“Ato de Indignação” mobiliza Instituto de Psicologia
Daniel Garcia

Estudantes, professores e funcionários do Instituto de Psicologia da USP (IP), inconformados com a gestão da diretora Emma Otta e com medidas unilaterais arbitrárias que vêm sendo tomadas na unidade, realizaram um Ato de Indignação no dia 7/6, no saguão do Bloco G.

O dia de protesto teve início com um debate sobre democracia na universidade pública e sobre criminalização dos movimentos sociais, coordenado por uma professora do IP e do qual participaram os professores Francisco Miraglia (Instituto de Matemática e Estatística), Pablo Ortellado (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) e o militante social Gegê, do Movimento de Moradia (foto). À tarde, os debates foram retomados e ao final foi realizada uma plenária final, que aprovou diversos encaminhamentos.

“Tomar uma providência aqui contribui com a luta geral por democracia na USP. Não subestimem isso”, destacou o professor Miraglia, que pertence à diretoria do Andes-Sindicato Nacional dos Docentes nas Instituições de Ensino Superior. “Democracia é uma estrutura social que permite que cada um de nós seja sujeito da nossa história. É o que está em jogo no Instituto de Psicologia”.

“É preciso mudar fundamentalmente a USP. Congregações e conselhos não funcionam. O sistema é torto”, afirmou o professor Ortellado. Gegê disse que a Constituição Federal de 1988, que garante uma série de direitos democráticos, foi “anunciada rasgada”, e que o atual Estado democrático é um engodo.

Intimidação

Alunos, funcionários e professores do instituto manifestaram críticas à diretora. Pelo menos três professores foram chamados em oitiva numa comissão de sindicância por terem prestado auxílio a um aluno em surto psicótico. “O medo vem e o medo passa. Estamos vivendo um ambiente de intimidação e de distorções de nossas ações. Isso não pode ficar sem resposta. Estamos nos sentindo feridos na nossa dignidade. Não somos poucos para um ato como o de hoje. E precisamos ser muitos para as tarefas que vão se seguir”, afirmou um dos professores.

Uma professora declarou que, diante das dificuldades para dialogar com a diretora, é preciso protestar e criar alternativas. Os professores ali reunidos acusaram de muitas formas o autoritarismo sofrido. “Não é possível conviver pacificamente, calmamente, harmoniosamente, com o tipo de desmando praticado pela direção do instituto. Para assuntos corriqueiros a Consultoria Jurídica da USP é chamada pela diretora. Tudo é resolvido com extremo formalismo: boletins de ocorrência, pareceres, portarias, combinado com um desejo completamente arbitrário”.

“Há premência de agir, em função da necessidade cada vez maior de participar das decisões e dos destinos do IP, de abrir espaços para pensar”, disse uma professora e acrescentou: “Existe uma cisão entre uma parte da comunidade e os nossos dirigentes formais. Temos sido frequentemente traídos e atingidos por gestos extremamente desleais”.

Vários participantes chamaram atenção para a necessidade de dar continuidade ao movimento. “Este foi um dia, de muitos que virão”, disse uma funcionária. “Vai haver retaliação. Vamos precisar de muita energia, muita fidelidade a este momento”. Uma aluna destacou a importância do engajamento das diferentes categorias nas entidades representativas: centro acadêmico, Adusp e Sintusp.

Gestão fechada

Desde 2009, por ocasião da invasão da tropa de choque na USP e confecção de carta de apoio irrestrito à então reitora Suely Vilela e à entrada e ação da tropa de choque no campus (vide Informativo Adusp 288 e 289), a diretora do IP vem realizando uma gestão fechada, avessa ao diálogo e privatista.

Exemplo emblemático da linha adotada foi a instalação de catracas na entrada da maioria dos blocos, sob a alegação de que a unidade requer mais segurança, embora a maior parte dos incidentes dessa natureza (assaltos e sequestros-relâmpago) tenha ocorrido fora dos blocos. As catracas foram compradas com rapidez, fixadas no chão, mas sem definição de uma política de uso. “Catraca para quem? Quem tem direito a entrar e sair? Quem não tem?”, questionam docentes do IP.

Uma estudante lembrou, no Ato de Indignação, que o centro acadêmico promoveu uma pesquisa sobre as catracas, amplamente rejeitadas: dos 180 consultados, 91% se disseram contrários à instalação do equipamento. “Mesmo tendo levado a pesquisa para a diretoria, no final fomos atropelados”, contou ela.

Prioridades

A questão das prioridades na aplicação dos recursos à disposição da unidade também é apontada em documentos: “Há banheiros no bloco de aulas sem manutenção constante e falta bebedouro para os estudantes. Mas há projetos paisagísticos em frente ao bloco G (da administração) e aquários em alguns blocos”. No ato, um estudante revelou que a solicitação de conserto de um ventilador, feita por escrito, só foi atendida um ano e meio depois.

Outro problema é o sigilo burocrático, pois, no IP, o acesso a documentos públicos de órgãos colegiados exige “uma peregrinação e pedido de autorização para a diretoria decidir pela liberação ou não do que considerar pertinente”.

Por fim, mas não menos importante, a diretora Emma Otta tem privilegiado o tratamento jurídico de acontecimentos ligados a saúde mental, o que facilmente prepara sua criminalização. Aciona a Guarda Universitária mais que os médicos e os professores. Faz corriqueiramente lavrar boletins de ocorrência. “Tem ocorrido uma criminalização do sofrimento psíquico. Nós, primeiro que todos, não deveríamos agir dessa forma”, resumiu uma professora.

O Informativo Adusp enviou perguntas à professora Emma Otta sobre a crise no IP. Até o fechamento desta edição não recebemos respostas da diretora.

Fórum

A plenária de encerramento aprovou as seguintes decisões:

  1. Elaboração de texto-síntese sobre o Ato de Indignação que será apreciado em um Fórum da Comunidade (que reunirá estudantes, funcionários e professores do IP) e, posteriomente, divulgado aos conselhos de departamento e aos estudantes (graduação e pós-graduação), funcionários e professores do instituto;
  2. Realização desse Fórum ainda em junho (data a definir) para apreciar e encaminhar o conjunto de propostas levantadas;
  3. Solicitação aos membros do CTA e da Congregação do envio das pautas a todos os seus integrantes com uma semana de antecedência; e de que tornem públicas as atas de suas reuniões;
  4. Realização de festa junina conjunta, em espaço aberto do instituto.

Informativo nº 327

EXPRESSO ADUSP


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