Hélio Nogueira da Cruz, 64 anos, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e atual vice-reitor da USP 

Informativo Adusp. Por que e quando decidiu pela candidatura como reitor?

CRUZ. Formalizei minha candidatura a Reitor em 15/08/2013, ao entregar meu termo de impedimento das funções da Vice-Reitoria. Meu nome já vinha sendo lembrado há vários anos e, como Vice-Reitor, era considerado candidato natural pela comunidade.

Sou professor da USP há 40 anos e dediquei boa parte do tempo dos últimos 18 anos à gestão central da Universidade. Por isso encaro como meu dever empregar essa experiência para continuar dando essa contribuição, agora na posição de Reitor.

Não se trata de um simples desejo, mas de um compromisso com parcela expressiva da comunidade para a realização dos objetivos de crescimento, aprimoramento e valorização da USP, adotados no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI). Pela primeira vez, a USP estabelece uma visão de futuro baseada em estudos, debates e criação de consenso, trabalho este que tive a honra de conduzir como presidente da Comissão Permanente de Avaliação – CPA, e que envolveu a participação de todas as Unidades e Departamentos. Trata-se de uma experiência extraordinária de atuação democrática com a qual, se eleito, pretendo marcar minha gestão.

Informativo Adusp. Há especulações de que o atual reitor, Grandino Rodas, será o seu vice na chapa. Isso confere? Se sim, por que e quando fizeram essa opção?

CRUZ. Há a alguns meses foi aventada a possibilidade do Prof. Grandino Rodas apresentar-se como candidato a Vice-Reitor. As eleições de Reitor e Vice-Reitor ocorrem em momentos distintos e não há formação de chapas. Esta candidatura está afastada desde a entrevista concedida pelo atual Reitor ao jornal Valor Econômico de 23/07/2013.

Informativo Adusp. O que dizer sobre o quadro de disputa até o momento?

CRUZ. Pelo que tenho conhecimento, apenas o Prof. Cardoso anunciou publicamente sua candidatura. Todos os mencionados são pessoas reconhecidas na Universidade. Os professores Vahan e Zago são colegas que ocupam altas posições da gestão do Prof. Grandino Rodas, e o Prof. Cardoso dirige uma tradicional Unidade da USP. Entretanto, o processo eleitoral apenas se inicia.

Informativo Adusp. Quais serão seus principais eixos de proposta durante a campanha? Algo significativamente diferente da atual gestão? Algo que responda a alguma crítica pontual à atual gestão?

CRUZ. Como disse, o principal compromisso da candidatura é a realização dos objetivos que obtiveram consenso no PDI. Os principais eixos da proposta do PDI são a ampliação criteriosa das atividades-fim da USP, sempre buscando níveis de excelência mais elevados. Os recursos financeiros resultantes do provável crescimento futuro do ICMS, repassado à USP, permitirão a ampliação da nossa Universidade em cerca de pouco mais de 1% ao ano, na forma de aumento das vagas da graduação, de títulos outorgados na pós-graduação, de produção científica e das atividades de cultura e extensão – cursos, exposições, visitantes aos museus, atendimentos de saúde, etc. A crescente utilização das novas tecnologias para o avanço da cultura, da pesquisa e do ensino, são indispensáveis para que a USP mantenha seu papel de liderança acadêmica.

A forte ampliação da inclusão social que será promovida pela USP, para atender às metas do PIMESP, contará com expressivo aumento do apoio às necessidades dos nossos alunos tanto para facilitar o acesso como para oferecer condições de permanência.

Os esforços de internacionalização exigem novos patamares de atuação que serão promovidos em parceria com instituições de renome internacional para estimular a pesquisa, o intercâmbio de pessoas e a troca de experiências didáticas.

O equilíbrio econômico-financeiro, garantia da autonomia e das possibilidades de atuação estratégica, tem que ser assegurado. Impõe-se a continuidade do desenvolvimento de projetos de infraestrutura, assim como o aperfeiçoamento das carreiras dos docentes e dos servidores técnicos e administrativos. A gestão deverá ser aprimorada com a diminuição da burocracia e o aumento da flexibilidade e da descentralização. Os professores terão maior apoio para que dediquem mais tempo às atividades acadêmicas.

Uma importante lição do processo de formação de consenso no PDI foi constatar a necessidade de ouvir diversas concepções e a manifestação de distintos interesses na USP real, isto é, aquela que estuda, pesquisa e ensina nas Unidades e Departamentos. Também ficou claro que a complexidade da USP exige diversidade de conceitos e de opções, daí a vantagem de formular e adotar políticas próprias para realidades específicas. Para dar um exemplo, entendo que devem existir debates para formulação de uma política de valorização das humanidades.

Nossas propostas, que podem ser entendidas como novas etapas do longo trabalho de aprimoramento da USP, enfatizam o fortalecimento do Conselho Universitário e o esforço de implementar o modelo de planejamento consensual do PDI.

Informativo Adusp. Qual a sua avaliação da atual gestão? A seu ver, já é possível fazer algum balanço?

