A Fundação Instituto de Administração (FIA) abriu inscrições para o “vestibular 2011” de seu novo curso (pago) de graduação em Administração. A notícia surpreende: a FIA foi criada na década de 1980 por professores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), que tem entre seus principais cursos, públicos e gratuitos, justamente o de Administração. O suposto propósito da entidade privada seria exatamente o de “apoiar” aquela unidade da USP.

A página eletrônica da FIA informa que a entidade mantenedora do curso é a Faculdade FIA de Administração e Negócios, instituição “credenciada pela Portaria MEC nº 750, de 26/05/2000, publicada no Diário Oficial da União, Seção I, de 30/05/2000”. Ainda segundo a própria FIA, o curso de graduação em Administração “foi reconhecido pela Portaria/MEC/SESU nº 346, de 23 de abril de 2007- DOU de 24/04/2007”.

A existência de uma “Faculdade FIA” credenciada pelo MEC há dez anos, mas mantida em sigilo durante todo esse tempo, é também surpreendente. Depreende-se que, tendo conseguido o aval do MEC ao funcionamento da instituição já em 2000, a preparação do curso de graduação coincidiu, nos anos seguintes, com o início das denúncias da Adusp contra as fundações privadas ditas “de apoio”, por meio das reportagens da Revista Adusp, a partir de março de 2001. A FIA preferiu, portanto, aguardar uma conjuntura mais amena.

Recorde-se que, em julho de 2001, a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) causou acesa polêmica ao tentar oferecer, em sua sede do lado de fora do campus, um curso pago de graduação em Atuária. Para tanto, a Fipecafi criou uma instituição de nome semelhante ao adotado pela FIA: a Faculdade Brasileira de Gestão e Negócios.

Reação e recuo

Após enérgica reação em contrário da Reitoria da USP, a Fipecafi teve de recuar. A seu pedido, a Faculdade Brasileira de Gestão e Negócios foi descredenciada pelo MEC, e o curso privado de Atuária não se concretizou (Informativo Adusp, edições 199 e 204). Na ocasião, a pró-reitora de Graduação, Ada Grinover, usou a expressão “conflito de interesses” para classificar a iniciativa da Fipecafi.

Se a FIA surgiu como entidade dita de apoio à FEA-USP, hoje esse propalado apoio sequer consta do estatuto da fundação. Em sua página na Internet, ela se define meramente como “entidade privada sem fins lucrativos [sic] estabelecida em 1980 por iniciativa de professores do Departamento de Administração” da faculdade.

Mas, apesar de haver tido o cuidado de se desvincular formalmente da USP (após usufruir, por décadas, do patrimônio simbólico e material da universidade), permanece o fato indiscutível de que a FIA é dirigida por professores da FEA-USP e seu corpo de coordenadores é constituído exclusivamente por professores da FEA-USP. Portanto, lançar um curso pago de graduação em Administração configura, claramente, conflito de interesses.

O Informativo Adusp encaminhou alguns questionamentos à Reitoria e à FIA. Não obteve resposta até o fechamento desta edição.

 

Informativo nº 317

EXPRESSO ADUSP


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