Defesa da Universidade
Funcionária(o)s paralisam HRAC, recusam “termo de anuência” e exigem participar da comissão de transição formada pela Reitoria
Funcionárias e funcionários do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru (HRAC-USP), o “Centrinho”, decidiram ir à luta. Nesta terça-feira (13/9), conforme haviam deliberado em assembleia uma semana antes, ela(e)s paralisaram suas atividades em protesto contra o prazo de 14/9 imposto pela Reitoria para que optem entre duas alternativas nada promissoras: 1) trabalhar para a Faepa, fundação privada escolhida pelo governo João Doria-Rodrigo Garcia (PSDB) para gerir o Hospital das Clínicas de Bauru, e assinar o chamado “termo de anuência”; e 2) pedir transferência para alguma unidade da USP.
A paralisação foi mantida mesmo depois que o superintendente do HRAC, Carlos Ferreira dos Santos, divulgou comunicado anunciando um novo prazo para a eventual assinatura do “termo de anuência”, 31/10, em claro recuo destinado a desmobilizar a categoria. O “termo de anuência” é um documento padrão cujo teor foi anexado à Portaria GR 7.784, de agosto de 2022, a qual autoriza “o início da fase de transição” para que as atividades do HRAC “passem, sem prejuízo ao atendimento à população, a ser desenvolvidas junto [sic] ao Hospital das Clínicas de Bauru (HCB)”.
Além de registrar que a(o) funcionária(o) está “ciente” do Acordo de Cooperação celebrado entre a USP e a pasta estadual da Saúde e que concorda em “prestar serviços nas instalações” do HCB, o “termo de anuência” repete o enunciado que consta do artigo 2o , parágrafo 1o da Portaria GR 7.784, a saber: “Em decorrência do desempenho das atividades no HCB a que diz respeito o caput, os servidores técnicos e administrativos da USP permanecerão vinculados à Universidade empregadora, cabendo-lhes, porém, observar os regulamentos internos e cumprir as diretrizes, normas gerenciais e hierarquias funcionais estabelecidas pela entidade gestora do HCB” (destaques nossos).
À(o)s servidora(e)s que, muito compreensivelmente, não aceitem submeter-se às chefias privadas e às orientações da Faepa, a Portaria GR 7.784 reserva um destino incerto, previsto no seu artigo 3o: “Aos servidores técnicos e administrativos da USP não absorvidos nas atividades do HCB será oferecida alternativa de lotação, mediante identificação de localidade e órgão administrativo no qual haja demanda das atividades da respectiva função”.
O absurdo desmanche do HRAC e o descaso com a situação funcional de mais de quinhentas trabalhadoras e trabalhadores terminaram por desaguar na paralisação desta terça. “Desde o início da manhã, ao invés de realizarem suas atividades normais, mais de 200 trabalhadores se reuniram em assembleia para discutir os passos dessa luta”, informa o boletim do Sintusp.
“O sindicato enviou ainda um reforço com diretores, cedebistas [membros do Conselho de Base do Sintusp] e ativistas da categoria vindos da capital. Também houve manifestações de apoio de estudantes, tanto de Bauru quanto de São Paulo”. A principal deliberação da assembleia foi a reafirmação da posição de que “ninguém assina o termo de anuência, ao menos até que haja uma condução democrática do processo de transição”.
Nova assembleia foi convocada para 27/9, e continua a luta para reverter a “desvinculação”
Ainda de acordo com o boletim do Sintusp, a pressão da paralisação levou um dos integrantes da Comissão de Transição nomeada pelo reitor a tentar se explicar. Cristiano Tonello, médico do HRAC, compareceu à assembleia e disse que havia sido nomeado para compor o grupo. Relatou que até agora não houve muitos encaminhamentos, e que a comissão é composta ainda pelo superintendente do HRAC e por Omar Hong Koh, da Procuradoria Geral (PG-USP).
“Os trabalhadores reafirmaram para ele a exigência de que essa comissão seja paritária, com representantes eleitos em assembleia”, diz o boletim do Sintusp. Ao final, a assembleia elegeu quatro pessoas com a incumbência de representar a categoria na Comissão de Transição, caso se conquiste essa possibilidade. Nova assembleia foi convocada para o dia 27/9 e foi reafirmada a luta para reverter a “desvinculação” do Centrinho, medida ilegal e ilegítima proposta pelo então reitor M.A. Zago e aprovada pelo Conselho Universitário em 26/8/2014.
“A paralisação foi muito boa”, declarou ao Informativo Adusp Cláudia Carrer, diretora do Sintusp e ex-representante dos funcionários no Conselho Deliberativo do HRAC. Na sua avaliação, o professor Tonello foi “evasivo” nas informações que prestou à assembleia. “Foram ditas a ele as reivindicações dos trabalhadores e ele se retirou. Daí a concentração foi para a frente do hospital e houve falas de mães de pacientes, de funcionários e diretores do Sintusp”.
Realizado na entrada do Centrinho “para estabelecer também diálogo com a população”, como frisa o boletim do Sintusp, o ato público, que reuniu diversas pessoas engajadas na luta em defesa do HRAC, repercutiu na mídia de Bauru, recebendo cobertura jornalística de redes de TV. “Durante a manifestação, foi mais uma vez denunciada a entrega do Centrinho à iniciativa privada, através de uma operação no mínimo estranha”, assinala o Sintusp.
A publicação do sindicato lembra que a Faepa, fundação privada que firmou com o governo estadual, sem licitação, contrato de gestão do Hospital das Clínicas de Bauru (que vai absorver o HRAC) por cinco anos e pela quantia total de R$ 300 milhões, é mantida por docentes da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), unidade de origem dos reitores M.A. Zago e Carlos Gilberto Carlotti Jr. O atual reitor chegou a presidir o Conselho de Curadores da Faepa.
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