CRUZ. A gestão do Prof. Grandino Rodas apresenta resultados expressivos. Com relação às atividades acadêmicas destacamos: a adoção do Plano Institucional da Universidade de São Paulo, previsto no regime de metas do PIMESP na forma aprovada pelo Conselho Universitário em 02/07/2013, preserva nossa autonomia acadêmica e segue nossa tradição de valorizar o mérito. Ocorreram grandes investimentos nas áreas da pesquisa, de cultura e extensão, e de graduação que impactaram fortemente as áreas-fim da universidade e deverão promover saltos de qualidade no futuro. As mudanças de caráter institucional, como a do Regimento da Pós-Graduação e da Avaliação Institucional, com a construção do PDI, geraram novos estímulos ao avanço da Universidade. O estabelecimento da USP em Santos e o fortalecimento de todos os campi, notadamente os mais novos, como Lorena e USP Leste, também são resultados expressivos. Além desses, merecem destaque os grandes investimentos de infraestrutura para atender a comunidade como os realizados nos Museus, especialmente o de Arqueologia e Etnologia e na preservação dos acervos e da criação da Tenda Cultural Ortega Y Gasset; Hospitais, como o HU, HRAC e o Hospital Veterinário; Centros de Convenções dos campi de São Paulo, São Carlos, Piracicaba, Ribeirão Preto; Centro de Difusão Internacional; novo padrão de iluminação dos campi; computação em nuvem, ao mesmo tempo em que houve apoio às melhorias nas Unidades. Ocorreram expressivos avanços no que diz respeito às condições de permanência e formação estudantil, com o aumento do valor e do número de apoios concedidos. A internacionalização deu grande salto, que se manifesta, inclusive, na criação das bolsas de graduação internacional e na ampliação do número de professores visitantes. Houve valorização das carreiras dos docentes, com a progressão horizontal, e dos servidores técnicos e administrativos. A implantação dos benefícios – vales alimentação e refeição foi muito bem recebida. Foram equacionados passivos acumulados no passado, como a questão do “Gatilho”. Muitos destes projetos foram implantados e outros estão em fase de finalização, exigindo a continuidade de investimentos substanciais.

Informativo Adusp. O que achou, por exemplo, das mudanças no Inclusp?

CRUZ. Os significativos avanços do Inclusp constituem-se em uma das principais decisões acadêmicas da USP em muitos anos. Os crescentes desafios de maior inclusão social, tanto do ponto de vista dos alunos carentes oriundos de escolas públicas, como das minorias étnicas, exigem respostas de grande alcance, que foram oferecidas pelo Conselho Universitário, em sessão de 02/07/2013.

A concepção do projeto da USP valoriza o mérito e fortalece nossa autonomia acadêmica, apresentando-se como uma resposta da nossa Universidade às demandas sociais. A solução adotada, após minuciosos estudos e amplo debate, estabelece um caminho de inclusão social que será constantemente avaliado, para calibrar os estímulos – valor do bônus, etc. – num processo evolutivo que será implementado até 2018, para alcançar as metas estabelecidas. Sou bastante otimista com os resultados a serem alcançados.

Por outro lado, para receber um maior número de alunos da rede pública e com o perfil étnico diversificado, exigem-se muitas outras medidas complementares aos estímulos do vestibular, tais como a melhor preparação dos estudantes, o ensino à distância e os cursinhos pré-universitários gratuitos oferecidos por várias unidades.

A melhor divulgação, para facilitar o acesso à USP, como os projetos “USP e as Profissões” e “Embaixadores USP”, também devem receber atenção. Além disso, a entrada de maior número de alunos que necessitam de apoio socioeconômico, demandará a ampliação do programa de apoio e formação estudantil e também a melhoria das condições de transporte e mobilidade. Trata-se de uma grande e estimulante tarefa.

Informativo Adusp. Qual é sua opinião sobre a emenda ao Estatuto da USP apresentada por Adusp, DCE e APG à Reitoria, solicitando ao Co a incorporação da consulta direta e paritária de reitor ao documento?

CRUZ. A reforma da chamada “estrutura de poder”, com seus desdobramentos para a escolha dos dirigentes, não está suficientemente madura. Há um forte consenso sobre a necessidade de mudança, para tornar a estrutura de poder mais democrática e representativa. Mas não há consenso – ao contrário, há profundas divisões – quanto à expressão concreta de um formato de eleição verdadeiramente representativo e democrático. Por outro lado, convém observar que a conjunção de uma reforma dessa amplitude com a proximidade de uma eleição para o mais alto cargo de direção da Universidade não facilita a obtenção de consenso.

Caso não seja possível equacionar a questão da estrutura de poder ainda neste ano, é indispensável que em 2014 alcancemos êxito na definição da nova estrutura. Trata-se de tema de extraordinária envergadura e, assim como na elaboração do PDI, exige-se a construção de soluções de forma democrática, com o devido tempo de debate.

 

EXPRESSO ADUSP


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