Manifesto e abaixo-assinado defendem o trabalho dessa instituição pública, que é referência em manejo de fauna silvestre, pesquisa científica aplicada, conservação de espécies ameaçadas e formação e especialização de profissionais

Um manifesto e um abaixo-assinado defendem o trabalho da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, ameaçada de extinção pelo projeto de lei (PL) 529/2020, que tramita na Assembleia Legislativa (Alesp). Além disso, caso ele seja aprovado, haverá privatização de parte das atividades hoje desenvolvidas pela instituição.
De acordo com o texto do PL, “a operação das atividades voltadas à visitação pública, educação ambiental e conservação do patrimônio público e dos ativos ambientais realizada em suas instalações serão [sic] transferidas à iniciativa privada, por meio de procedimento licitatório adequado”.

Por sua vez, “as atividades relacionadas ao desenvolvimento de pesquisas, gestão de unidades de conservação, fiscalização do Zoológico, Jardim Botânico e demais atividades públicas serão transferidas a entidades de ensino e pesquisa que compõem a Administração”.

O manifesto contra a extinção aponta algumas das principais características do trabalho da Fundação Parque Zoológico, como o de referência em manejo de fauna silvestre, em pesquisa científica aplicada, em conservação de espécies ameaçadas, em reabilitação de fauna e em formação e especialização de profissionais.

Entre os projetos que ela desenvolve estão pesquisas com a fauna do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), unidade de conservação que abarca um dos principais fragmentos de Mata Atlântica da cidade de São Paulo. “A Fundação atua como guardiã da fauna do PEFI, gerando conhecimento, monitorando, prestando atendimento e reabilitando a fauna que sofre com os impactos da urbanização”, registra o manifesto.

“Para onde irá todo o trabalho em prol dos animais silvestres e do meio ambiente?”

Os servidores do Zoológico foram pegos de surpresa com a inclusão da fundação no pacote de órgãos públicos extintos pelo PL 529/2020, qualificado como “um tsunami de maldades” pelo deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL). O desconcerto foi agravado pelo fato de que recentemente concluiu-se a montagem de um edital de concessão para a iniciativa privada da visitação e bilheteria, mas áreas como a pesquisa científica e os projetos de conservação continuariam com a fundação, que inclusive fiscalizaria as atividades da empresa vencedora da concessão.

“Existem zoológicos que realmente não têm condições de funcionar, mas nos últimos vinte anos o Zoológico de São Paulo mudou o seu paradigma. Trabalhamos com bem-estar animal, temos o maior complexo laboratorial de pesquisa aplicada em bem-estar e saúde animal da América Latina. Temos entrado na concepção de zoológicos modernos que existem nos Estados Unidos e na Europa. Não somos só um local de exposição, como alegam pessoas que dizem que exploramos os bichos”, afirma Patrícia Locosque, chefe do Departamento de Pesquisas Aplicadas da Fundação Parque Zoológico e orientadora dos programas de pós-graduação interunidades em Biotecnologia da USP e em Conservação da Fauna na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Desde 2018 a fundação é uma Instituição Científica e Tecnológica do Estado de São Paulo (ICTESP), realizando programas de pós-graduação e muitos projetos de pesquisa. “Temos programas de conservação de espécies ameaçadas de extinção, projetos em parceria para reintrodução de espécies ameaçadas no hábitat natural quando isso ainda é viável etc. São muitas coisas sendo feitas em prol dos animais silvestres e do meio ambiente. E para onde tudo isso vai?”, prossegue Patrícia.

A pesquisadora relata que a mobilização em prol da fundação tem tido adesão importante de colaboradores da USP, Unicamp, UFSCar e de outras universidades com as quais são mantidos projetos de parceria, além de zoológicos nacionais e internacionais, ONGs e da própria população.

“No meio de uma pandemia como a que estamos vivendo, a pesquisa científica tem que ser cada vez mas incentivada. Sabemos que muitas doenças como a Covid-19 vêm por meio de animais silvestres. Temos que cuidar, entender e aprender, e para isso dependemos do mundo científico. Mas no Brasil estamos indo na contramão do financiamento da pesquisa”, lamenta.

Na tarde desta quarta-feira (26/8), o abaixo-assinado em defesa da fundação já contava com quase 8.600 assinaturas.

EXPRESSO ADUSP


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