Fundações
Estudantes e Adusp debatem curso da FIA
Daniel Garcia |
O Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC), da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), promoveu em 30/3 um debate sobre o curso pago de Administração criado pela Fundação Instituto de Administração (FIA) e oferecido por intermédio da “Faculdade FIA de Administração e Negócios”. A primeira turma teve início em 2011 (Informativo Adusp 317). A Adusp participou do debate, fazendo-se representar por seu presidente, o professor João Zanetic. Também convidada, a FIA deixou de comparecer.
O professor James Wright, diretor educacional da FIA, afirma, em carta enviada aos alunos, que, embora inicialmente tivesse aceitado “de bom grado o convite”, mudou de idéia após ver afixados cartazes de outro evento, denominado “PornograFIA”, também promovido pelo centro acadêmico. “Tal atitude é um desrespeito inaceitável”, protesta ele. “Desta forma, recuso-me a participar de um evento promovido pelo CAVC com este tipo de postura parcial e leviana”. A carta do professor Wright foi lida pelos alunos no início da atividade.
Na resposta à carta do professor, o CAVC explica que o evento “PornograFIA” é um “espaço para o convívio e a integração dos estudantes” e que, se “seu título pode causar desconforto a alguns, isso se dá pelo nosso interesse em incentivar o debate e a livre-expressão de idéias, aproveitando-se de um fortuito e despretensioso trocadilho”. Acrescenta que “as notícias sobre a criação da graduação da FIA plantaram a desarmonia e propagaram a discórdia, no sentido aristotélico do termo, entre parte considerável do corpo discente”, e reitera o convite ao professor para debater o assunto.
Críticas
O presidente da Adusp (foto) fez uma exposição didática sobre a atuação das fundações privadas, as distorções que provocam (entre elas, os cursos pagos, em afronta ao artigo 206 da Constituição Federal) e apresentou as propostas da Adusp para combater a privatização do espaço público e os conflitos de interesses gerados pelas entidades ditas “de apoio”.
Os alunos fizeram severas críticas à qualidade do curso de Administração da própria FEA. Para eles, os docentes estão envolvidos nas atividades da fundação privada e relegam o curso da USP a um segundo plano. “O curso é muito ruim, e a maioria dos professores é da FIA, isso não é apenas uma coincidência”, disse um dos estudantes. Referindo-se ao curso oferecido na FEA, outro estudante expressou uma crítica contundente: “Na faculdade pública o aluno não tem opção de enviesar seu curso para administração pública”. Um terceiro completou: “Não temos nem optativas que mostrem o lado público da administração”, e comentou o desempenho inicial do primeiro vestibular do curso de graduação da FIA: “Foi um fracasso, só 50% das vagas foram ocupadas”.
Várias intervenções do plenário demonstraram insatisfação quanto à situação atual na FEA. “Não podemos pedir sala para estudar. É uma coisa muito estranha. As fundações fazem uma boa estrutura, mas não dá para estudar!” comentou uma aluna. A falta de liberdade foi abordada por vários estudantes. “Tudo precisa de ofício para a diretoria. Temos problemas com os cartazes da ‘PornograFIA’, que estão sendo arrancados pelos seguranças da FEA”, relataram os diretores do centro acadêmico. “Os murais têm que ser livres. A visão de mundo hegemônica precisa ser questionada”, afirmou enfaticamente o professor Zanetic. “O que a gente está fazendo aqui é um ato de resistência”, frisou.
Informativo n° 323
Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!
Mais Lidas
- Novo modelo proposto pelo MEC redireciona e elitiza a pós-graduação nacional, “formando para o mercado e não para a docência e pesquisa”, adverte GT do Andes-SN
- Sem dar detalhes, Carlotti Jr. anuncia início de estudos para nova etapa da progressão docente; na última reunião do ano, Co aprova orçamento de R$ 9,15 bilhões para 2025
- Em carta ao reitor, professor aposentado Sérgio Toledo (84 anos), da Faculdade de Medicina, pede acordo na ação referente à URV e “imediato pagamento dos valores”
- Diretor da Faculdade de Direito afasta docente investigado por supostos abusos sexuais; jurista contesta medida
- PRIP recebe movimentos e entidades representativas da comunidade para discussão de encaminhamento de casos de violência na USP