“Resposta da diretora é superficial e evasiva”

Organizadores do Ato de Indignação contestam a professora Emma Otta

Ato de Indignação realizado em 7/6 no Bloco G

O fato de a diretora do Instituto de Psicologia, professora Emma Otta, haver tornado públicas, na página eletrônica da unidade, as respostas às perguntas que lhe foram enviadas pelo Informativo Adusp, levou o Coletivo do Ato de Indignação de 7/6 a formular o texto abaixo que, além de contestar aquelas respostas, defende o direito de debate público das questões que envolvem o IP, como reação legítima à ausência de diálogo.

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A resposta da diretora Emma Otta ao Informativo Adusp não surpreende: retrata a modalidade de comunicação que se estabeleceu no IP-USP em sua gestão: problemas complexos e históricos são tratados como fatos isolados e fragmentados a serem analisados como temas de ordem jurídica.

O Ato de Indignação no IP, ocorrido em 7/6/11, foi realizado por um grupo significativo de nossos estudantes, professores e funcionários, inconformados com um certo modo de conduzir os assuntos institucionais, cada vez mais fechado à participação, ao diálogo e ao pensamento. Agir, protestar, chamar atenção para esses episódios é também uma maneira de cuidar do IP, assegurando a manifestação de posições e ideias dignas de consideração.

O debate de tais questões em um espaço público foi também uma resposta ao ideário corrente de que caberia a nós o papel de coadjuvantes e de espectadores nos processos decisórios que vinham e vêm acontecendo no âmbito restrito dos colegiados e da direção. Reivindicamos destas instâncias reconhecimento e a interlocução com diversos coletivos que vêm trabalhando sobre os temas de interesse da comunidade. A denúncia da ausência de diálogo, da deslegitimação dos coletivos como interlocutores dignos, do apagamento dos conflitos existentes, da alienação e pobreza de decisões tomadas por exame só jurídico e unilateral, do esvaziamento do debate político pela supremacia do raciocínio tecnicista, da valorização autoritária da lógica gerencial e do ataque aos princípios democráticos da universidade pública, deu-se com intenção de preservar a diversidade de debates teóricos, metodológicos e políticos que constituem a ideia mesma de universidade.

Distorções

Cada ponto debatido no ato de indignação — organograma, papel dos psicólogos e o CAP, atitudes autoritárias, criminalização de episódios concernentes à saúde mental, banheiros, bebedouros, catracas e outros — era mais um exemplo e um meio para a discussão alargada e não um problema isolado. Ao abordá-los, questionamos certo modo de tomada de decisões no IP: votações em bloco, pouco tempo para discussão, uso reiterado de argumentos de urgência para aprovação acelerada das propostas oficiais.

Algumas distorções precisam ser corrigidas. Sobre as catracas, trata-se de medida incoerente, pois só limita acesso aos prédios públicos, tornando-os locais restritos para pessoas autorizadas, enquanto os sequestros/roubos citados para implementá-la ocorreram externamente aos prédios. O apoio à medida baseou-se em pesquisa de opinião e cálculos muito questionáveis. Desconsiderou ainda um abaixo-assinado contra as catracas, com grande número de assinaturas, e uma proposta de construção coletiva de uma política de segurança, acordada na mesa-redonda sobre segurança citada pela diretora, e apresentada à Congregação.

De maior gravidade é a postura da diretora em relação ao atendimento médico e psicopedagógico de um aluno. O docente, isoladamente acusado pela diretora de ter impedido atendimento de socorro ao estudante, foi o mesmo que fez parte do grupo que, naquela tarde: a) acompanhou-o na ambulância (SAMU) até o Pronto Socorro da Lapa; b) conversou com o psiquiatra de plantão sobre o episódio; c) providenciou o telefone dos pais do estudante. O docente reportou-se à diretora no dia seguinte, para inteirá-la daqueles passos, e auxiliou a família na escolha de uma boa clínica de internação. Esse mesmo professor, membro suplente da Comissão de Graduação do IP, veio a integrar um grupo de tutoria aprovado pela CG, cujo objetivo é realizar encontros semanais com o estudante, encontros mensais com seus pais e o acompanhamento de todas as consultas psiquiátricas no HU. A mediação dos três professores tutores tem sido ativamente aproveitada pelo médico do HU, dedicado ao estudante, e pela assistente social, ambos oficialmente autorizados para o caso.

Tratamento calunioso

As afirmações da diretora envolvem mal-entendidos e percepção distorcida das ações do docente. Nas suas respostas à Adusp, o tratamento calunioso que reservou ao professor é um sinal do que pode ser produzido também contra o estudante e com consequências funestas. O parecer jurídico obtido pela diretora afirma que, devido ao trancamento da matrícula do estudante, a tutoria é sem fundamento normativo; mas não afirma que seja ilegal, nem impede que o acompanhamento ao aluno continue. Abandoná-lo ou tratá-lo como caso de polícia seria desrespeitar princípios de direitos humanos.

Por último, não é possível rebater as questões de priorização dos gastos de recursos financeiros, pois as atas públicas não são divulgadas. Uma postura realmente democrática já teria enfrentado essa questão, não sendo necessário, a cada reunião de CTA e Congregação, realizarmos uma verdadeira mobilização por informações, pautas, documentos e consultas a estudantes, professores e funcionários para defesas de última hora do interesse coletivo.

Nosso ato reacendeu a ocupação do espaço público, visando os princípios de democracia e transparência nos propósitos e na condução das ações implementadas no IPUSP.

Coletivo do Ato de Indignação no IP

 

Informativo n° 328

EXPRESSO ADUSP


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