Defesa da Universidade
Quarteto de supergestores?
A gestão M.A.Zago-V. Agopyan elevou a um novo patamar a tradição vigente na USP de um reduzido grupo de professores titulares, chamados às vezes de “cardeais”, acumular cargos. A tradição, de per si suficientemente perversa, consistia geralmente nas participações concomitantes, em diferentes comissões estatutárias, de determinados personagens influentes, eventualmente agraciados também, ao mesmo tempo, com algum cargo executivo.
A gestão atual de certa forma inovou: agora, um mesmo personagem da estrita confiança da Reitoria exerce, simultaneamente, dois ou até mesmo três cargos executivos estratégicos.
O professor José Antonio Visintin acumula a direção da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) com a Superintendência de Prevenção e Proteção (SPP). É extravagante que um médico veterinário tenha sido designado para dirigir a segurança da USP, mas realmente complicado é imaginar que este cargo e a direção da faculdade possam ser exercidos ao mesmo tempo de maneira satisfatória. Tanto mais quando Visintin ainda acumula o expediente da Prefeitura do Campus do Butantã.
Outro “supergestor” é o professor Waldyr Jorge. Depois de dirigir ao longo de diferentes gestões reitorais a Coordenadoria de Assistência Social (Coseas), atual Superintendência de Assistência Social (SAS), Jorge elegeu-se diretor da Faculdade de Odontologia (FO). Hoje ele acumula a SAS, a direção da FO e, desde novembro de 2014, a Superintendência do Hospital Universitário (HU), que assumiu em plena crise institucional, após a saída de Sandra Grisi.
Questionado pelo Informativo Adusp a respeito do tríplice exercício de cargos, Jorge, que é cirurgião dentista, preferiu responder pela ótica da capacidade e dedicação individuais: “Não sou de fugir das responsabilidades. Se eu dou conta… Tenho condições morais, éticas e profissionais de responder [pelos três cargos]. Continuo dando aulas e operando”.
Atuação desastrosa
Particularmente digno de nota, entre os “supergestores”, é o caso do professor Osvaldo Shiguero Nakao. Ele notabilizou-se por uma atuação desastrosa à frente da Superintendência do Espaço Físico (SEF), especialmente ao longo do primeiro ano da gestão (2014), quando se incompatibilizou totalmente com o movimento de docentes, funcionários e estudantes da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), ao tratar de modo ligeiro e irônico a grave questão ambiental daquele campus.
Depois de declarações totalmente disparatadas que Nakao fez a estudantes, acusando docentes de “manipulação”, a própria Congregação da EACH exigiu da Reitoria sua imediata saída do cargo. Mas, apesar dos protestos, M.A. Zago o manteve na SEF. Mais recentemente, nomeou-o chefe do Gabinete da Reitoria, cargo agora acumulado com o de superintendente do Espaço Físico. Diante de tais demonstrações de prestígio, intriga saber-se que Nakao era também funcionário da USP e que, nessa condição, aderiu ao Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV).
Tais práticas suscitam a impressão de que a USP não tem quadros à altura em número suficiente para preencher seus cargos executivos.
Outro auxiliar do reitor em situação peculiar é o professor José Roberto Drugowich de Felício. Primeiro chefe de gabinete da atual gestão, deixou o cargo em junho, quando M.A. Zago o nomeou para a Superintendência de Assuntos Institucionais. Quando explodiu o novo escândalo da Fundação de Apoio à USP (FUSP), em agosto, o reitor — depois de obter a renúncia do então diretor executivo da entidade, professor José Roberto Cardoso, implicado nas transações denunciadas — investiu Drugowich no principal posto da fundação privada, com a missão declarada de investigar o ocorrido, com transparência.
Aos que estranharem a confusão entre público e privado, vale lembrar que M.A. Zago preside o Conselho Curador da FUSP. Portanto, tanto ele como Drugowich estão incorrendo em conflito de interesses, na medida em que ocupam cargos na USP e na entidade privada, paralelamente. A Reitoria tenta abafar o caso FUSP.
Procurados pelo Informativo Adusp, para que comentassem a questão do acúmulo de cargos, os professores Nakao e Visintin não se manifestaram até o fechamento desta edição.
Informativo nº 410
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