Em 2000, havia sete instituições credenciadas pelo MEC; em 2007, já eram 97 instituições (ofertando 408 cursos), o que significa um crescimento de 1.385%.

Ela também destacou o boom do ensino superior privado. Na lista das 15 maiores instituições em número de estudantes, a USP aparece apenas em sexto lugar e a Unesp em nono. “Se crescemos tanto em oferta de ensino superior, por que o EàD?”, questionou. Para Maria Aparecida, a resposta é simples: parte considerável dos estudantes não pode mais pagar as mensalidades dos cursos presenciais. “Para essa clientela pobre, o EàD surge como uma alternativa mais barata e, de quebra, com maior facilidade de tempo”.

A docente da Unesp dedicou boa parte de sua explanação à crítica do uso de EàD na formação inicial, sobretudo de professores. Ela enfatizou que, neste caso, não se trata somente de exigir qualidade nas graduações à distância. “Com qualidade ou não, não podemos aceitar uma formação inicial que não seja presencial. Vida e ser humano são históricos e sua construção se dá na relação com o outro. E é na educação presencial que a troca é possível”, pontuou.

“Achar que um professor possa ser formado à distância é uma irresponsabilidade do ponto de vista de política pública sobre formação de professores e pode comprometer a educação de várias gerações”, completou Minto. Ele lançou um desafio aos defensores do EàD na formação inicial: “Será que deixariam seus filhos serem educados por um professor formado à distância?”

 

Matéria publicada no Informativo nº 296

EXPRESSO ADUSP


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