Ato estudantil leva Reitoria a adiar oitivas
Daniel Garcia
Passeata em direção à Procuradoria Disciplinar, na rua Alvarenga

Quinta-feira, 16/5, foi um dia de protestos contra a decisão da Reitoria de processar, com pena prevista de expulsão, mais de 80 estudantes que participaram de ocupações em 2010 e 2011. Um ato iniciado diante da Reitoria, com a palavra franqueada a muitos representantes de entidades estudantis, foi seguido por uma passeata cujo ponto alto foi a manifestação em frente ao prédio da Rua Alvarenga 1416, que sedia a Procuradoria Disciplinar da universidade e se encontrava trancado.

Ao saber que haviam programado protestos para 16/5, data em que os estudantes começariam a depor perante as comissões processantes, a Reitoria decidiu de última hora adiar as oitivas, que seriam realizadas na Procuradoria Disciplinar. “Fiquei sabendo só hoje que os depoimentos seriam cancelados. A Procuradoria enviou e-mail ontem [15/5] à noite. Um professor, membro de comissão processante, não sabia e deu com a cara na porta”, relatou, durante o ato público, um dos estudantes processados.

A atividade de repúdio à criminalização do movimento estudantil foi organizada pelo DCE-Livre da USP e centros acadêmicos, com apoio das entidades do Fórum das Seis, e contou com a participação de centenas de estudantes. À tarde, houve nova manifestação em frente à Reitoria.

Apoios

A Executiva Nacional dos Estudantes de Educação Física, os centros acadêmicos dos cursos de Letras, Filosofia e Comunicação Social (Caell, CAF e Calc), alunos da Fatec, da Unifesp Guarulhos e outros deram seu apoio aos estudantes da USP. Uma manifestação de solidariedade muito aplaudida, lida por um intercambista canadense da FEA, veio de Quebec, onde 165 mil estudantes se encontram em greve. A declaração pede a saída da Polícia Militar do campus do Butantã.

Diante da Reitoria, os estudantes expressaram seu profundo desacordo com as medidas repressivas que a administração vem tomando, cuja finalidade última, apontaram, é a privatização da USP. Por isso o reitor teria sido “escolhido a dedo”, segundo um representante do DCE. “Por uma educação que nos ensine a pensar e não uma educação que nos ensine a obedecer”, a frase pintada em uma das faixas, foi enfatizada pelos oradores. O Regimento de 1972 é um “manual de comportamento”, acrescentou a representante do CAF. 

“Hoje é só uma primeira etapa da luta que estamos travando”, disse uma aluna da Filosofia, lembrando da série de medidas da gestão Rodas com o objetivo de realizar “seu projeto de universidade privada”, citou que  vários membros da diretoria do Sintusp estão ameaçados de demissão, e que os dirigentes da Adusp estão sendo interpelados judicialmente. Ela destacou a necessidade de “unidade do movimento e defesa concreta e objetiva dos companheiros que estão sendo processados”.

Rodas na Alesp?

À tarde, o protesto, organizado também pelo DCE da Unicamp, tomou a forma de um debate. As comissões de Educação e Direitos Humanos da  Assembleia Legislativa acabam de aprovar convites ao reitor João Grandino Rodas. O deputado Carlos Giannazi disse que o reitor terá de explicar os processos que move contra estudantes e funcionários, e lembrou o projeto de lei que institui eleições diretas para reitor nas universidades estaduais: “Queremos uma democracia mais direta, mais participativa, porque o modelo que temos é autoritário, antidemocrático, exclui a ampla maioria do processo”.

Giulia Tadini, diretora do DCE-Livre, mencionou reportagem da revista Carta Capital para enfatizar a falta de democracia da gestão Rodas, pois, segundo a publicação, em dois anos o número de estudantes expulsos na USP “vai se equiparar a um terço de todos os estudantes eliminados em todo o período da Ditadura Militar”.

Bruno Modesto, diretor do DCE da Unicamp, destacou a importância do ato para unificar a luta nas universidades, já que as reitorias se articulam nos bastidores. Diego Machado, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, denunciou que nove funcionários estão sendo processados na instituição: “A gente tem sofrido, assim como aqui na USP, na Unesp, um cenário de diversos ataques. Estamos enfrentando processos administrativos, cíveis e criminais decorrentes da greve de 2010”.

Escalada

Aníbal Cavali, diretor do Sintusp, reconhecendo o cenário atual de criminalização do movimento, enfatizou o entendimento de uma estudante que relativizou a vitória parcial conquistada pela manhã, quando os primeiros depoimentos foram adiados: “Eles podem ficar adiando essas convocações das oitivas para o período de recesso, e como vamos nos mobilizar para fazer qualquer movimento?”

Os docentes foram representados por Valério Arantes, da Faculdade de Educação da Unicamp, e Heloísa Borsari, presidente da Adusp. A professora leu o documento em que o Fórum das Seis manifesta sua solidariedade ao ato estudantil: “As entidades que compõem o Fórum das Seis veem com extrema preocupação a escalada de criminalização dos movimentos sindical e estudantil no interior das universidades estaduais paulistas e do Centro Paula Souza”, assinala o texto. Ela reafirmou o compromisso do Fórum das Seis na defesa da universidade pública e da necessidade de união entre estudantes, funcionários e docentes para reagir aos ataques sofridos pelos três setores.

 

Informativo nº 345

EXPRESSO ADUSP


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