Defesa da Universidade
Na USP de Ribeirão Preto, estudantes ocupam a “Filô” para exigir contratação de docentes para os cursos de Pedagogia e Biblioteconomia
Desde a noite de segunda-feira (17/10), estudantes dos cursos de Pedagogia e Biblioteconomia e Ciência da Informação ocupam o Bloco Didático da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) exigindo a contratação de professore(a)s para garantia de continuação da existência de seus cursos, ambos pertencentes ao Departamento de Educação, Informação e Comunicação (DEdIC). A ocupação foi precedida por diversas iniciativas do Centro Acadêmico de Pedagogia (CePed), entre as quais uma paralisação estudantil em 9/10 que reivindicou a abertura imediata de concursos públicos para admissão de oito docentes (quatro em cada curso).
Questionado a respeito da necessidade de atribuição de claros docentes para os cursos da FFCLRP durante sua visita ao campus de Ribeirão Preto em 5/8, como parte do programa “Reitoria no campus”, o reitor Carlos Gilberto Carlotti Jr. teria dado a entender, “em uma fala absurda, que nada faria, não reconstituiria os cargos possibilitando a contratação de professores!”, isso apesar de reconhecer que a USP dispõe de recursos financeiros para contratações. Por essa razão, Pedagogia e Biblioteconomia e Ciência da Informação estariam, na avaliação do Ceped, “fadados à morte”, não restando outra saída a não ser ocupar a unidade.
“Tendo em vista a situação de desmonte dos cursos de Licenciatura em Pedagogia e Bacharelado em Biblioteconomia e Ciência da Informação (BCI), tornou-se imediata a necessidade de intensificar os nossos protestos”, declarou o CePed em seu perfil no Instagram nesta quarta-feira (19/10). “As reivindicações em relação à contratação de professores têm sido feitas há muito tempo, no entanto, não estávamos sendo ouvidos, por isso entendemos que a conjuntura demanda a construção de greve e ocupação pela qualidade da educação no nosso departamento”.
De acordo com a Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia (ExNEPe), uma reunião com a Comissão de Graduação e o diretor da FFCLRP, em 9/10, não surtiu efeito, pois, “visando a justificar a falta de docentes, foi afirmado — frente aos professores presentes e, consequentemente, demonstrando desrespeito a eles — que o DEdIC era o departamento com menor carga horária trabalhada”. Em contrapartida, os estudantes reiteraram a necessidade urgente de abertura de concursos públicos para professores no DEdIC.
“Entendemos também que a greve e a ocupação são processos educativos. Aqui temos realizado diversas atividades dialógicas, debatemos, deliberamos, em um intenso processo de análise reflexiva”, diz o Ceped. “Neste sentido, é evidente que necessitamos de comunicação com a comunidade externa ao Bloco [Didático]. Por isso repudiamos o corte de Internet realizado desde o dia 17/10 ao final da noite!”.
O centro acadêmico considera que se trata de um ataque ao movimento: “Hoje, às 10h, recebemos comunicado sobre a restrição, afirmando que o ocorrido é em virtude da ausência de acesso às salas de trabalho da Seção Técnica de Informática. Entretanto, há Internet em todas as adjacências!”. Nesta quinta-feira (20/10), a diretora regional da Adusp, professora Patrícia Ferreira Monticelli, encaminhou ofício ao diretor da FFCLRP, professor Marcelo Mulato, solicitando informações sobre a falta de sinal wi-fi.
“Fomos procurados pelos(as) alunos(as) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto que estão em ocupação no Centro Didático (Bloco 16) desta unidade, com a queixa de que estão sem sinal de Internet wi-fi (Eduroam e USPnet) no local. Recebemos a informação de que os funcionários da Informática não estão trabalhando em suas salas naquele bloco, mas não entendemos a relação disso com a falta de sinal”, diz o documento.
No dia 18/10, o presidente da Comissão de Graduação da FFCLRP, professor Luis Henrique Souza Guimarães, emitiu comunicado sobre a ocupação, dirigido a todo(a)s o(a)s docentes da unidade, no qual afirma que, por se tratar de um bloco didático, “as salas de aula são utilizadas por diferentes cursos, os quais serão impactados”, e anuncia que estão sendo tomadas providências, “em parceria com os coordenadores de curso, no sentido de que as aulas possam acontecer em outros espaços”.
Guimarães informa também que “não há previsão de desocupação” até o momento. “A Comissão de Graduação e a Direção da Unidade estão acompanhando a situação de perto, buscando o diálogo e o melhor caminho para minimizar os impactos decorrentes desse momento. Esta Comissão está pronta para receber e atuar nas demandas que surgirem em decorrência da ocupação em andamento”, diz o comunicado.
A Adusp tem denunciado sistematicamente o agudo problema da escassez de docentes na universidade. Reportagem do Informativo Adusp publicada em agosto último revelou que, ao longo dos últimos oito anos, a USP perdeu 1.013 docentes efetivo(a)s. De acordo com levantamento realizado pela Adusp com base na folha de pagamentos, o número de docentes efetivo(a)s em junho deste ano foi de 5.048, contra 6.061 em setembro de 2014.
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