Na reunião do Conselho Universitário (Co) de 25/9, que teve como ponto de pauta as cotas sociais e raciais para acesso à universidade, o reitor Grandino Rodas comprometeu-se a criar uma comissão responsável por elaborar um modelo de seminário para a discussão do tema nas unidades da USP.

A nota da Reitoria diz que “dentre as sugestões apresentadas pelos conselheiros e pelos convidados externos presentes à reunião, houve consenso quanto à promoção de amplo debate sobre inclusão social na USP nos órgãos centrais e nas Unidades de Ensino e Pesquisa, bem como a realização de um grande seminário, em que a questão da inclusão social será discutida com maior profundidade e detalhamento com a comunidade universitária”. Desta forma, a questão étnica, aspecto fundamental da discussão, não aparece na versão oficial da reunião.

“Todos desejam uma grande discussão a respeito [das cotas] e muitas vezes a discussão muda o modo de pensar. Universidade é local para discutir e chegar a soluções”, disse o reitor. Ele afirmou que órgãos centrais não podem determinar o que deve ser abordado nas unidades, mas podem suscitar o debate de temas importantes. “Haverá um documento expedido sobre o assunto, mas não gostaria fazer isso sozinho. Nós vamos levantar sugestões de mérito presentes nas falas de hoje e fazer um convite para que se desenhe um seminário em conjunto”.

Segundo Rodas, a ideia é que o grupo encarregado de formular o seminário seja designado entre sete e dez dias após a reunião. A funcionária da USP Jupiara Gonçalves de Castro, o jornalista e professor de educação básica Luiz Carlos dos Santos e o advogado e professor universitário Silvio Luiz de Almeida foram convidados a participar das elaborações finais do modelo de seminário. Os dois primeiros são fundadores do Núcleo de Consciência Negra (NCN) que atua na USP e, com Almeida, participaram da reunião como convidados para defender e esclarecer aspectos centrais da necessidade de cotas sociais e raciais na universidade.

“Propomos fazer um grande seminário sobre cotas na universidade”, disse Jupiara, dando abertura para a proposta que foi defendida e, depois, encaminhada à mesa pelos representantes discentes (RD) presentes na reunião. O texto sugeriu um calendário unificado para o debate de cotas no Co; a formação de uma comissão com a participação de docentes, discentes, funcionários e um membro do NCN para a organização de seminários sobre cotas nas unidades, culminando em um grande seminário sobre o tema na USP.

O encaminhamento do reitor atende parte do que foi pedido pelos alunos. Os RD e membros da Frente Pró-cotas da USP estão se articulando para buscar representatividade paritária na comissão a ser criada. 

Pouco acúmulo

A pró-reitora de Graduação, professora Telma Zorn, apresentou dados do Programa de Inclusão Social (Inclusp) e da Fuvest. Recortes sociais e raciais foram mostrados. “Este ano, as matrículas de estudantes negros na universidade representaram 14% do total de vagas oferecidas. Isso é o dobro do que tínhamos em 2000”, afirmou a professora, buscando mostrar efeitos positivos do Inclusp.

“Na Poli, hoje, temos uma divisão de 70% de matriculados brancos e 30% de não brancos, divididos entre negros e indígenas. O lamentável é que são poucos os inscritos negros e pardos no vestibular”, completou a pró-reitora de Graduação. Apesar de não mencionado na reunião, as atuais proporções de negros na USP não refletem o perfil da população do Estado de São Paulo, que tem 34,6% de pretos e pardos.

Algumas intervenções de professores contra as ações afirmativas evidenciaram, no mínimo, falta de acúmulo de discussão sobre o tema, causando certo constrangimento. “No Brasil, o modelo do racismo é cordial. Nossos amigos convidados a falar aqui hoje [Jupiara, Silvio e Luis Carlos — os três, negros] foram tratados normalmente, como um de nós”, disse Luiz Roberto Britto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB). Na sua fala, o racismo “cordial” foi utilizado para questionar a viabilidade, no Brasil, de ações afirmativas como as que existem nos Estados Unidos. “Mas acho que é possível um dia combinar o Inclusp com cotas raciais”, concedeu Britto. 

Em suas falas, Britto e o professor José Roberto Cardoso, diretor da Poli, manifestaram-se contrariamente aos discursos pró-cotas feitos pelos convidados. Para Cardoso, a política de cotas “revela uma falta de compreensão completa do papel que as instituições de ensino superior representam” e é “um retrocesso”.

Como resposta a esse tipo de comentário, a professora Vera Silva Facciola Paiva, do Instituto de Psicologia (IP), disse, em fala aberta a favor das cotas, que “muitos [docentes] teriam vergonha do que falaram na reunião”.

A inserção do tema e a participação dos convidados na reunião de 25/9 do Co atendeu a um pedido da Frente Pró-Cotas Raciais do Estado de São Paulo. Sabendo da possível inclusão do tema na pauta do Co, no dia 15/8 a Frente existente na USP protocolou na Reitoria uma proposta de resolução para a criação de um Programa de Ações Afirmativas na universidade. A ideia era debater o documento na última reunião, porém não houve resposta. A RD Maria Fernanda Silva Pinto, da pós-graduação, pediu esclarecimentos quanto à questão, mas a solicitação não foi respondida.

 

Informativo nº 352

EXPRESSO ADUSP


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