O Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP divulgou nota de repúdio pela “destruição das casas da Colônia Napolitana no Campus de Ribeirão Preto, levada a cabo pela Prefeitura daquele Campus” (leia íntegra ao final).

Conforme noticiou o Informativo Adusp, na manhã de 11/10 foram destruídas três casas do conjunto histórico remanescente do período da imigração italiana e da economia cafeeira na região. Uma quarta construção teria desabado.

Um protesto de ativistas impediu que todo o conjunto de oito casas fosse destruído. O advogado Lucas Gabriel Pereira, presidente do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac), e a professora Sílvia Maria do Espírito Santo, docente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) e ex-diretora do Museu do Café, chegaram ao local para uma vistoria e se surpreenderam ao constatar a derrubada. Solicitaram dos encarregados, então, que a obra de demolição fosse interrompida.

Pereira e Sílvia Maria explicaram aos responsáveis pela obra e a um representante da Prefeitura do Campus que a Colônia Napolitana consta do Inventário de Referências Culturais de Ribeirão Preto desde 2013 e, por ser construção adjacente ao Museu do Café, encontra-se em processo de tombamento pelo Conppac. Portanto, as casas não poderiam ter sido demolidas em hipótese alguma.

A USP deveria ser a primeira interessada na manutenção desse conjunto de imóveis, disse a professora ao Informativo Adusp. “São casas rurais, das quais existem poucos exemplares num território público. Trata-se de um complexo fazendeiro importante, e a sede da fazenda é um museu. É muito triste mesmo, é um sentimento de funeral. Aquelas casas têm uma memória afetiva”, afirmou.

Diretora do CPC não se manifesta sobre demolição

Numa trágica ironia, ao mesmo tempo que faz ruir edificações históricas em seus próprios domínios, a USP promove um seminário intitulado “Destruições/construções: fragilidades, ameaças e ressignificação do patrimônio cultural”. Promovido pelo Centro de Preservação Cultural (CPC) da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, com apoio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), o evento iniciou-se nesta quarta-feira e se encerra nesta quinta (26 e 27/10), na Casa de Dona Yayá, Centro de São Paulo.

A professora Flávia Brito do Nascimento, diretora do CPC e docente da FAU, declarou ao Jornal da USPque o encontro faria uma abordagem original a partir de casos ocorridos em todo o país sobre o tema. “A realidade das transformações e destruições ao patrimônio não é novidade, mas se agravou nos últimos anos”, afirmou.

De acordo com a reportagem, a professora citou como exemplos de destruição e agressão ao patrimônio cultural a privatização do Estádio do Pacaembu, “que resultou na demolição de parte do espaço de lazer tradicionalmente ocupado por camadas populares e das arquibancadas do estádio”, o incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, “e as enchentes e deslizamentos em Minas Gerais que foram temas amplamente noticiados que envolvem políticas de preservação e memória nacional, comprometidas pela precarização e sucateamento das instituições públicas nacionais de preservação”.

Na avaliação da professora, aponta o Jornal da USP, essas são “perdas irreparáveis e processos de luto que levam à construção de novos sentidos para as materialidades que restam, os vazios que ficam”.

O Informativo Aduspprocurou a professora Flávia Brito do Nascimento para comentar o caso da demolição das casas da rua Napolitana.

Entre outras questões enviadas por e-mail, a reportagem solicitou que a diretora do CPC se manifestasse sobre a pergunta que a professora Silvia Maria do Espírito Santo, da FFCLRP, fez em parecer encaminhado ainda em 2017 ao Grupo de Trabalho Casas da Rua Napolitana, constituído pela Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto: “O Centro de Preservação e Extensão da Universidade de São Paulo está envolvido nas questões do Campus de Ribeirão Preto: nas construções, conjuntos e sítios, Acervos e Coleções, Educação e Memória, Promoção e Interação Cultural, Documentação e Informação?”

Até o fechamento desta reportagem, a professora não havia respondido ao Informativo Adusp. Caso se manifeste, o texto será atualizado.

Íntegra da nota de repúdio do Departamento de História da FFLCH

O Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP vem a público manifestar sua indignação e repúdio à destruição das casas da Colônia Napolitana no Campus de Ribeirão Preto, levada a cabo pela Prefeitura daquele Campus. Tal ação, que desrespeita o Inventário Municipal e o parecer da ex-diretora do Museu do Café, Profa. Sílvia Maria do Espírito Santo, constitui-se em mais um ataque a nosso patrimônio histórico, agora agravado pelo fato de ser perpetrado em e por uma instituição dedicada à educação.

Solicitamos que a demolição seja imediatamente interrompida e que medidas sejam tomadas para a preservação das quatro casas ainda de pé.

EXPRESSO ADUSP


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